O POVO
"Informações descontroladas", copyright O Povo, 6/4/03
"A rejeição do nome da ex-secretária da Administração Soraia Victor pelos deputados para compor o Tribunal de Contas do Estado movimentou o noticiário político da semana passada. Soraia foi vetada pela Assembléia Legislativa no dia 27 de março. O caso teve amplo destaque na imprensa. Não poderia ser diferente, pois o desfecho surpreendeu até calejados analistas. Em todas as avaliações, um consenso: foi uma derrota do senador Tasso Jereissati, interessado direto na nomeação da antiga auxiliar, e do governo, que acatou a pretensão de Tasso e a indicou. Mas O Povo trouxe gritantes divergências entre informações. Ao leitor, como se diante da esfinge, restou o desafio de decifrar enigmas para se inteirar dos fatos. Primeiro ato: sábado, 29, a Coluna Política, assinada por Fábio Campos, em comentário sobre a ida do secretário de Governo à AL, para cabalar votos pró-Soraia, registrava ter apurado que ?Luiz Pontes foi à Assembléia sem carregar no bolso as credenciais do Palácio de Iracema?. Em matéria ao lado, o secretário, em nome do governo, avisava que a derrota não abriria espaço para barganhas com deputados. Uma contestação, ainda que indireta, à nota da Coluna. Em quem deveria acreditar o leitor? Pontes teria ou não tais credenciais?
Mas as divergências não começaram ali. Em 28 de fevereiro, junto com uma lista de ?qualidades técnicas? da ex-secretária e a observação de que ?gente com tais características é quem possui as melhores condições para analisar e julgar contas dos administradores?, a coluna afirmava que Soraia ?não está hipotecada junto a grupos políticos? e que era ?nome sugerido pelo governador Lúcio Alcântara?. Sábado passado, outra leitura – e sem referências à anterior: ?A indicação da ex-secretária de Administração para o TCE partiu de Tasso Jereissati?. Segunda-feira, o caso ganhou contornos mais confusos com a matéria ?Indicação ao TCE – Lúcio assume para si derrota com rejeição de Soraia?. Assim como a redundância no título, estava ali o reconhecimento do revés pelo governador. Trecho importante: ?O governador disse que o secretário de Governo, Luiz Pontes, trabalhou pela aprovação na Assembléia com seu respaldo?.
O golpe de misericórdia
Se o leitor julgava suas dúvidas dirimidas pelo governador, enganou-se. Terça-feira, nova versão foi publicada no O Povo. Na Coluna Política, estava escrito que Lúcio só havia cumprido ?um ritual político ao negar todas as informações? que haviam sido dadas naquele espaço. E que ?o Palácio de Iracema ficou feliz com o que aconteceu na Assembléia Legislativa?. A coluna, em contradição ao que o governador disse e a Editoria publicou, viu no gesto de Lúcio uma manobra para impedir que sua base parlamentar se fragmentasse. Como fica o público nesse caso? Em quem se fiar? De certeza mesmo, só a fartura de informações desencontradas.
Além do arco-íris
Quarta-feira, O Povo publicou uma matéria intitulada ?Movimento alternativo – Ritos pela paz?. Tratava de um evento em Rio de Contas (BA), o III Encontro Internacional dos Guerreiros do Arco-Íris – grupo inspirado nos hippies de 30, 40 anos atrás. Poderia ter sido um bom registro, se tivesse, de fato, caráter jornalístico. Mas não teve e não foi. Perguntei à Redação se o autor da matéria, Max Krichanã, havia ido como repórter ou como integrante do movimento. Há, é lógico, visões distintas nesses casos. Do profissional, espera-se isenção para apurar informações, conferir dados e mostrar incoerências – se houver. Do militante não se pode cobrar mais do que o entusiasmo de quem toma banho de rio ?sem sabonete ou xampu?, segundo estava escrito.
Ainda na quarta, o editor-executivo do O Povo Arlen Medina explicou por e-mail que o autor da matéria custeou a viagem, como integrante do movimento. ?E partilhou suas vivências e experiências com os leitores?, concluiu, apontando o que seria um viés positivo. Mas, conforme se via na matéria, nenhuma contradi&ccccedil;ão de um movimento pós-hippie em pleno século XXI foi explorada nas ?vivências e experiências? do participante. Sexta-feira, porém, recebi um correio eletrônico de Max Krichanã. ?Viajei como jornalista, e não como integrante do movimento’?, escreveu, contestando Arlen. Krichanã ainda atribuiu a quem chamou com ironia de ?brilhante? e ?todo-poderoso revisor-editor? o corte de ?muita informação essencial (sic)?. Essas adequações, que considerou como ?espalhafatosa (?) diagramação?, teriam, segundo ele, distorcido o sentido real de várias passagens. O fato é que Krichanã não é funcionário do O Povo e, como free lancer, mas sem remuneração, ofereceu a matéria ao jornal. O Povo aceitou e publicou um texto que mais partilhava ?vivências e experiências? do que informava com qualidade jornalística. Pior para o leitor.
Erro não é detalhe
A Coluna Vertical anunciou quarta-feira três novos diretores do Banco do Nordeste. Eis um trecho da nota ?Sai fumaça branca no BN?: ?O três ungidos (…) são: o economista Pedro Eugênio, ex-deputado federal do PT de Pernambuco; o economista Assis Arruda, que ocupava gerência do Banco do Brasil da Paraíba; e Saboya Ponte, parente da senadora Patrícia Saboya Gomes, que entra como diretor do BN na cota do PPS do ministro Ciro Gomes?. Quinta-feira, outra nota fazia correções: ?Dos novos diretores do BN, dois detalhes: Francisco de Assis Ananias Arruda é cearense, filho do ex-prefeito de Baturité, Olinto Arruda e vem da Bahia e não da Paraíba, como esta Vertical informou. Já Vitor Cavalcante Ponte, que saiu aqui como Saboya Cavalcante, não é parente da senadora Patrícia Saboya Gomes (PPS) (…)?. O título da nota era ?Detalhes?. Como diria o colunista José Simão, tucanaram o erro.
Ombudsman na tv
Foi anunciado terça-feira, no seminário TV Pública: Cultura e Cidadania, que uma das propostas a serem levadas ao governo pela comissão que estuda mudanças na TV Ceará é a criação do cargo de ombudsman na emissora. Que seja saudada a iniciativa – uma forma de tornar efetivamente público um patrimônio dos cearenses."