Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV anglo-americana no Iraque

DERRUBADA DE SADDAM

Líderes americanos e britânicos inauguraram uma nova emissora de TV no Iraque com o pedido de que o povo controle seu próprio futuro, uma vez que o "pesadelo" de Saddam Hussein acabou.

"Vocês merecem mais do que tirania, corrupção e tortura… Sua nação será livre em breve", disse o presidente Bush em mensagem pré-gravada. "O pesadelo que Saddam Hussein trouxe a sua nação acabará logo."

As mensagens de Bush e do premiê britânico Tony Blair chegaram ao Iraque no dia 10/4 através de uma nova emissora árabe, produzida pelos governos dos EUA e no Reino Unido, chamada Nahwa al-Hurrieh ("Rumo à liberdade"). As mensagens marcaram a inauguração, de acordo com Andrew Cawthorne e Michael Holden [Reuters, 10/4/03].

De início, a programação terá apenas uma hora por dia, e fornecerá notícias e "pronunciamentos do serviço público da coalizão", afirmaram oficiais britânicos.

Grande parte do mundo árabe pôde assistir ao vivo à derrubada, em 9 de abril, da estátua gigante de Saddam Hussein na Praça Ferdaus, de Bagdá [Repórteres sem Fronteiras, 10/4/03].

Os canais árabes por satélite al-Jazira, al-Arabiya e Abu Dhabi transmitiram as cenas direta e continuamente. Apesar da incômoda posição dos governos árabes frente à opinião pública de seus países, depois de se manifestarem contra a guerra no Iraque, muitos canais estatais também mostraram as cenas de júbilo coletivo e da derrocada do regime de Bagdá. Para alguns, foi um acontecimento comparável à queda do Muro de Berlim. Para outros, só uma humilhação imposta pelas potências invasoras.

Um apresentador kuwaitiano repetia ?Deus é grande?, sem poder dissimular sua alegria, enquanto um blindado americano derrubava a monumental estátua do ditador iraquiano.

Fato sem precedentes, também transmitiram as imagens ao vivo as TVs da Arábia Saudita, do Egito, do Sudão, da Jordânia, de Omã, do Kuwait, do Iêmen, de Bareine, do Marrocos e dos Emirados Árabes Unidos.

Em troca, na Síria a televisão emitia um programa sobre poesia e arquitetura, enquanto caíam por terra os símbolos do poder em Bagdá. De uma prudência extrema, o telejornal exibiu carros blindados e algumas cenas de saque em Bagdá, mas nenhuma imagem do alvoroço popular. Entretanto, como na Argélia e na Tunísia, onde não se transmitiram as imagens ao vivo, muitos residentes e cafés dispõem de antena parabólica, e puderam seguir os acontecimentos que seus governos não lhes permitiram ver na al-Jazira.

O que o mundo viu

Não só no mundo árabe, emissoras de TV do mundo todo interromperam a programação regular no dia 9/4 para mostrar, durante horas, as mesmas imagens ao vivo de iraquianos eufóricos destruindo monumentos de Saddam Hussein junto a tropas americanas em uma Bagdá praticamente destruída.

Até os repórteres que tentaram permanecer imparciais frente ao conflito estavam nesta ocasião reportando de maneira entusiasmada. "Mas que dia!", comentou um apresentador da BBC.

Imagens de um homem rasgando um pôster de Saddam foram exibidas repetidamente em canais de notícia europeus. Outro homem que dizia "obrigado, senhor Bush" também recebeu grande projeção, de acordo com reportagem de Ben Berkowitz e Merissa Marr [Reuters, 9/4/03].

Octavia Nasr, repórter sênior de internacional da CNN, afirmou que a mídia árabe também está noticiando as comemorações da queda da tirania. "Os repórteres que estão ali afirmam estar cobrindo; não podem ser mais genuínos que isso", disse Octavia.

Apesar da festa, muitas emissoras árabes estavam mais contidas na cobertura. Um programa sírio mostrou tanques na capital do Iraque, mas não mostrou a comemoração. Em vez disso, reportou a falta de medicamentos e água nos hospitais superlotados de Bagdá.

No Líbano, um comentarista da al-Manar, estação de TV do movimento muçulmano xiita Hizbollah, afirmou que "as forças invasoras destruíram a estátua de Saddam após a cobrirem com sua própria bandeira."

Apesar de ter dado as notícias, os canais de TV árabes minimizaram os relatos da queda de Bagdá, segundo Jonathan Steele e Dan De Luce [Guardian, 10/4]. A al-Jazira, a TV estatal da Jordânia e a rede egípcia deram destaque a imagens de saques, ruas vazias e pessoas agitando bandeiras brancas para se proteger das forças americanas. O canal libanês LBC foi uma exceção ao mostrar cenas de civis iraquianos saudando as tropas e comemorando.