DIÁRIO DE NOTÍCIAS
"Jornalismo ‘sentado’", copyright Diário de Notícias, 25/5/03
"É frequente os leitores quererem discutir os motivos pelos quais determinados assuntos e figuras públicas têm relevo no jornal e outros não. Independentemente das explicações que possam ser encontradas para cada caso, o tema merece reflexão, dado constituir um dos aspectos mais problemáticos do jornalismo. Trata-se de saber como se constrói a ?agenda? dos media e quem os ?ajuda? a construí-la.
Ao contrário do que, por vezes, se pensa, o mundo que o público vê através dos ?olhos? dos jornais, da rádio e da televisão, não é um espelho da realidade, nem corresponde a uma imagem ?real? de pessoas, lugares e acontecimentos. As ?janelas? que os media abrem sobre o mundo são, antes, um reflexo da sua própria construção da realidade, que resulta de interacções com as fontes e com os públicos. Não há nisso qualquer ?maquiavelismo?. Seja qual for, porém, o papel que se lhes atribua, os media criam o ?ambiente?, no qual determinados assuntos e acontecimentos são seleccionados e divulgados.
Não existem respostas definitivas sobre os motivos que os levam a incluírem nas respectivas agendas determinados assuntos em vez de outros. A melhor maneira de perceber os seus procedimentos é, no caso dos jornais, analisar as notícias.
A provedora convida, pois, os leitores para uma ?viagem? pelas manchetes do DN na primeira semana de Maio (uma escolha aleatória). Veremos se é possível, perceber, através delas, como construiu o DN, nesses dias, a sua agenda e quem o ?ajudou? nessa construção (partindo do princípio de que o tema de capa é o que o jornal escolhe como mais importante do dia). Ver-se-á, assim, numa pequena amostra, se a sua agenda resultou, ou não, de outras agendas e qual o peso da investigação feita pelo jornal.
Das oito manchetes analisadas, seis (correspondentes aos dias 1, 3, 5, 6, 7 e 8), baseavam-se em documentos oriundos de fontes oficiais ou declarações de entidades públicas ? Ministério da Educação, Ministério da Segurança Social, Tribunal da Relação do Porto, advogados dos arguidos Hugo Marçal e Fátima Felgueiras, União Europeia ? uma, resultava de despachos de agências (sobre o sismo na Turquia) ? e outra antecipava a festa do Futebol Clube do Porto (um dossier de cinco páginas sobre o clube, com notícias, análises e entrevistas).
Verifica-se, pois, que nessa semana a agenda do DN foi maioritariamente construída com base em agendas de departamentos oficiais.
Estes dados não são surpreendentes e poderiam encontrar-se noutros jornais, correspondendo a uma situação constatada em estudos internacionais que dão conta da influência, na agenda dos media, de instituições oficiais ? as que possuem maior capacidade de produzir informação. Compreende-se, aliás, que essas instituições procurem promover as suas iniciativas, dado que o público tem tendência para falar dos assuntos focados nos jornais, rádio e televisão. Influenciar as suas agendas é, pois, um objectivo de qualquer instituição com peso na sociedade, seja ou não oficial. Cabe aos jornalistas ?equilibrar? essa influência, de modo a que a função de informar não se transforme num puro acto promocional.
É certo que, apesar do poder de influência dessas instituições, os jornalistas possuem alguns ?trunfos?. Por exemplo, podem utilizar a informação oficial como ponto de partida de uma investigação, indo além da sua simples reprodução. O problema é que, na maioria dos casos, limitam-se a fazer uns quantos contactos telefónicos e alguma pesquisa na Internet. É um jornalismo ?sentado?, embora, algumas vezes, exista um esforço de diversificação de fontes.
Perante uma informação que lhe é oferecida, a atitude mais frequente de um jornal é procurar marcar a sua distância, por exemplo, através de um determinado enquadramento, linguagem e tom. Isso é notório em certas títulos de primeira página. Contudo, muitas vezes, representa, apenas, uma forma de escamotear a ausência de uma investigação própria. Uma explicação possível para a publicação, quase sem discussão, de grande volume de informação oriunda de fontes institucionais, é a complexidade de que, geralmente, se reveste, sobretudo quando se trata de estudos que requerem uma especialização que, em muitos casos, não existe.
