Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pesquisa toma o pulso do preconceito

MÍDIA &
HOMOSSEXUALIDADE

Josean Rego (*)

Fico imaginando: o que se passa na cabeça de certos produtores de televisão? Há brincadeiras em quadros conhecidos como “pegadinhas”: pessoas são abordadas nas ruas de movimento intenso e recebem propostas de todo tipo. Freqüentemente têm sua sexualidade colocada em dúvida. Sexualidade!? Por que será que há tanto interesse na sexualidade alheia? Talvez pelo fato de que, por natureza, o ser humano seja curioso e esteja sempre à procura de novidades que possam ser exploradas. Até aí tudo bem. Bem!?

Nas “pegadinhas”, fico preocupado com o prejuízo psicossocial que tais brincadeiras ? que costumam dar ibope ? provocam. Será que fomentam a discriminação? Essa discussão sobre o que é preconceito, discriminação e homofobia soa muito confusa. Ou será que nos confundem? No dia 10 de março a RedeTV! levou ao ar mais uma de suas pegadinhas de temática homossexual, que julgava desaparecidas de sua grade desde o protesto promovido pela Parada do Orgulho GLBT (gueis, lésbicas, bissexuais e transgêneros) de São Paulo, em frente à emissora, no dia 31 de janeiro deste ano.

O programa Eu vi na TV, apresentado por João Kleber no horário nobre, levou dois homens à beira de um lago, provavelmente em São Paulo, onde várias pessoas fazem sua caminhada: a dupla parava todos os homens que por ali caminhavam e diziam que a pessoa abordada ganhara uma corrida de competidores gueis.

Um dos atores usava um martelo plástico para, incansavelmente, bater no cidadão abordado, enquanto o outro colocava em volta de seu pescoço um colar colorido. A brincadeira era um questionamento à sexualidade alheia.

O limite entre brincadeira saudável e desrespeito é uma linha tênue. Por ser tão frágil, essa “linha” pode vir a arrebentar e desencadear processos desagradáveis tanto no objeto da “brincadeira” quanto nos espectadores, sejam heterossexuais ou homossexuais. Entre os heterossexuais preconceituosos, valores heterossexuais poderão estar sendo potencializados. Quanto ao homossexual, como se comportará? Vai rir daquilo que vivencia, sabendo que é motivo de chacota dos segmentos conservadores da sociedade, ou vai à luta reivindicar seus direitos?

O que assusta mesmo é o preconceito. Aliás, que fique bem claro, quando me refiro ao preconceito quero dizer prejulgamento. É quando se tiram conclusões apressadas de determinados fatos sem, ao menos, procurar seus fundamentos. É necessário saber que há uma razão de ser para tudo.

Blog“Carta Queer”

O que gera o conflito? O que justifica um acontecimento? Esse instigar ? procurar compreender ? deveria ser provocado nas pessoas. O ser humano não pode simplesmente “engolir” as coisas. Não podemos deixar que os opressores determinem nossa maneira de viver. Lógico, não se pode perder de vista os valores éticos e morais. Vivemos em sociedade.

Numa conversa sobre esses temas, em que sempre defendo a liberdade e a pluralidade sexual, um interlocutor reagiu: “Mas eu não sou preconceituoso!” Ora, a palavra preconceituoso quer dizer, apenas, que existe um preconceito. Mas a palavra se tornou tão pejorativa que as pessoas não gostam do rótulo.

Essas e tantas outras questões provocaram o tema de minha monografia: GLBTs (gueis, lésbicas, bissexuais e transgêneros) na mídia impressa brasileira. Percebi que há um tratamento mais justo na mídia impressa do que na televisiva. O produto de mídia selecionado, para fazer tal estudo, é a revista G Magazine, dirigida ao público GLBT.

Acredito, porém, que tal estudo não deva ser unilateral, a sociedade precisa participar. Pensei na maneira mais acessível, para mim ou para eventuais participantes. Portanto, criei um blog, uma espécie de diário virtual e eletrônico, que o internauta pode acessar de qualquer lugar do planeta.

No blog “Carta Queer” <www.cartaqueer.blogger.com.br> exponho as leituras que faço para o trabalho e deixo espaço para os comentários dos visitantes. O nome “Carta Queer” é referência às cartas que a revista G Magazine recebe de seus leitores. palavra inglesa queer significa estranho, diferente, e é comumente usada nos Estados Unidos e na Europa para designar gueis e lésbicas. Espero, com este trabalho, estar dando uma parcela de contribuição para a construção de uma sociedade mais humana e plural.

(*) Estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima