COBERTURA DE GUERRA
"Na bagagem da mídia, algo mais que informações", copyright O Estado de S. Paulo / The Boston Globe, 25/04/03
"Eles cobriram a guerra no Iraque, enfrentando tempestades de areia e ataques de guerrilheiros enquanto transmitiam notícias a caminho de Bagdá. Mas ao menos uma dúzia de membros da mídia foi acusada de levar para casa mais do que uma grande reportagem.
Funcionários da alfândega dos EUA informam que já confiscaram 15 quadros e armas de fogo nos aeroportos de Washington, Atlanta e Boston. A alfândega não quis mencionar os nomes dos que foram pegos, nem exibir as obras de arte confiscadas, dizendo haver uma investigação em andamento, mas informaram que todos os suspeitos de contrabando, com exceção de um, são membros da mídia.
O nome de dois deles foi revelado por outras fontes: Benjamin James Johnson, de 27 anos, técnico da rede de TV Fox, tentou levar para casa 12 quadros que pegou no palácio de Uday, o filho mais velho de Saddam Hussein. Johnson acompanhou as tropas americanas até Bagdá.
Um policial disse que Johnson contou aos funcionários da alfândega que o repórter do Boston Herald Jules Crittenden também levava vários itens.
Quando Crittenden chegou ao Aeroporto Logan, carregava um quadro e objetos decorativos de cozinha. Ele disse ter pego nos jardins de um dos palácios presidenciais.
Crittenden não será processado porque o quadro foi avaliado em menos de US$ 15 mil, segundo uma fonte da polícia. A Fox demitiu Johnson. Já o Herald disse que não vai punir Crittenden.
?O que ele tinha eram obviamente souvenirs e ele os declarou?, disse o editor do Herald, Andrew Costello.
Em conflitos anteriores, sabe-se que os soldados trouxeram para casa armas e bandeiras como recordações.
Em uma ?nota aos colegas? na página na internet do Poynter Institute, Crittenden escreveu: ?Compreendo e compartilho da preocupação do mundo em relação ao desaparecimento de tesouros nacionais legítimos do Iraque. Também compartilho das preocupações com o fato de alguns soldados não terem resistido à tentação quando defrontados com as riquezas de uma vida inteira.
Porém, esses assuntos são diferentes da tradição entre os soldados de trazer para casa recordações de algumas das experiências mais intensas de sua vida.
Nessa guerra não houve exceção a essa prática histórica até começarmos a chegar em casa. Agentes federais me informaram que todos os jornalistas e soldados que estão retornando estão sendo submetidos a revistas semelhantes.?
Ele continuou dizendo que a cobertura noticiosa de seu ?interrogatório e detenção … omitiu fatos essenciais que teriam posto a questão no seu devido contexto?.
Na terça-feira, Crittenden recusou-se a comentar o assunto e não pôde ser encontrado na quarta-feira à noite."
"Imprensa sul-americana faz discurso anti-Bush", copyright Gazeta Mercantil, 28/04/03
"O olhar historicamente resignado – às vezes cúmplice – da imprensa sul-americana às intervenções militares internacionais dos Estados Unidos mudou significativamente de foco, durante a cobertura da invasão do Iraque.
Uma análise feita com exclusividade para este jornal, pela consultoria Global News, especializada no monitoramento internacional de meios gráficos desde seu escritório em Buenos Aires, mostra que os jornais dos países do chamado Cone Sul – Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile – exibiram um comportamento semelhante e especialmente crítico à postura norte-americana, bem diferente do que ocorreu recentemente, durante a invasão do Afeganistão, ou na década passada, na primeira guerra do Golfo.
?Embora houvesse uma predominância crítica também nos meios chilenos, foi ali onde os diários mostraram-se mais prudentes e moderados?, resume Laura García, diretora da Global News, responsável pela análise do noticiário e das páginas de opinião relativas à guerra nos principais jornais dos cinco países, desde as semanas prévias ao conflito até o final, com a tomada de Bagdá. Na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai os questionamentos sobre a ação norte-americana foram predominantemente ácidos, mesmo em veículos tidos entre os mais conservadores.
