VASOS COMUNICANTES
Uma publicação que, a esta altura, ainda leva a sério os raelianos corre o risco de não ser levada a sério. IstoÉ desperdiça quase seis páginas da presente edição (19/3, págs. 56-61) ? com chamada na capa e foto destacada no sumário ? para comunicar em sensacional furo e exclusividade mundial que vai chegar ao o picareta Raël, codinome do espertalhão francês Claude Vorilhon. Na entrevista, o personagem é tratado como Sua Santidade, aparentemente, para atender as exigências da empresa de relações públicas que cuida da sua imagem.
Uma revista séria não pode, sob hipótese alguma, ceder a uma exigência desta natureza. Nem pode impor-se perante os leitores como publicação respeitável ao abdicar completamente do seu senso crítico. Quando um idiota como o tal Raël afirma que "Moisés não falou com Deus mas com um Elohim", qualquer estagiário de jornalismo sentir-se-ia obrigado a consultar algum especialista em teologia (de qualquer religião).
IstoÉ não o fez e, mais ainda, colocou a afirmação em grande destaque. Não importa se Moisés falou com Deus pelo celular, por tambor ou ao vivo: Elohim é um dos nomes de Deus (plural de El), a revelação é completamente estapafúrdia.
Como é que se pode afirmar que "a visita [ao Brasil] desperta curiosidade" se no corpo da matéria está dito que há apenas 300 raelianos no Brasil? Foi para eles que se desperdiçou tanto papel e dinheiro?
Os novos e velhos acionistas da Editora Três precisam saber que picaretagens como essas comprometem o trabalho sério e responsável dos demais jornalistas, sobretudo da área política. Se na página 30, aparecem gravíssimas acusações ao filho do senador ACM no caso dos grampos baianos, 26 páginas adiante este esforço investigativo fica contaminado pelo lixo raeliano.