MERCADO DE TRABALHO
“Um pouco de alto astral”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/06/03
“As notícias da última semana e do começo desta são cabeludas. É demissão pra todo lado. Um circo de horror. Estamos entrando naquela fase em que demissão nem mais notícia é, tão banal esse assunto ficou entre os jornalistas.
Mas como não é só de notícia ruim que vive o mundo, mesmo o nosso pequeno mundinho, há no mercado algumas boas notícias. Se não dá para lavar a alma, ao menos mostra que também há coisa boa, dando certo.
O grupo O Dia – jornal e rádios O Dia FM e MPB FM -, por exemplo, retoma este ano a distribuição de bônus do Programa de Participação nos Resultados. Como a empresa está caminhando para atingir seus objetivos no 1? semestre, previu o adiantamento de 30% do valor devido, por cada funcionário, a título de PPR 2003. O valor será pago até o dia 15 de Julho. A projeção para o lucro do semestre é de 13,6 milhões. Realmente uma notícia alvissareira, pois há mais de ano que nenhum veículo de comunicação, salvo engano, paga bônus ou qualquer outro tipo de participação nos resultados (lucros) aos jornalistas.
A pequena editora Ponto de Vista, de Luís Leonel, passado o pesadelo, já começa a se assanhar e a colocar as manguinhas de fora, e está relançando dois títulos que havia descontinuado em função da crise. Um deles é a revista Investidor Individual, fechada em 2001, que volta a ser editada, agora porém com periodicidade bimestral. Isabel Campos, colega que foi da Folha de S. Paulo, é quem vai editá-la, sem prejuízo de outros trabalhos que venha a pegar, já que seu acordo com a empresa não prevê regime de exclusividade. Da mesma Ponto de Vista, está sendo relançada Energia e Mercado, publicação nascida newsletter e que depois de virar revista também foi atingida pela crise e desapareceu. Mas felizmente está de volta e para editá-la Leonel montou um pequeno núcleo de colaboradores que dá suporte ao trabalho.
Não são as únicas publicações ressuscitadas. Após dois anos fora do mercado, a 89FM, emissora de São Paulo, prepara o relançamento da Revista Rock, em parceria com a Sisal Editora. A publicação será dirigida por Roberto Pierantoni, que comandava os títulos Oficina Mecânica e Hot, na própria Sisal, com Cláudia de Castro Lima atuando como editora assistente. Contará, ainda, com a colaboração de frilas e da equipe de jornalismo da 89, dirigida por Luciana Curiati.
Temos, ainda, o lançamento da revista Relações Públicas, pelo Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas, projeto em gestação há meses sob a liderança de Flávio Schmidt, com produção da agência Fyi, de Carlos Ceneviva, colega que também responde como diretor responsável da publicação. A edição de estréia, que traz o presidente Lula na capa, começa a ser distribuída nesta quarta-feira (4/6). Entre os destaques estão a comparação entre os estilos JK e Lula (o presidente democrata e o presidente da democracia), o acordo que amplia RP na América Latina (envolvendo intercâmbio profissional entre o Brasil e os demais países do Continente), a evolução de RP nos últimos 50 anos e o ensino universitário de RP em nosso País. Interessados podem pedir a revista diretamente para o Conferp, através do e-mail consulterp@conferp.org.br .
Vale também um registro o esforço de reportagem do Grupo Estado (outro que está às vésperas de um gigantesco corte) na edição do suplemento especial em homenagem aos 95 anos de imigração japonesa no Brasil. Além do aspecto institucional, foi bem também no aspecto comercial. O trabalho foi dirigido por Eleno Mendonça e coordenado por Clay Scholz, e contou com a participação de colegas das várias editorias, boa parte deles de descendência japonesa. Mesmo às vésperas de um difícil momento – fala-se em mais de uma centena de demissões em todo o Grupo – a equipe soube se superar e fez aquilo que sabe, com o talento peculiar: bom jornalismo. Os mais radicais vão dizer que fizeram papel de bobos, pois a recompensa pelo esforço será (ao menos para alguns) a porta da rua. Coisas da vida. De qualquer modo, saiam ou fiquem, o que vale é que mesmo em circunstâncias adversas os bons profissionais colocam a dignidade acima dos problemas pessoais e profissionais. Oxalá ao menos para amenizar o corte uma atitude como essa sirva.
