ESTATUTO DO TORCEDOR
"Cartolas e imprensa", copyright O Globo, 3/06/03
O Estatuto do Torcedor e a malograda rebelião que ele gerou entre os cartolas continuam a propiciar bons artigos, reportagens e entrevistas. Uma delas está no site Observatório da Imprensa. É uma entrevista assinada por Luiz Antonio Magalhães e Marinilda Carvalho com o jornalista Juca Kfouri que, como sempre, se sai esplendidamente na análise da imprensa e da cartolagem.
O texto introdutório e as perguntas são boas, à exceção de uma, que se revela infeliz e injusta com a imprensa esportiva.
É esta: ?Por que a imprensa é tão complacente com os dirigentes de clubes? Ouvimos no rádio e na tevê manifestações inacreditáveis de desinformação por parte dos cartolas ( em relação ao Estatuto ), e bem poucos, como você (Juca Kfouri) e José Luiz Portella (um dos responsáveis pela lei), ousaram contestá-los. Por que a benevolência??
Em primeiro lugar, quero me associar às homenagens ao Portella e ao Juca que Tostão já prestou em sua coluna, enaltecendo a luta e a importância de ambos na aprovação da Lei de Moralização do Esporte e na aprovação do Estatuto do Tocedor. Eles foram figuras proeminentes na vitória. Apreciando o trabalho jornalístico de Juca Kfouri, eu particularmente me orgulho de tê-lo como colega e amigo.
Daí a dizer, como dizem os entrevistadores, que os dois são dos ?poucos? a contestar os dirigentes de clubes, que a imprensa é complacente com esses dirigentes e que ela não reagiu à desinformação em relação ao estatuto demonstrada por esses mesmos dirigentes, vai uma imensa distância, uma imensa inverdade.
Os entrevistadores mostram em relação ao comportamento da imprensa esportiva – sobretudo a escrita – a mesma desinformação que os dirigentes mostraram em relação ao estatuto. A mesmíssima.
A reação da imprensa às manifestações realmente inacreditáveis de desinformação dos cartolas em face da lei foi imediata e unânime. Repito: unânime.
Todas as editorias e seus respectivos colunistas levaram ao público, com informação e análise, as causas e as conseqüências do levante dos cartolas. Ou pelo menos a unanimidade de editorias e colunistas sérios e independentes cuja opinião realmente conta.
Uma reação tão unânime que me dispensa de quebrar a cabeça para lembrar todos os nomes. Foram todas as editorias e todos os colunistas de prestígio na imprensa esportiva – colunistas que se batem pela moralização do futebol há muito mais tempo do que imaginam os entrevistadores.
No caso específico do GLOBO, inclusive o editor de esportes, Antonio Nascimento, juntou-se aos colunistas para escrever um artigo em que também condenava os cartolas.
Se, como lembram os entrevistadores, a Rádio CBN e a ESPN Brasil foram as primeiras a manifestar indignação (o que é verdade), isso se deveu, além da competência própria naturalmente, ao fato óbvio de que tevê e rádio são, por natureza, veículos de maior rapidez que os jornais.
No mais é uma excelente entrevista, em que o próprio Juca Kfouri exalta a atuação desta imprensa de que estou falando – que nada tem de complacente com dirigentes de clubes – não apenas no episódio do Estatuto, mas desde as CPIs do Câmara e do Senado, que inspiraram essas duas leis.
A imprensa esportiva, de uma forma geral, também tem sido vitoriosa como o Juca e o Portella."
UM ANO SEM TIM LOPES
"Viúva do jornalista critica polícia e Globo", copyright O Globo, 1/06/03
"A estilista Alessandra Wagner, viúva de Tim Lopes, espera por justiça. Para ela, a prisão do principal acusado do crime, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, e de seus comparsas não encerrou o caso. Em sua primeira entrevista após a morte do marido, concedida no dia 16 de maio, Alessandra questiona a conduta da Globo e da polícia, que não ouviu uma peça-chave no inquérito: a pessoa que denunciou a existência de um baile funk na Favela Vila Cruzeiro, no qual ocorreria exploração sexual de menores e tráfico.
