Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como montar um ‘evento de mídia’

ESTÁTUA DE SADDAM

Tanira Lebedeff, de Los Angeles (*)


"Se você contar uma mentira poderosa e a repetir continuamente, as pessoas eventualmente acreditarão em você. A mentira pode ser mantida enquanto o Estado puder evitar que o povo conheça as conseqüências políticas, econômicas ou militares dessa mentira. É importante, portanto, que o Estado use todos os seus poderes para reprimir a oposição, porque a verdade é inimiga mortal da mentira, e portanto, a verdade é inimiga mortal do Estado."


A teoria acima é atribuída ao ministro da Propaganda alemão, Joseph Goebbels. Sim, aquele que trabalhou com Hitler. Infelizmente, essa ainda parece ser a regra, em pleno século 21. Parece que nada aprendemos.

Mas não somos tão ingênuos, nem nossas fontes de informação são tão limitadas. Por isso, hoje custamos acreditar no que ouvimos, vemos, lemos. Quem perde? O jornalismo.

No dia 9 de abril nos foi apresentada uma das imagens "mais memoráveis" da Segunda Guerra do Golfo: tropas americanas ajudando iraquianos a derrubar a estátua de Saddam Hussein da Praça Fardus, no centro de Bagdá.

Vista através de planos fechados, foi fácil admirar o simbolismo da imagem ? o ditador cai, assim como a estátua de Lênin e o Muro de Berlim um dia também caíram. Mas, será que foi mesmo o povo iraquiano que fez isso?

Acredite no que quiser

A denúncia está sendo feita através da internet, em sítios como o do Centro de Pesquisas sobre Globalização. Veja o link: <http://globalresearch.ca/articles/NYI304A.html>.

Vista por um plano mais aberto, a cena parece mais um espetáculo orquestrado pelo governo americano. A área circulada em vermelho mostra onde a imprensa, os soldados americanos e simpatizantes se reuniram para testemunhar a derrubada da estátua. Não havia mais de 150 pessoas, diz o relato. A praça estava cercada por tanques americanos (circulados em amarelo). A cena ocorreu em frente ao Hotel Palestine, que serve de QG para jornalistas do mundo inteiro em Bagdá. Os pró-americanos envolvidos no evento seriam simpatizantes de Ahmed Chalabi, que chegou ao Iraque no dia 6 de abril.

Chalabi é um exilado que vive nos Estados Unidos, e um dos favoritos para liderar um novo governo, sob a tutela de Bush & Cia. Uma das imagens mostra um de seus simpatizantes festejando a "derrubada" da imagem de Saddam. O mesmo cidadão aparece em outra foto, no desembarque de Chalabi no Iraque.

Ouça, veja, leia, e acredite no que quiser. O que vai prevalecer? A teoria de Goebbels? Ou nossa necessidade de saber a verdade?

No te creo nada, no te creo nada, no te creo nada. No te creo mas.

(*) Jornalista