MAIS! E MENOS
O caderno dominical da Folha é uma das boas experiências do jornalismo cultural e de idéias. Mas na edição de 9/3, na rubrica "+Ciência" chutou em alto estilo ao esquecer os preceitos do bom jornalismo e da boa ciência.
A matéria "A crise dos 100 anos" (págs.20-21) sobre o centenário da aviação, a partir do título assume como verdadeira uma premissa insuficientemente discutida nos parágrafos seguintes. Segundo a matéria a experiência (secreta) dos irmãos Wright em 1903 invalida a demonstração pública de Santos Dumont, em 1906.
Afirma categoricamente a Folha:
"…embora ninguém mais questione o fato de os americanos terem voado primeiro, ainda há no Brasil quem considere a versão ?americana? da história ligeiramente distorcida [itálicos nossos] em favor dos aviadores ianques…."
Mais adiante:
"…para os historiadores, a discussão sobre quem inventou o avião nem se coloca…".
A verdade é que há gente muito séria questionando a primazia dos irmãos Wright. E se a matéria original sobre a qual baseou-se o artigo do Mais! citava apenas fontes dos EUA, cabia ouvir o lado europeu e brasileiro.
Não se trata de patriotismo em favor de Santos Dumont, trata-se apenas de aplicar ao jornalismo dito científico os métodos jornalísticos e os procedimentos científicos que exigem objetividade, isenção, comprovação, rigor e a busca do contraditório.
Na abertura da matéria percebe-se um esforço para equilibrar o veredicto com algumas colheres de chá ao "humanista" Santo Dumont. Mas, em seguida, assume-se um decidido e peremptório tom pró-Wright.
Se é para comemorar o centenário da aviação ainda neste ano, conviria que até 17 de dezembro os cadernos de ciência & afins desenvolvessem pesquisas mais cautelosas e evitassem sentenças menos temerárias.