IRAQUE
Durante o reinado de 33 anos de Saddam Hussein, nenhuma publicação estrangeira era permitida no Iraque, e os diários existentes eram todos controlados pelo Estado. As antenas parabólicas eram proibidas; as únicas alternativas eram as estações de rádio da BBC, Radio Monte Carlo (sediada em Paris) e Radio Sawa, financiada pelo governo americano. Mas desde que o regime caiu, em abril, dezenas de títulos apareceram. Num país sem sistema telefônico, com transporte limitado e eletricidade irregular, calcula-se que circulem atualmente 50 publicações, conta Anthony Browne [The Times, 20/5/03].
Políticos, jornalistas, advogados, empresários e até lojistas criaram jornais, com a ajuda de funcionários que chegam a trabalhar sem pagamento. Apesar de caros para os iraquianos, os exemplares estão sendo vendidos rapidamente. "As pessoas estão famintas por notícias, especialmente nestes dias. Imprimimos cinco mil cópias e todas saíram num dia", conta Fuaad Ghazy, editor do The News.
Entre os títulos hoje disponíveis na capital estão al-Itihad, antes restrito a regiões curdas, Assaah, editado por um clérigo muçulmano sunita, e Fajr Baghdad, que se intitula "o primeiro jornal democrático e independente" do país. Os EUA contam com duas estações de rádio, uma delas operada por funcionários da antiga emissora de Uday Hussein, primogênito de Saddam. Os iraquianos também podem escolher entre a Karbala Television, operada por voluntários com equipamentos da antiga rede estatal, um canal sustentado pelo governo americano e as emissoras do vizinho Irã, como al-Aalam.
O surgimento de tantos veículos diferentes pode ter empolgado a população, mas alguns jornalistas são cautelosos ao avaliar o cenário atual. Para eles, ainda não é possível saber se isso é duradouro ou reflexo do caos pós-guerra, revela a AP [19/5]. "Ainda é muito cedo para falar em liberdade de imprensa", disse Ali Abdel-Amir, editor sênior do Nidaa al-Mustaqbal, jornal do grupo de oposição Congresso Nacional Iraquiano.