VITÓRIA DA INFORMAÇÃO
Silas Corrêa Leite (*)
Enquanto um débil mental com alta tecnologia bélica pensa que é o xerife do planeta água, em plena decadência do próprio capitalhordismo americanalhado ? e quer, além das reservas de petróleo, mudar o lastro-moeda das jazidas, convertendo-as do euro ao dólar ?, a imprensa é o claro e vivíssimo olhar severo do mundo todo, dando-nos a triste visão de uma guerra insana em pleno visor imediatista do terceiro milênio estarrecido, inclusive pela suspeita falência moral da própria ONU.
E lá vão os corajosos jornalistas, repórteres, fotógrafos, câmeras, gente de ponta da imprensa livre, limpa e objetiva, tirar fotos, cavar noticias, buscar fatos, informações, dados, estratégias de parte a parte, enfoques fora do lugar comum via CNN, para encher nossas telas de medo, horror, vergonha (da espécie humana), porque um potentado invade um pequeno país e, pior, queria esse inventado inimigo de ocasião mesmo sem nenhuma armazinha como estilingue ou cetra para se defender. E ainda chamam isso de guerra. Guerra é topar de frente, cara a cara, com as mesmas armas, com o inoportuno inimigo declarado, enfrentá-lo pau a pau e então saber quem é o bambambam…
O que surpreende, além da vergonha de uma estúpida guerra em si, da força do Império contra um babaquara tão ditador, ignóbil e vil como alguns seus outros colegas de meio (o mundo árabe em geral, salvo honrosas exceções), é saber que os Estados Unidos ignoram regimes semelhantes, porque ou são cooptados ou não têm estoque estratégico de petróleo. E o que estarrece é também o alto número de jornalistas que estão sendo mortos cumprindo o dever. Pensei até na criação do Túmulo do Jornalista Desconhecido. Algum colega no front poderia principiar uma homenagem nesse sentido.
O pior de tudo ainda é saber que os chamados fogos amigos (vade retro!), ponhamos assim, é que estão matando esses jornalistas. Uma vergonha. Todo mundo vê. Os babaquaras marines, na sua maioria não-brancos ? usados propositadamente (déficit demográfico ou excedente populacional não-consumista) como bucha de canhão, os heróis de ocasião (pras poses hilárias da posse forçada com mídia global atrelada), garbosos milicos de olhos azuis, louros, esbeltos, marombados, virão depois condecorados pra enfeite ? atiram em tudo que pisca luz, em tudo que é flash, em tudo que miram como se todos os olhos fossem inimigos porque os vigiam, ou, com medo de se revelarem monstros de grosso calibre ? que na verdade acabam sendo mesmo ? não querem correr o risco óbvio e circunstancial. E não há puros ou inocentes na guerra, apesar de um ufanismo bocó, irracional.
Homens e honras
E lá estão os pobres inocentes civis que morrerão à míngua, como, depois da posse de um novo ditador emboaba (nomeado pelo invasor pseudodono da verdade), os pobres continuarão pobres como desde sempre o foram, os corvos do decadente capitalismo americano ? que financiaram a guerra (ganhando horrores com isso) ? ainda ganharão muito mais "reconstruindo" um resto de país que eles mesmo destruíram, e a imprensa ágil ainda sendo ameaçada, tolhida, perseguida, censurada de forma tácita como de igual forma leviana e infame ocorreu em Granada, no Camboja, no Afeganistão, mais as conhecidas atrocidades com o zé povão de todos os rincões monitorados pelos donos do mundos.
Um fotógrafo mira, filma. É atingido e morto. Para caçarem cirurgicamente o Osama bin Laden não prestam. Outro dá depoimento com vergonha, sob surpresa é atingido e felizmente escapa. Para prenderem os corruptos envolvidos com o Bush em corrupção interna nos Estados Unidos não prestam. Nem a CIA e nem o FBI. Jornalistas de todas as partes do mundo estão ali e protestam. Acendem velas. Choram. Rezam o Pai-Nosso. Pensei, curto e grosso: o preço da liberdade é a eterna vigilância de uma imprensa verdadeiramente transparente, objetiva. E ali estão claros exemplos. Lembrei-me, então, no afogadilho das honras, da paródia do "Pai-Nosso" que oportunamente bolei pra criticar os States, no frigir do óbvio: "Pai-Nosso que estais em Washington/Santificado seja o vosso dólar/Venha a nós o vosso lucro insano/Seja feita a vossa única vontade/Assim na guerra como nas bolsas de valores/A cocaína nossa de cada dia nos dai hoje/Perdoai as nossas neuras assim como nós deletamos os nossos agressores/Não nos deixai cair na Baía dos Porcos/Mas nos livrai da ONU/Amém! ("Pai-Nosso do Tio Sam").
Pois dia desses fui contatado por uma bondosa leitora virtual para receber os gentis parabéns pelo tal Dia do Jornalista ? por ser um jornalista sem diploma, que, por acaso, fez uma Oficina de Jornalismo na ECA-USP e foi bom aluno tendo em vista à época já ter prática de mais de 20 anos ? mas, confesso, o que me honrou mesmo foi saber desses verdadeiros profissionais de comunicação que ali, correndo risco de vida, muitos deles "censurados" (as aspas são propositais) por interesses escusos (..) da empresa onde labutam de papel passado, veiculam informações sob diversas óticas, mostrando ao mundo todo que, na verdade, foi um verdadeiro massacre essa invasão fora de contexto racional. E há ainda, na resultante dolorosa, o ódio generalizado que todo o mundo árabe nutrirá de forma até satanizada contra Bush et caterva, colocando o mundo ocidental em risco, porque, afinal, falando sério, a bem da verdade, só os Estados Unidos ganharão com essa guerra ? mais o vaquinha (burrinho) de presépio do babaquara do Tony Blair ? e ninguém mais.
Com as besteiras que os soldados americanos fizeram, com a merreca da resistência que os iraquianos mais fanáticos tentam, nessa guerra fica só o testemunho de que, num mundo globalizado, pelo menos assim, a informação venceu. Ficamos sabendo de tudo sob diversos vieses, apesar de, claro, aqui e ali, a Rede Globo falar do Iraque como se lá fosse os cafundós do mundo, e como se a cloaca da América Rica fosse o paraíso anglo-saxônico. Mas disso nós já sabemos. O próprio Brazyl que a Rede Globo mostra no chatérrimo Jornal Nacional ou nas novelas mexicanizadas já é um embuste estético até. Há um país real e um país que o padrão global ignora pra vareio geral de engodo oportuno, made exportação neoliberal.
Assim, nesse momento em que o mundo todo tem um testemunho de coragem pela informação a cores e em tempo real, de dinamismo pela verdade nua e crua, de lentes e objetivas buscando um ângulo que não seja oficial Made in America, fica-nos o consolo, o respeito, o orgulho desses profissionais que veiculam notícias por assim dizer escritas com horror, lágrimas e sangue. E sabemos, entre os saqueadores nativos, o grande saque mesmo, o Ladrão de Bagdá foi aquele que agora o invadiu para usufruto, controle e poder de mando, em busca das estupendas reservas de petróleo. Essa é a mais pura verdade que sacamos com as informações todas somadas do jornalismo valente que nos enche de orgulho.
E torço para que o mote que ocasionalmente citei acima perdure por milênios, valorando homens e honras, verdades nuas e cruas, informações e fatos acima de preços e custos: o preço da liberdade é a eterna vigilância da democracia pela ótica da imprensa. Amém!
(*) Poeta, educador, jornalista