GOVERNO LULA
“Kotscho diz que houve mal-entendidos em palestra”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 3/04/03
“O secretário de Imprensa do Planalto, Ricardo Kotscho, esclareceu nesta quinta-feira (03/04) que, na palestra realizada dia 31/03 em Belo Horizonte, na Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, sobre a política oficial em relação à mídia, houve alguns mal-entendidos quanto a algumas das informações que prestou.
Dentre estes equívocos, ele destaca o fato de alguns jornais – e mesmo este site – ter informado que ele teria dito que tinha ?um grande peso político? junto ao presidente da República, por encontrar-se com ele todos os dias. ?Realmente reúno-me com o presidente diariamente, como a maioria de seus assessores. Mas isto nada tem a ver com peso político, expressão que não utilizei e que deve ter sido mal interpretada por alguns jornalistas presentes à palestra?, explicou.
Kotscho informou ainda, a respeito do programa de rádio como foi noticiado por alguns órgãos de Comunicação mineiros, de que o presidente vai participar pessoalmente, que a iniciativa não se concretizará em tão curto espaço de tempo, como foi noticiado, mas sim dentro de algumas semanas.”
“FHC aos petistas: ?Agüentem as pedradas?”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/04/03
“O conselho do ex-presidente Fernando Henrique aos que passaram da condição de estilingue à de vidraça – ou seja, ao governo petista que o sucedeu – é o de ?agüentarem as pedradas sem se exasperar. E que reflitam sobre o que fizeram os que antes foram vidraças?. Isso, acrescenta ele, ?não para deixar de criticá-los, sendo cabível, mas para serem mais equilibrados nas críticas ao passado?.
Em entrevista ao Estado, sobre a retomada de suas atividades intelectuais e as relacionadas a diferentes aspectos de sua experiência no poder, o ex-presidente, bem-humorado, se declara ?no ponto?. Pronto para enfrentar, entre outros desafios, o capítulo mais desagradável das ciências políticas – o relativo à função eventual de saco de pancadas. ?Sinto-me mais cômodo, nesta área, distribuindo do que recebendo pancadas?.
É com a mesma veia espirituosa que ele, na pele do simples cidadão, sem a logística protetora do poder, encara as inconveniências da chamada sociologia do cotidiano – como carregar malas e embrulhos, meter a mão no bolso e ter paciência com os chatos. ?Quem precisa ter paciência com os chatos, em alta dose, é o presidente?, reconhece ele, com o alívio de quem se livrou da embaraçosa categoria.
Sobre um eventual retorno à Presidência da República, Fernando Henrique não hesita: garante que já deu sua contribuição e prefere, agora, limitar sua participação política ao debate público.
Estado – Seria maior, hoje, o peso da mídia na tomada de decisões, ante o sentido de urgência imprimido à informação pelos meios eletrônicos?
FHC – A mídia faz parte do sistema de demandas e, como estas nem sempre são atendidas, ela cumpre então outra função social – a da cobrança. A mídia hoje está no centro da política. É preciso saber lidar com ela, sem imaginar que é possível manipulá-la. E tendo muita ?escuta?.
Estado – Em seu livro ?Coeur à l?ouvrage?, o ex-primeiro ministro francês e seu amigo, Michel Rocard, afirma que, no mundo atual, o poder da mídia é maior do que o da política…
FHC – Não sei se é maior. A mídia faz parte do poder. Ela é poder, também.
Estado – Nestes tempos de globalização, a multiplicação das instâncias da sociedade civil destinadas ao debate das questões cruciais não refletiria um déficit da capacidade de agir da democracia parlamentar?
FHC – É claro que a democracia liberal e a forma parlamentar de representação de interesses são insuficientes para satisfazer os anseios contemporâneos. Mas elas continuam sendo a base das outras conquistas: os direitos sociais, as formas mais diretas de organização dos interesses e dos valores (as questões que dão lugar à formação das organizações não governamentais) e, sobretudo, à criação de um ?espaço público? , através da mídia, da Internet, dos modernos happenings tipo Porto Alegre e Davos.
Estado – Fala-se, mesmo, do próximo advento da ?democracia técnica?, tendo o cidadão, o cientista e o empresário como principais atores, para suprir as deficiências da democracia parlamentar…
FHC – Não creio em ?democracia técnica?. Pode e deve haver a compreensão mais acurada dos problemas e das soluções por meios ?técnicos?. Mas a ação política, os movimentos sociais, as idéias-força continuarão a ter papel decisivo no mundo contemporâneo.
Estado – O que pensa da tese defendida por vários humanistas europeus, segundo a qual é preciso restaurar o primado da política sobre a economia, primado que teria sido invertido com a vaga de desregulação que marcou o processo de globalização?
FHC – Eu não coloco a relação política-econômica em termos do primado de uma sobre a outra. Seria a volta ao marxismo vulgar de ?infra-estrutura? e ?superestrutura?. A interação entre esses dois pólos, para mim, é dialética.”