Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Rubens Paiva

REDE GLOBO

“Xingou por quê?”, copyright Folha de S. Paulo, 4/05/03

“HÁ POUCOS dias, testemunhei uma cena que me teletransportou para um passado recente. Um sujeito aparentemente bêbado xingava uma van da Rede Globo. O veículo estacionado não impedia a sua passagem. Como um totem, mantinha-se sólido e imponente, com a sua cor desigual, enfeitado pelo logotipo ?globo-olho?.

O que o pedestre destratava? O silêncio da emissora durante a luta pela Anistia e liberdades democráticas, quando a censura já havia sido levantada? A sua teimosia em desprezar o início do empolgante movimento das Diretas Já? A falta de pluralidade na cobertura da disputa entre Collor e Lula? A demora para abraçar a causa do impeachment do primeiro?

Já houve um tempo difícil para o jornalismo da Globo. Eventualmente, seus profissionais eram xingados, seus carros, depredados. Em muitos casos, os repórteres faziam reportagens sem o logo da empresa em seus microfones. E o que eles diziam não era confiável. A emissora, que empregou tantos perseguidos pelo regime militar, que nunca aceitou uma lista negra, não alimentou uma caça às bruxas em que comunistas de carteirinha, como Dias Gomes, assinavam a sua teledramaturgia, viveu uma dualidade provocando ódio e suspeita em muitos.

Seguindo uma lógica aristotélica, pode-se afirmar que a Globo não era uma emissora de direita convicta, afinada completamente com a ideologia de um regime autoritário. Era bem pior: ela apenas se acovardava.

Conseguiu em poucos anos de vida transformar a TV no eletrodoméstico mais atraente de uma casa brasileira. Cláudia Abreu, no filme ?Ed Mort?, representando uma apresentadora de programa infantil, canta para as câmeras: ?Coma em frente à TV, durma em frente à TV, brinque em frente à TV, viva em frente da TV!?. O Brasil viveu em frente à Globo como nunca havia feito antes, foi fiel e, depois, sentiu-se traído.

Hoje, seu jornalismo procura erguer um alto grau de credibilidade. Nas últimas eleições, foi surpreendentemente isenta, confrontando seu histórico. É evidente que num Estado em que a concessão de uma emissora de TV é revista periodicamente, ou em que há eventuais isenções fiscais camaradas para a importação de equipamentos, ou em que o grosso da verba publicitária está na mão do homem público, a independência de informações sempre estará contaminada por uma promíscua relação.

?Teleleilão? é o gênero que mais cresce na TV brasileira . São três os programas, ?TV Shopping Brasil?, ?Medalhão Persa? e ?1001 Noites?, que vendem tapetes, jóias e quadros. Somados aos ?Shoptime? e ?Shoptour?, delata-se a dissimulada vocação das emissoras, vender, como um armarinho da esquina. Durante anos, a Globo nos ofereceu lotes de notícias de referência duvidosa. Comparando, era como se um anel de ouro leiloado pela CNT, que exibe o ?1001 Noites?, fosse, na verdade, de legítimo latão.

Os dramas existenciais da emissora levavam muitos telespectadores, que os americanos chamam de ?consumidores?, a rever cada notícia. Será que agora seus consumidores fecharão negócios em quatro vezes o valor solicitado? O Brasil seria outro sem a Rede Globo? Seria melhor? Até quando durará este rancor? Até lá, muitos sujeitos aparentemente bêbados continuarão a xingar o seu logo.

Detalhe penoso: havia três ocupantes no carro, e nenhum deles reagiu nem quando o pedestre deu um tapa no capô, antes de sair fora. O totem emudeceu-se resignado.”

 

BAND vs. RECORD

“Meta da Band é passar a Record ?rapidamente?”, copyright Folha de S. Paulo, 4/05/03

“A BAND quer ser mais popular e ?agressiva? na briga pela audiência, segundo o novo vice-presidente da emissora, o jornalista Marcelo Parada,41. Após dirigir as rádios Eldorado (93 a 97) e Bandeirantes (97 a 2002), ele chegou ao comando de uma rede de TV com identidade reformulada, obra do ex-diretor de programação Rogério Gallo, durante 2001 e 2002.

