SEMINÁRIO / SANTO ANDRÉ
Luciano Somenzari (*)
A concepção geral de comunicação pública passou a ter importância estratégica na civilização moderna a partir da Revolução Francesa. A conquista daquele período foi fabulosa e poderia ser resumida da seguinte forma: menos poder aos governantes, mais poder ao povo. Para pôr isso em prática, todo cidadão precisa ter meios de obter boa informação para o pleno exercício da cidadania.
Dentro dessa lógica, não seria exagero afirmar que a comunicação no serviço público deve ocupar lugar de destaque nas discussões acadêmicas, nos artigos de comunicólogos, nos programas de governo de candidatos, nos meios de comunicação de massa etc etc. O que deveria ser regra, porém, não passa de simples exceção.
Dada a notória escassez de espaços para essas discussões, o Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Santo André organiza o 3? Seminário Nacional de Comunicação das Administrações Populares ? Na Boca do Povo.
Na edição deste ano, que começa no próximo dia 9, às 19h, no salão nobre da prefeitura, já confirmaram presença profissionais de peso da Comunicação, muitos dos quais já experimentaram os dois lados do balcão, como se diz no meio jornalístico, isto é, cobriram o poder público pela grande mídia e, posteriormente, tornaram-se funcionários desse mesmo poder.
Evidente que não estamos falando de comunicação como sinônimo de propaganda de governo. A confusão que se faz nesse assunto é freqüente, com altas doses de preconceitos lançados de toda a parte. Na verdade, o grande desafio que se coloca diz respeito à melhor maneira de promover uma comunicação pública de qualidade, sem proselitismo, para a população que paga impostos e precisa participar das decisões de sua cidade.
Mídia e governo
Outro assunto que certamente estará em discussão é a relação sempre conflitante entre poder público e a mídia. A abertura política e a promulgação da nova Constituição em 1988 abriram caminho para uma busca cada vez maior por transparência no setor público ? muito maior, diga-se, que no setor privado, geralmente pouco afeito a críticas e a discussões democráticas. Não raro, porém, a cobertura da imprensa, municiada pelo Ministério Público, atropela o bom-senso transformando políticos e governantes em sacos de pancadas. Este Observatório da Imprensa já estampou inúmeros exemplos disso.
Nunca é demais reunir especialistas em comunicação para avaliar tanto o papel da mídia quanto o do poder público nesses casos. No sofisticado processo industrial de produção na grande imprensa ? aliada com as brutais exigências de mercado, crises econômicas e deficiência na formação de novos jornalistas ? qualquer cidadão pode ser vítima, inocente ou não.
Aliás, o que falar da crise que perpassa o mercado publicitário e conseqüentemente a imprensa de um modo geral? Nunca as verbas oficiais de propaganda foram tão cobiçadas (veja que nem estamos mencionando as linhas de créditos dos bancos oficiais). Seria a suprema ironia ter de esperar do poder público informações mais "isentas" frente à delicada situação financeira da mídia privada.
Foi mais ou menos isso que o economista Paul Krugman disse em artigo recente publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Muitos norte-americanos preferiram se informar sobre a guerra no Iraque pela BBC inglesa, não por acaso, uma empresa pública.
Com tudo isso, assunto é o que não falta no 3? Na Boca do Povo. Reserve espaço na sua agenda e venha participar.
(*) Secretário adjunto do Núcleo de Comunicação; mais detalhes sobre a programação do 3? Na Boca do Povo, que tem entrada franca, no sítio <www.santoandre.sp.gov.br>