Houve, por exemplo, certo consenso no uso da expressão ?império? para qualificar a postura autoritária dos Estados Unidos ante os clamores da maior parte do mundo. O centenário e tradicionalíssimo La Nación, de Buenos Aires, por exemplo, definiu em editorial a intervenção de George W. Bush como ?O império da força?. Em outro texto, o jornal compara a ação dos Estados Unidos no Iraque à desastrosa dominação francesa na Argélia.
?O Iraque não será um novo Vietnã para os Estados Unidos, mas pode ser sua Argélia globalizada. Lamentavelmente para o mundo, a reação árabe contra a ocupação militar norte-americana do Iraque, diferentemente da resistência argelina contra a França, não se limitará às fronteiras desse país?.
Segundo Laura García, os meios gráficos dos quatro países sócios do Mercosul promoveram uma farta cobertura que eclipsou por 20 dias os demais assuntos locais, ?mesmo a própria corrida presidencial argentina, então a apenas um mês das eleições em primeiro turno. Ainda que com diferentes matizes, a grande maioria dos jornais explicitou um crescente sentimento anti-norte-americano, uma forte diferença do que se observou durante os ataques e tomada do Afeganistão. Desta vez, se questionou com dureza os métodos e a facilidade com que os Estados Unidos impõem suas próprias regras ao mundo?, resumiu.
O estudo sublinha que os questionamentos da imprensa regional se observaram desde as prévias, quando Bush impunha sua vontade sobre as posições da ONU, cresceram durante os primeiros ataques e alcançaram o clímax no momento em que se apresentaram as primeiras vítimas civis. Além disso, o fato de não terem sido encontradas as propaladas armas químicas serviu para amplificar a tendência editorial, avessa às decisões bélicas de George W. Bush.
?A queda de Bagdá? depois de apenas 20 dias, desde a invasão, acabou, porém, por reduzir o volume das críticas e resultou na presença de um maior volume de notícias sobre os textos de opinião e análise. Esta opção por uma avaliação pragmática – em que a contabilidade dos prejuízos prevaleceu sobre os ataques a Bush – foi a marca registrada imposta pelos principais jornais chilenos.
Poços de petróleo
?Os danos aos poços de petróleo foram mínimos. Se impôs, portanto, o cenário mais otimista de todos os aventados pelos diversos analistas de guerra?, resumiu o El Mercurio, de Santiago, após a queda de Bagdá.
Mas mesmo os diários chilenos mantiveram-se céticos sobre os pretensos planos norte-americanos de democratização para o país invadido. Também ícones da imprensa dos Estados Unidos foram fortemente questionados, como ocorreu com a rede de TV CNN.
Depois de sair da primeira guerra do Golfo como modelo de bom jornalismo eletrônico, desta vez, acabou rotulada como meio a serviço do governo de seu país. Quebrou-se, desta forma, o paradigma segundo o qual a imprensa sul-americana tendia a ser complacente com os argumentos belicistas norte-americanos."
MÍDIA ÁRABE
"Saudita prepara TV de informação", copyright Público in Clipping do Dia / Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (www.fndc.org.br ), 23/04/03
"A Arábia Saudita vai lançar um canal de televisão noticioso, anunciou o seu ministro da Informação, Fouad Al-Faressi. ?As autoridades aprovaram o lançamento de uma cadeia de televisão de informação?, afirmou, citado pelas agências de notícias. Já começaram os preparativos para o novo canal que segundo o ministro constituirá um suporte para a ?difusão de informações correctas?, estando previsto que cubra a actualidade do país e tenha vários programas sobre temas políticos. O país tem de momento três canais de televisão, todos eles controlados pelo Estado: um generalista, que emite em árabe, um em inglês, e um especializado em desporto. Os canais privados estão proibidos."