Um dado relevante nas oito manchetes analisadas é o facto de apenas as relacionadas com o caso Fátima Felgueiras (dias 6 e 8) se enquadrarem nos chamados temas de política ?pura?, sendo as restantes sobre temas de ?economia? e ?sociedade?. Isso mostra que a informação ?oficial? influencia outros campos para além do (estritamente) político. Também aqui o DN não é caso único. Existem estudos que mostram ser a informação política a que mais recorre a fontes não oficiais. Entre nós, a originalidade reside no excesso de fontes políticas que falam sob anonimato, o que não abona a favor nem dessas fontes nem do jornalismo português.
Em suma: na semana analisada a agenda do DN foi maioritariamente construída sobre outras agendas, com pouco recurso a investigação própria.
Bloco-Notas
Um pequeno senão ? Odete Pinto: ?Ler o DN todos os dias é um hábito e um prazer cada vez maior. Parabéns pela renovação, pela excelente campanha publicitária. (…) Há porém um pequeno senão: Quem? Quando? Onde? nem sempre aparecem nos artigos ou até pequenas peças de divulgação. Por exemplo, no DN de 16/02/03, lê-se: ?O Salão Central abriu as suas portas ao público a 8/4/1908. Em 1919, teve grandes transformações e a reabertura foi considerada um verdadeiro acontecimento.? Ainda existe, onde fica? (…) Quanto à excelente cobertura que o DN dá à sinistralidade rodoviária, seria também interessante saber quem são os assassinos sem rosto. São pessoas sem profissão? Senão, qual a sua profissão? Tinham toda a documentação legal, incluindo a carta de condução? Que idade têm? Aproveito para fazer um apelo: para quando um combate sem tréguas (…) ao alcoolismo? Para quando um combate sem tréguas à impunidade??
Comprovar o que se escreve ? Maria Duarte: ?O DN é o meu jornal diário, porque é isento e não segue a onda de ?tabloidismo? que se tem vindo a verificar. (…) No entanto, por vezes, aparecem erros que julgo serem mais que simples falta de atenção. (…) Gostaria de rectificar (…) que a capital do Canadá não é Toronto (como é dito no artigo publicado em 22/04/03) mas Otava. Também Colúmbia Britânica não é uma ?localidade?, mas uma das mais importantes províncias do país. (…) Penso que este tipo de erros (…) seria facilmente evitado se quem escreve ou traduz os artigos tivesse o cuidado de comprovar aquilo escreve.?
Porquê só na sede? ? Zara Conceição: ?Sou leitora assídua do DN (…) e participei por diversas vezes na promoção Viagens a Maravilhas do Mundo. Nem sempre tenho a possibilidade de comprar o jornal e, nessas ocasiões, consulto a versão digital. Estranho, por isso, que as frases vencedoras não venham transcritas no jornal on-line. Acho que só o viria enriquecer. (…) Sugeria também que fosse apresentado um quadro ou listagem dos vencedores, (…) com as frases vencedoras em link, por exemplo. Resido em Faro, mas tenho conhecimento de que os resultados completos de todos os concursos publicados no DN estão disponíveis para consulta na sede do jornal, em Lisboa. Por que não estarem também on-line, acessíveis aos leitores de todo o País??
Não maltratem os livros ? Manuel Moreira: ?Permita-me (…) sensibilizar o departamento que faz a embalagem dos livros que são vendidos com o DN, às terças-feiras, no sentido de não maltratarem os livros. Pela segunda vez consecutiva, tenho o azar de comprar um livro com a capa danificada, penso eu devido à forma utilizada para a embalagem do conjunto de livros ? cintas. (…) No local onde compro jornais, dado receberem poucos livros, praticamente todos estão nas mesmas condições.?"