Na questão do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) não é justo recriminar apenas o governo, nem apenas a Fenaj. É imperioso incluir a CUT. A partir do momento em que a Fenaj foi entregue à facção mais radical da Central Única dos Trabalhadores, os interesses dos jornalistas e do jornalismo no Brasil ficaram sujeitos às suas ambições, idiossincrasias e dogmatismos. Raramente bem-intencionados.
A CUT não brinca em serviço: a ela não basta dominar a Federação Nacional de Jornalistas, entidade sindical dos jornalistas brasileiros. À CUT interessa dominar a imprensa: impor suas regras, suas prioridades e sua ‘ética’. Apropriar-se do Quarto Poder.
Como a ABI vinha sofrendo um processo de desgaste – felizmente interrompido – os estrategistas da CUT-Fenaj conceberam uma entidade capaz de substituí-la como trincheira das liberdades da sociedade civil. Tinham muito presente o papel da ABI – junto com a OAB e a CNBB – na mobilização nacional que apressou o fim da ditadura. Por isso queriam uma organização política, supra-sindical, mais adequada ao seu projeto de poder.
A CUT-Fenaj quer ser a dona da profissão, dona da busca da verdade e, portanto, dona da verdade absoluta. Quem discordar deixa de ser jornalista; quem não obedecer a seus critérios, obriga-se a mudar de profissão.
Por isso fincaram uma cunha na profissão de jornalista equiparando-a à dos assessores de imprensa. Como a Fenaj hoje é dominada pelos assessores de imprensa (majoritariamente empregados nas assessorias de comunicação do governo), as concepções jornalísticas e éticas da Fenaj passarão a vigorar no seu filhote bastardo, o Conselho Federal de Jornalismo.
Tudo meu
Nada contra assessorias e assessores: são essenciais para planejar ações motivadoras e executar programas de informação. Mas isso é divulgação. Sob o ponto de vista objetivo e subjetivo isto não é jornalismo, é comunicação dirigida, parcial. E o jornalista é um comunicador imparcial. A diferença entre as duas atividades, igualmente respeitáveis, é apenas essa. Pequena, porém transcendental.
Se a CUT-Fenaj sonhavam com uma OAB de jornalistas, por que não a criaram? Por que não reunir a classe para criar a Ordem dos Jornalistas do Brasil? Tal e qual a sua inspiradora, uma OJB zelaria pela qualidade, pela ética e pela defesa do exercício do jornalismo.
Não interessava: a CUT-Fenaj já detém o poder sobre os jornalistas. Agora querem tomar conta do jornalismo.