Por causa dessa história, Tim subiu o morro. Ela acredita na possibilidade de o jornalista ter sido vítima de uma armadilha. ?Será que esse baile existiu?? Alessandra considera a hipótese de os criminosos terem atraído a Globo para a favela em represália à reportagem Feirão das Drogas, que deu a Tim um Prêmio Esso em 2001.
O repórter foi torturado, esquartejado, queimado e enterrado numa cova rasa, após passar por um ?júri? comandado por Maluco. Um dos algozes, Renato de Souza Paula, o Ratinho, havia sido preso graças à reportagem. Os traficantes envolvidos foram presos ou mortos.
A viúva disse que a Globo está protegendo o autor da denúncia, que teria sido retirado da favela. E quer saber onde estão o celular e o bloco dele.
?Quem é a Globo para dizer que essa pessoa não tem o que falar??
O inspetor Daniel Gomes confirma que a Globo sempre omitiu o nome da fonte e acusa a emissora de mentir sobre o que levou Tim Lopes à favela. ?Ele não foi filmar baile, pois pediu para o carro pegá-lo às 22 horas. O baile só começava uma hora depois.? Gomes diz que sofreu perseguição – ele acabou sendo afastado da delegacia da Penha e agora processa a Globo. O delegado Zaqueu Teixeira, que na época chefiava a Polícia Civil, acredita que, se tivesse sido avisada, a polícia poderia ter evitado o crime.
Em nota do diretor da Central Globo de Jornalismo, Carlos Henrique Schroder, a emissora informou que ?agiu com transparência ao revelar as circunstâncias em que o trabalho de Tim se deu, com firmeza ao cobrar punição exemplar dos culpados, e com ética, ao dar integral apoio à família? do repórter. A emissora confirmou que o baile existia e garantiu ter entregue à polícia os pertences de Lopes. ?A Globo agiu sempre com lisura e boa fé.?"
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"Após 1 ano, tráfico ainda manda no Alemão", copyright O Globo, 1/06/03
"Amanhã, faz um ano do assassinato do jornalista Tim Lopes, em 2 de junho de 2002. A prometida ocupação social do Complexo do Alemão, onde ele foi executado, ainda não saiu do papel e os traficantes continuam ditando as regras no conjunto de 13 favelas, que abriga 200 mil moradores, apesar de Elias Maluco seguir detido. Uma prova disso foi o ataque a policiais militares no dia 11 de maio. Dois PMs foram mortos por criminosos em plena luz do dia.
A ocupação social, que começaria na Vila Cruzeiro, onde Tim Lopes foi capturado, levaria ao Alemão profissionais de saúde e atividades esportivas, a fim de oferecer melhores condições de vida à população. A instalação do Grupo de Policiamento em Áreas Especiais (GPAE), que conseguiu reduzir a criminalidade no Morro do Cantagalo, em Copacabana, com um modelo bem-sucedido de policiamento comunitário, foi outro compromisso que terminou não honrado.
O alto da Favela da Grota, onde as escavações para encontrar o corpo do repórter revelaram um grande cemitério clandestino usado por traficantes para enterrar suas vítimas, seria urbanizado, segundo promessas do governo.
No dia 16, a reportagem do Estado, que no ano passado acompanhou diariamente as buscas pelos restos mortais do jornalista, voltou à Grota, sob proteção da PM, para evitar que os criminosos fizessem mais vítimas. Constatou que nada mudou.
A área que seria transformada em praça para os moradores continua um descampado. O chamado ?microondas?, gruta usada pelo bando de Elias Maluco para queimar seus inimigos, também ainda está lá. A polícia informou que planeja implodir a pedra.
O secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho, disse que as medidas não cumpridas são promessas da gestão passada, de Benedita da Silva (PT). E garantiu que a governadora Rosinha Matheus vai divulgar em breve uma série de projetos para o complexo.