E até uma decisão favorável da justiça tivemos. Na última 6?.feira (30/5), o Tribunal Regional do Trabalho manteve sentença determinando que a Rede TV (Tevê Ômega na razão social) pague a indenização trabalhista aos antigos empregados da TV Manchete, o que engloba os salários atrasados desde 1999 e seis parcelas do Acordo Coletivo firmado com os sindicatos dos Jornalistas e Radialistas. A sentença exclui o pagamento de indenização por danos morais.
Por fim, embora não seja mais do que a obrigação, sobretudo depois de dois anos de uma grave crise, a Gazeta Mercantil está pagando os salários em dia já há algumas semanas. Dentro de um mês, a propósito, saberemos se o jornal terá ou não novo controlador.”
JORNAL DA IMPRENÇA
“Historinha de português”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 5/06/03
“Trechinho da entrevista que nosso considerado José Paulo Lanyi fez em sua coluna neste portal com Carlos Eduardo Lins da Silva, Diretor-adjunto do jornal Valor Econômico, na série intitulada Jornalismo de Guerra (III):
?JPL – Qual é a razão pela qual a grande maioria dos veículos não enviou correspondentes a Bagdá?
CELS – Pela informação que o próprio Sérgio Dávila nos deu aqui, houve uma estratégia equivocada dos outros veículos de tentar obter a permissão do governo iraquiano para entrar em Bagdá nos países vizinhos e não no próprio Brasil. Pelo menos dez colegas ficaram ou na Jordânia ou no Kwait tentando obter o visto de entrada no Iraque. Não conseguiram, enquanto que o Sérgio, que ficou aqui mesmo na embaixada iraquiana no Brasil, acabou obtendo e se tornou o único a estar lá.?
Janistraquis me chamou: ?Considerado, quer dizer que, enquanto a maioria dos gajos sofria debaixo daquele solão do deserto, com areia pelos joelhos e no meio de carneiros e camelos, o esperto Sérgio Dávila, que certamente escuta os conselhos do sogro, Zé Hamilton Ribeiro, foi pelo atalho e acertou tudo em Brasília mesmo… Agora me diga: se essa história tivesse acontecido em Portugal, a turma daqui não iria passar um mês inteiro a gozar a portuguesada??. É verdade. E o mais incrível é que os soldados americanos, todos eles, sem nenhuma exceção, entraram no Iraque sem visto algum!!!
******
O amor, ah!, o amor…
A indispensável fez entrevista com o psiquiatra da moda, Içami Tiba, e tascou no título: Amor demais estraga. Porém, como o entrevistado diz no ?olho? que ?os pais precisam ser duros para manter os filhos longe das drogas?, Janistraquis concluiu que Veja considera o amor uma droga. ?Ou então?, raciocinou ele, ?o título foi apenas para que o leitor fique na ilusão de que a entrevista do Doutor tenha ligação direta com a personagem Heloísa, a mulher que ama demais na novela das oito…?. Faz sentido.
******
Cassetete na gramática
Armado de sua caneta vermelha, Roldão Simas Filho lia o Correio Braziliense, quando deparou com o título PMs fazem curso para atender turistas; logo abaixo, o texto dizia: ?(…)A turma de 41 oficiais receberam ontem o certificado de conclusão dos estudos?. Contrariado, o Diretor de nossa sucursal escreveu ao jornal e pediu até mesmo a intervenção da competente Dad Squarisi, a pessoa que mais conhece o idioma no Distrito Federal e é colunista do Correio: ?Socorro! A turma receberam é de doer nos ouvidos?, queixou-se Roldão. Janistraquis acha que, se é pra receber turista assim, na base do analfabetismo, é melhor a PM voltar às origens e baixar o sarrafo nos visitantes. ?Dói menos?, explicou.
