Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Olhos de prisma

IMPRENSA FEMININA

Grace Spínola (*)

Blushs, batons, sombras, pós, cremes, esmaltes, roupas, dietas e sexo. É automático. Quando pensamos em revista feminina logo nos vem à mente moda e homens. Como passar a sombra corretamente, o melhor rímel, o gloss perfeito, a maquiagem ideal, a roupa certa e, claro, como dar e receber mais prazer são algumas das matérias de capa. Apesar de todas as banalidades envolvidas, essas revistas fornecem uma dose de auto-estima e encorajamento que muitas vezes a sociedade nega às mulheres.

Sempre fui muito crítica quanto às revistas femininas, mas confesso que por um bom tempo fui assinante da Capricho; noutro não vivia sem a Carícia. Minha mente pequena e inocente não entendia certas palavras e posições ali vistas. Na realidade só procurava frases e adesivos para serem colados em minha agenda.

Mas a vida ensina que é preciso um pouco de malícia para sobreviver e meu primeiro contato, depois dessa descoberta, fez com que eu visse tais revistas como antros de pornografia juvenil que a sociedade abraçava calorosamente. Um nojo.

Dizem que a primeira impressão é a que fica. Ficou. Meu preconceito não permitiria que as olhasse sobre outra perspectiva, só as via como lixo. Mas como “pesquisadora científica”, vulgo estudante, aprendi que é preciso renunciar meus conceitos para poder ver sob uma nova ótica. Quando, depois de analisar com cautela a capa, pude perceber que nem tudo é rude.

A edição de fevereiro de 2003 de Cláudia traz matérias bem interessantes ? a saber, uma sobre nutrição, outra de educação infantil e esportes adequados para cada idade, a evolução da criança e as características de cada fase e ainda outra sobre postura corporal correta. Incrível? Realmente surpreendente. E não é só isso.

Encontrei na Nova, também de fevereiro deste ano, um teste de como perseverar até o fim para alcançar seus objetivos, uma matéria indicando lugares para se fazer doações, uma sobre como ter sucesso na carreira profissional e outra sobre a pós-graduação como elemento para um bom currículo. Essas matérias existem. E estão lá. Nem só de banalidades vivem as revistas para o “sexo frágil”.

Por muitas vezes a sociedade passa despercebida pelas necessidades femininas. Precisamos de carinho, atenção, forças e elogios que, se não encontrados no dia-a-dia, serão buscados na artificialidade, no romantismo compulsivo, na vaidade neurótica. Por mais que tais revistas sejam criticadas por seu vocabulário e vulgaridade, as mesmas preenchem as lacunas da invisibilidade.

Seja por pessoas, sentimentos ou até mesmo bens materiais, o preconceito cria uma barreira incapaz de nos deixar ver por um novo ângulo. São pessoas extraordinárias, sentimentos incríveis e materiais funcionais que perdemos por ver apenas um lado. Pessoas inteligentes olham por prismas; burros e cavalos dominados é que precisam de visão unilateral.

(*) Aluna do 3.? ano de Jornalismo do Centro Universitário Adventista (Unasp) e articulista da revista Canal da Imprensa <www.canaldaimprensa.com.br>