RUMORES & BOATOS
O acesso a cada movimento das tropas anglo-americanas no Iraque, providenciado principalmente pelos 750 jornalistas que acompanham as unidades militares, transformou esta guerra no conflito mais documentado de todos os tempos. No entanto, revelam Stuart Millar e Michael White [The Guardian, 28/3/03], o enorme volume de informações torna às vezes quase impossível o trabalho da imprensa de estabelecer o que é verdade.
Prova disso são os seis casos relatados por Millar e White de divulgação prematura de notícias não confirmadas; com apenas nove dias de conflito, as emissoras de TV e jornais alardearam histórias que mais tarde se mostraram incorretas. Foi o caso do rumor de que 2 mil veículos da guarda de Saddam Hussein estavam se dirigindo ao sul para atacar as forças militares dos EUA e Reino Unido. A informação, que ganhou manchetes do Daily Telegraph, Daily Mirror, The Independent e Daily Mail, foi dada pelo correspondente da CNN Walter Rodgers, mas minimizada pelo Pentágono; os tanques nunca apareceram.
O mesmo aconteceu com a suposta descoberta de uma fábrica de armas químicas, noticiada por um jornalista do Jerusalem Post e logo depois pela Fox. Tanto o general Tommy Franks, comandante das forças anglo-americanas, quanto ex-inspetores de armas desmentiram o relato, "baseado em especulações". A tomada de Umm Qasr também chegou a ser noticiada por muitos jornais e pela BBC News 24 antes de ter realmente ocorrido.
Já a história da execução de soldados britânicos causou polêmica. O tablóide The Sun considerou que as cenas mostradas pela al-Jazira dos corpos de dois soldados mortos numa emboscada mostravam sinais de execução. O primeiro-ministro Tony Blair chegou a declarar que eles foram vítimas de "um ato de crueldade além da compreensão humana". Mais tarde, seu porta-voz esclareceu que não havia evidências de que a execuçãorealmente acontecera, já que os militares britânicos minimizaram a história, afirmando que as imagens são de baixa qualidade.
Militares aposentados no noticiário
Os telejornais da TV americana contam, recentemente, com uma presença quase obrigatória: generais aposentados, de uma a quatro estrelas, que comentam e explicam as estratégias e o desenvolvimento da guerra no Iraque. Segundo John H. Cushman Jr. [New York Times, 25/3/03], a participação de militares ? incluindo aqueles que estiveram em ações recentes, em Kosovo e no Afeganistão ? levanta dúvidas sobre o que eles realmente sabem e o que podem revelar ao público: alguns recebem orientações do Pentágono, mas, assim como os repórteres, tentam recolher toda a informação que puderem para analisar.
Os novos colaboradores costumam se sair bem ao explicar detalhes técnicos do armamento e as decisões a serem tomadas pelas tropas, mas, para Cushman, o mais interessante são as especulações sobre o que pensam os militares iraquianos.
O general Wesley K. Clark, colaborador da CNN, garante ser cuidadoso. "Tem muita coisa acontecendo na zona de batalha que não estamos relatando, comentando e especulando", afirma. Além da exposição na TV, os militares também estão faturando com a demanda: os menos famosos, que não têm contrato com emissoras, ganham US$ 500 por cada participação.