******
Cabra macho
O considerado leitor Álvaro Bueno enviou este espetacular e inesquecível título do jornal gaúcho Zero Hora: Assaltante morto fugiu do presídio de Passo Fundo. Todavia, meu secretário quis devolver a colaboração ao remetente, a pretexto de que não havia a menor novidade no acontecido: ?Considerado, o mundo inteiro sabe que em Passo Fundo, ao contrário de Pelotas, os caras são tão machos, mas tão machos, que se você pegar um na bandidagem e não matar bem morto ele foge e aparece pra assaltar em Porto Alegre; isso é comuníssimo!?. O morto que fugiu se chama (ou se chamava) Renato Custódio da Silva e tinha (ou ainda tem) 33 anos de idade.
******
Ótima lição(e de graça!)
Sob o título Preços caem e risco de deflação assusta os EUA, estava escrito na página de Economia do Estadão: ?(…) O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pôs a deflação no centro de suas preocupações, informando que trabalhará para ?prevenir uma queda substancial e indesejada da inflação?. Ninguém percebeu, somente o Diretor de nossa sucursal paulistana, Daniel Sottomaior: ?Vejam só, prevenir. Aqui, trata-se de tradução literal do falso cognato prevent, que significa impedir. O campo semântico é próximo, mas os conceitos ainda assim são significativamente diferentes. No Brasil, prevenir geralmente é reflexivo e é sinônimo de precaver-se. Até a transitividade é outra?.
Aprende, pessoal, aprende, que Sottomaior ainda não está cobrando pelas lições!
******
A TV de Paiva Netto
O jornalista, escritor e compositor José de Paiva Netto inaugurou no dia 30 de maio a geradora nacional da Rede Mundial – A TV da Educação, canal 11, em São José dos Campos. Os Correios passaram a perna no destinatário e o convite só chegou aqui no dia 2 de junho. Assim, Janistraquis e eu nem chegamos a retirar do guarda-roupa os ternos que costumamos vestir em dia de eleição; perdemos a festa, justíssima vitória de Paiva Netto, este homem talentoso, honesto e decente que o mau jornalismo tentou, em vão, prejudicar.
******
Nota Dez
O melhor da semana é da lavra do Mestre Affonso Romano de Sant?Anna, em sua coluna de O Globo, ao se referir à poesia: ?(…)Embora todos digam ?minha vida daria um romance? pouquíssimos se lançam à aventura de escrever um romance. Mas baseadas no ditado – ?de médico, poeta e louco todos nós temos um pouco? – as pessoas, num determinado momento, sobretudo na juventude, devem ter composto um poema qualquer.?
******
Errei, sim!
Janistraquis trouxe-me explosiva página do Estadão sobre a guerra no deserto, em que se lia este título: Aviões B-12 preparam ação. Surpreso, perguntei que aviões seriam esses, posto que as ?fortalezas voadoras? de antigamente eram B-29 e as mais recentes, B-52. Meu secretário, que arranja explicação para tudo, como um editor de Veja, disparou: ?este avião, considerado, é o mesmo B-52, só que mais vitaminado…?. (fevereiro de 1991)”
LÍNGUA PORTUGUESA
“O português dos gringos”, copyright Jornal do Brasil, 8/06/03
“O inglês tem presença garantida em nossa língua. Mas é preciso tomar cuidado com certas conclusões apressadas. Já se disse que arigó veio da pergunta where are you going to? (para onde você está indo?), que engenheiros ingleses e norte-americanos teriam feito com freqüência a andarilhos brasileiros. Os gringos queriam saber se eram trabalhadores buscando emprego na construção das ferrovias. Ainda não foi possível comprovar tão inventiva hipótese.
Também a palavra gringo tem tido insólita explicação. É provável que tenha vindo do espanhol gringo, provavelmente radicado em griego – o eclesiástico que falava grego ou latim à vista de todos e não era entendido pelos outros – que, nasalado, virou griengo e depois gringo, indicando estrangeiros, sobretudo europeus e norte-americanos, que viajaram ou emigraram para a América do Sul. Mas é corrente outra explicação. Capatazes, atuando na construção de nossas ferrovias, mandavam, em inglês, que o trabalhador, ao sinal verde, avançasse com o trole: green, go! (verde, vai!). Robert Hendrickson, autor de Word and phrase origins, tem mais uma hipótese. Além do green coat, uniforme verde dos soldados americanos na guerra contra o México, um dos versos da canção do poeta escocês Robert Burns, que entoavam, fala em ?green grow?.