Planos – Mas duas iniciativas bem-sucedidas, uma do governo do Estado e outra fruto do empenho de moradores, mostram que é possível mudar a trajetória de jovens da favela. Muitos já deixaram o tráfico e voltaram a estudar, como conta Jorge João Silva, diretor da organização não-governamental SOS Complexo do Alemão. Em três anos, ele conseguiu levar 4.168 jovens à universidade, graças a um cursinho pré-vestibular.
?O caso Tim Lopes chamou a atenção para a violência daqui. Poderiam ter aproveitado para mudar essa realidade, mas não fizeram nada. Todo mundo diz que aqui tem muito bandido, mas não falam que tem muito universitário?, disse Silva, que mantém o curso com pequenas doações.
Os garotos atendidos pela ONG vêm do projeto Vida Nova, da Secretaria de Ação Social, que oferece aulas de 5.? até a 8.? série do ensino fundamental em 50 comunidades e dá bolsas de R$ 100,00 para os estudantes não terem de trabalhar. Depois, os alunos são encaminhados para escolas regulares. Quem tem bom desempenho vira monitor do Vida Nova e passa a receber R$ 150,00 para ensinar a outros jovens.
Para mudar de vida, garotos que ganhavam até R$ 1 mil por semana no tráfico trocaram as armas pelos livros. E não se arrependeram. ?Não adianta ganhar muito dinheiro mas ficar encurralado no morro, fugindo da polícia. O dinheiro limpo eles podem gastar livremente?, acredita Silva. (Projeto SOS Complexo do Alemão: (0xx21) 8844-0782 ou (0xx21) 3903-0712)"
DIA DA IMPRENSA
"O Dia Nacional da Imprensa", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 30/05/03
"Afinal, o Dia Nacional da Imprensa é comemorado em 10/09 ou 01/06? Até 1999 a data era celebrada em 10/09, mas uma campanha da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) conseguiu mudar o dia. A ARI entregou uma minuta de projeto de lei ao deputado Nelson Marchezan, em 1998, sugerindo a mudança. Mas, por quê?
Até 1999, valia o decreto de Getúlio Vargas, que 60 anos antes vinculou o início da atividade jornalística no Brasil ao lançamento da Gazeta do Rio, jornal da Coroa Portuguesa, em 1808. Desde 2000, o Dia Nacional da Imprensa passou a ser comemorado em 01/06, porque foi nesta data que o Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa, circulou pela primeira vez.
A Gazeta do Rio não agradava os jornalistas. Eles não aceitavam ter um jornal nascido sob a censura da Metrópole como representante da imprensa brasileira. O diário foi o primeiro a circular oficialmente no Brasil, mas o Correio foi o primeiro jornal clandestino a ser lido na colônia – ele era impresso e editado em Londres, onde Hipólito ficou exilado, depois de ser preso em Lisboa sob muitas acusações. De acordo com o historiador Nelson Werneck Sodré, no livro ?História da Imprensa no Brasil?, o fundador do Correio disse: ?Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa devido à dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos?.
Cento e setenta e cinco exemplares do Correio Braziliense circularam pelo Brasil. O jornal foi publicado até 1822.
As comemorações
A ARI preparou a Semana Hipólito José da Costa / Dia da Imprensa (veja a programação abaixo), que teve início no dia 29/05. Além de homenagear a imprensa nacional, a idéia é valorizar também o fundador do primeiro jornal brasileiro. Alguns sindicatos, como o do Espírito Santo, Santa Catarina e Distrito Federal, também programaram eventos.
A Associação Maranhense de Imprensa decidiu fazer algo diferente: organizou uma manifestação para este domingo (01/06) em defesa da qualificação e da regulamentação profissional, que contará com o apoio do Clube dos Pára-quedistas do Maranhão. O evento será na Praia de São Marcos, a partir das 8h30, em frente ao Bar Capitão Gancho.
A Federação Nacional dos Jornalistas preparou o manifesto ?Imprensa, seu nome é liberdade?, em homenagem aos profissionais de imprensa brasileiros (leia-o na íntegra abaixo).