Qual é o seu principal objetivo?

Vamos seguir na trilha do popular e seremos mais agressivos na briga pela audiência. Desde que a Band deixou de ser o ?canal do esporte? [em julho de 99?, ela vem conquistando um público feminino e mais consistente.

A emissora perdeu identidade?

Em função da prioridade ao esporte, não foi fácil mudar o rumo. Em alguns momentos, transmitimos essa impressão de crise de identidade. Mas, internamente, não tivemos dúvida de seguir no rumo da popularização.

E qual é a imagem da Band hoje?

Temos dois pilares definidos: jornalismo e entretenimento. Queremos mostrar conteúdo de interesse direto do cidadão. Vamos sair dos grandes centros e apresentar o que acontece no interior do país, um lado quase ignorado pela TV, [com reportagens e transmissões? em regiões das nossas emissoras e afiliadas. Teremos programas para a família.

A Band tornou sua programação popular em pouco tempo. Há a intenção de voltar a atingir a elite?

A orientação de João Carlos Saad [presidente do Grupo Bandeirantes? é clara: programas para as elites estão no Canal 21; atrações populares, para as massas, estão na Band. Não vamos partir para a apelação. A programação é popular, mas com qualidade, de interesse amplo.

A emissora vai reformular a faixa da noite, com as estréias de ?Claquete?, com Otávio Mesquita, ?Boa Noite, Brasil?, de Gilberto Barros, e Roberto Cabrini no ?Jornal da Noite?. Qual é o objetivo?

Passar rapidamente a Record e chegar ao terceiro lugar na audiência. O próximo passo é a reformulação do domingo [com estréias de ?Tela Cheia?, com José Luiz Datena e Jorge Kajuru, ?Bem Me Quer?, com Marcia Goldschmidt, e o jornalístico ?60 Minutos?. Não podemos nos sentir acuados, os adversários dominicais são fortes, mas temos condições de brigar.

Há algum novo projeto na manga?

Sim, vamos transmitir eventos esportivos e de moda de Gramado e Campos do Jordão, ao vivo e com reportagens gravadas, para fazer um grande inverno.

Haverá um desmonte das realizações da gestão de Rogério Gallo?

Não sigo a trilha do Gallo. Sigo a trilha do Saad. O pai da criança é ele. Quero tornar a Band mais competitiva e sintonizada com o espectador, com espírito de equipe, lealdade e cumplicidade.”

 

IBOPE / ARGENTINA

“Ibope suspende medição na Argentina”, copyright Folha de S. Paulo, 3/05/03

“Uma fraude no sistema de medição de audiência de TV, que o Ibope não descarta que possa ocorrer no Brasil, levou o instituto de pesquisas a suspender seus serviços em Buenos Aires. A suspensão, desde o dia 21, pode levar de três a seis meses.

A polícia argentina está investigando a fraude. O principal elemento de credibilidade da medição, o sigilo sobre quais são os domicílios pesquisados, foi quebrado. Cerca de cem dos 900 domicílios que fazem parte da amostra tiveram seus endereços divulgados na internet. Assim, emissoras poderiam oferecer vantagens a esses telespectadores para que eles sintonizassem seus canais.

A Câmara de Controle de Medição de Audiência, entidade que audita o Ibope, cassou o certificado de qualidade do instituto.

?Temos certeza absoluta de que a informação [sobre domicílios da amostragem] não saiu de dentro do Ibope?, diz Flávio Ferrari, diretor do Ibope Mídia. O executivo suspeita de que o sigilo tenha sido quebrado a partir de monitoração de números de telefones fixos usados para transmitir os dados de medidores de audiência nos domicílios para o Ibope.

Embora no Brasil o Ibope use radiofrequência e telefonia celular em suas transmissões, Ferrari não descarta a possibilidade de fraude semelhante no país. ?Se dissesse que isso é impossível, estaria dando o primeiro passo para isso se tornar possível, pelo descuido.?”