Uma outra hipótese é que derive do inglês greenhorn, gado mocho, isto é, sem chifres. Ou dotado de pequenas protuberâncias no lugar deles. Esses bois não eram adequados aos trabalhos da lavoura, não se podia sequer ajoujá-los, ligá-los um ao outro para puxar carros e arados.
O vocábulo passou depois a designar, ainda no século 16, os recrutas do exército britânico que ainda não sabiam manejar as armas. Posteriormente foi aplicado aos imigrantes que iam para os Estados Unidos e não sabiam fazer nada, sequer trabalhar a terra, semelhando aqueles bois e recrutas. O Brasil, assim como diversas outras nações que acolheram imigrantes, deve muito aos gringos. E eles a nós.
Uma outra palavra, envolta em curiosidade, é bonde, que procede do inglês bond, variação de band, fita, laço, tendo também o significado de algema. Ganhou o sentido de vínculo no seguinte percurso na língua inglesa: originalmente designou ação de levar amarrado o devedor, por algemas nos pulsos ou grilhões nas pernas, à presença do credor para acertar seus débitos. A variante band aparece na palavra husband, marido, esposo, em que hus deriva de house, casa. Marido é, antes de mais nada, no inglês, aquele que cuida da economia da casa, está a ela ligado por band, laço, obrigação, vínculo ou, para os pessimistas, algema, de que o anel é metáfora. Nesse caminho, bond passou a significar obrigação, título, garantia.
Mas no Brasil, a partir de 1868, veio a designar o veículo, ainda puxado por tração animal, da Botanical Garden Rail Road Company, empresa norte-americana. Para facilitar o troco, o passageiro recebia um título em forma de bilhete – bond – em que estava estampada a figura do veículo, que passou a ser designado por nome inglês, depois aportuguesado para bonde.
A denominação mesclou-se a outro tipo de bond, título negociável, referente a empréstimo nacional de juros pagáveis em ouro, realizado em agosto de 1868 pelo Visconde de Itaboraí, ministro da Fazenda do Império do Brasil. Visconde de Itaboraí era o título nobiliárquico de Joaquim José Rodrigues Torres, político, financista, um dos fundadores do Banco do Brasil. Teve grande repercussão a entrega desses bonds – como eram denominadas as cautelas das apólices do empréstimo -, que ocorreu na mesma época em que os bondes entraram em funcionamento.
Os bondes puxados por cavalos ou burros duraram até 1892, quando foram substituídos por bondes elétricos, já em operação nos EUA desde 1884. A primeira viagem deu-se no dia 8 de outubro, na então sinuosa linha da Praia do Flamengo. Segundo nos informa C. J. Dunlop em Rio Antigo, I, p. 124, a cidade parou para assistir à inauguração do primeiro bonde elétrico da América do Sul, lotado das mais altas autoridades, inclusive o presidente da República, além de representantes da imprensa e da fina flor da sociedade carioca: ?partiu este bonde, sob os aplausos do povo, pouco depois das 13 horas, da curva do antigo Teatro Lírico, subiu a rampa da rua Senador Dantas, deslizou suavemente pela Rua do Passeio, Cais da Lapa, Praias do Russel e do Flamengo e, 12 minutos depois, entrava na usina termo-elétrica da Rua Dois de Dezembro?.
A primeira linha de bondes puxados a burros em São Paulo surgiu em 1872, ligando a Rua do Carmo à Estação da Luz. Os bondes elétricos foram introduzidos apenas em 1900 e iam do largo São Bento à Barra Funda, onde morou Antônio da Silva Prado, prefeito de São Paulo por longos treze anos. Mais tarde faziam ponto final na praça que recebeu o nome do alcaide, que remodelou inteiramente a cidade. Em 1956 havia 499 bondes operando em São Paulo, número que foi diminuindo até que, em 1968, foi extinta a última linha regular, que ligava Santo Amaro à Vila Mariana.
Como se vê, os gringos trouxeram mais do que novas tecnologias para os brasileiros. Deram-nos também novas palavras.”