Confira a programação da ARI – Comunique-se traz apenas a agenda do dia 31/05 a 07/06:
31/05
11h – Bar Social da ARI: encontro de confraternização dos sábados
12h – Bar Social da ARI: apresentação do programa ?Conversa de Jornalista?, de n? 179 (22? deste ano), pela Rádio da Universidade.
02/06
11h – Memorial do Rio Grande do Sul: inauguração da exposição que homenageia os jornais mais antigos ainda em circulação no Estado, promoção da Secretaria de Cultura, Memorial, ARI e Museu Hipólito José da Costa.
20h – Templo Nobre Caldas Júnior, o Grande Oriente do Rio Grande do Sul e a ARI homenageiam o Dia da Imprensa e entregam a Medalha Caldas Júnior a Sérgio da Costa Franco.
05/06
18h – Sala de Reuniões Antônio Gonzalez: reunião especial da Diretoria Executiva da ARI, com convidados.
20h – Bar Social da ARI: encontro de confraternização
07/06
10h30 – Auditório da ARI: diversas homenagens e revelação de detalhes dos eventos que a ARI está desenvolvendo;
11h30 – Bar Social da ARI: encontro de confraternização com a participação do Centro Cultural Georges Aubert, de Garibaldi, e a degustação de seus produtos;
12h – Bar Social da ARI: apresentação do programa ?Conversa de Jornalista? n? 180 (23? deste ano), encerrando a programação da Semana Hipólito Jose da Costa.
Veja aqui a programação de alguns dos sindicatos:
Espirito Santo
As mobilizações do Dia Nacional em Defesa da Regulamentação Profissional no Espírito Santo serão realizadas em conjunto com o IX Congresso Estadual dos Jornalistas, que acontece na cidade de Domingos Martins, de 30/05 a 01/06, com o tema ?Formação para uma boa informação?. Serão discutidas, no Congresso, questões como o perfil a ser assumido pelos novos profissionais, a entrada dos jornalistas recém-formados no mercado, a relação docente-estudantes, a violência contra os jornalistas, os reflexos da crise econômica para a categoria e projetos na área social.
Brasília
Na capital federal, uma sessão solene em homenagem ao ?Dia da Imprensa, do Jornalista e um ano sem Tim Lopes? será realizada no dia 04/06. Ela será o centro da mobilização que marca o Dia Nacional em Defesa da Regulamentação Profissional.
Nos dias que antecedem a sessão solene, a Fenaj e o Sindicato de Brasília estarão distribuindo panfletos para divulgar o manifesto em defesa da profissão, junto às escolas de jornalismo e em outros pontos da capital federal.
Santa Catarina
Em Santa Catarina, o lançamento do livro ?Abusado?, do jornalista Caco Barcellos, em 03/06, irá marcar o Dia Nacional em Defesa da Regulamentação Profissional. Às 10h30, Caco Barcellos conversa com profissionais e estudantes na sede da entidade; à tarde, participa de um evento com alunos da Estácio de Sá; e à noite, realiza o lançamento oficial do livro no Centro Integrado de Cultura.
São Paulo
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo está organizando atos para marcar a passagem do Dia Nacional em Defesa da Regulamentação Profissional, em conjunto com os estudantes de jornalismo.
Agora, o manifesto da Fenaj:
?Na semana em que se comemora o Dia da Imprensa (1? de junho) e ao se completar um ano do trágico assassinato do jornalista Tim Lopes (2 de junho), a FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas e os 31 Sindicatos filiados querem fazer uma homenagem a todos os jornalistas profissionais brasileiros, àqueles homens e mulheres que fazem da sua atividade diária um serviço à sociedade, garantindo o direito fundamental do acesso à informação ética, plural e livre.
A FENAJ e os Sindicatos reafirmam os princípios que norteiam o jornalismo. Conclamam a sociedade para que seja nossa grande aliada na defesa da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, da democratização da comunicação e da informação voltada ao interesse público. E lembram que a defesa destes princípios exige jornalistas responsáveis, organizados, preparados e comprometidos com a sua formação profissional.?
Federação Nacional dos Jornalistas"