Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Prestação de contas informal

CONFLITO NO TIMES ? I

Sem perceber, a equipe de repórteres do NY Times está prestando contas sobre sua conduta na redação. Muitos depoimentos são dados a outras publicações que estão reportando os casos do Times. Os funcionários do jornalão fazem questão de deixar claras suas posturas jornalísticas nessas entrevistas. É uma forma sutil de mostrar ? e pelo jeito, é realmente preciso mostrar ? que no Times ainda há pessoas de ética impecável.

Artigo de Howard Kurtz [The Washington Post, 29/5/03] expôs depoimentos de funcionários do Times que se sentiram ofendidos com a declaração de Bragg de que a maioria das reportagens do Times é feita por free-lancers fixos ou estagiários informais. Aliás, segundo Kurtz, a reação foi ainda maior do que a suscitada pelas fraudes de Jayson Blair.

Peter Kilborn, da sucursal de Washington, considerou ultrajantes as declarações de Bragg. "Eu não faço isso", afirmou, afirmando que usou free-lancers fixos ("stringers", no termo em inglês) para reunir mais detalhes sobre eventos de última hora ("breaking news"). "Gosto de controlar a reportagem. Sei quais os elementos principais. Quero ver as imagens. Quero ouvir as vozes. É uma questão de orgulho. Não vou desenhar uma figura e deixar que alguém interfira com seu pincel."

David Firestone, ex-correspondente em Atlanta atualmente em Washington, disse que usava correspondentes free-lance principalmente "quando não se podia estar em múltiplos lugares". "O ponto central de estar na equipe de notícias nacionais é poder viajar por sua região… ver pessoas com seus próprios olhos ao entrevistá-las. Saber se estão falando a verdade, sentir suas emoções. Se tiver alguém fazendo isso em seu lugar você perde algo muito valioso."

Diversos repórteres deixaram comentários apaixonados na popular coluna de mídia online de Jim Romenesko. Alex Berenson, repórter de negócios, afirmou ali que as declarações de Bragg acabaram "depreciando a reputação de todos os repórteres do Times". "Fazemos nossas reportagens aqui. Pelo menos a maioria de nós faz", disse.

Alguns profissionais do Times, no entanto, não ficaram tão aturdidos, afirmando que Bragg foi injustamente discriminado por trabalhar num sistema em que estagiários e assistentes são muitas vezes submetidos a trabalho árduo em reportagens extensas, das quais cuidam "do grosso", e quase nunca recebem crédito. A free-lancer Lisa Suhay já viu seu trabalho publicado no Times quase literalmente, sem seu nome. "Bragg está sendo punido pelo que eu, como free-lancer, vi acontecer como prática comum durante quatro anos."

Bragg afirmou que chegou a apresentar Yoder ao editor-executivo, Howell Raines. Sobre as críticas internas, pôs os pingos nos is: "Eu não disse que todo mundo faz da maneira que eu faço. Há correspondentes que escrevem todas as palavras que publicam". Mas há quem escreva matérias "baseadas predominantemente na reportagem de outras pessoas", disse.

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