Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Diego Assis e Daniel Castro

TV PAGA EM CRISE

“TV paga cresce menos do que o esperado e revê suas projeções”, copyright Folha de S. Paulo, 8/06/03

“Era uma vez um negócio que prometia ser a galinha dos ovos de ouro: a TV paga no Brasil. O site da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estampa até hoje a projeção, feita nos anos 90, de que o país terá no final deste ano 10 milhões de domicílios assinantes, quase um quarto de todos os lares com televisores no país. Em 2005, esse número saltará para 16,5 milhões, crê a Anatel.

A realidade é outra. Depois de experimentar um crescimento de 18% em 2000, a TV paga brasileira estagnou em 2001 e caiu em 2002. No final do ano passado, eram 3,458 milhões os domicílios que pagavam em média R$ 60 por mês para ter acesso a canais de jornalismo, séries, filmes e documentários. Neste ano, esse número pode ser menor ainda.

Até mesmo projeções mais realistas do que as da Anatel, como as da empresa de pesquisas de TV por assinatura PTS, erraram.

A PTS projetava em 2001, em um cenário pessimista, que naquele ano o total de domicílios assinantes do país seria de 3,852 milhões. Os números reais foram quase 300 mil menores (3,559 milhões). Na semana passada, a empresa divulgou um novo estudo com novas perspectivas. A projeção que fazia para 2001 vale agora só para 2008, quando estima, em cenário conservador, que haverá um mercado de 3,884 milhões de domicílios com TV paga.

Por que as projeções falharam? Basicamente, diz o mercado de TV paga, porque levavam em consideração que o Brasil teria um crescimento econômico acelerado. Como os números macroeconômicos do país pioraram nos últimos anos, a promissora TV por assinatura estagnou.

?Se há crescimento econômico, aumentam os domicílios de classes A e B e consequentemente a penetração da indústria?, afirma Otavio Jardanovski, diretor da PTS. ?Antes [em 2001], eu tinha uma perspectiva de crescimento, mesmo em cenário pessimista, porque vinha de um histórico de crescimento [os 18% de 2000]. Agora tenho um histórico de estagnação nos últimos dois anos?, diz Jardanovski.

?Nesse cenário de forte estagnação econômica, até me surpreende que a TV paga tenha mantido seu nível de atividade. A TV por assinatura não é um produto essencial, mas ainda é um objeto de desejo?, afirma Alexandre Annenberg, diretor executivo da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura).

O potencial de sedução dos canais pagos, no entanto, não é mais o mesmo. Segundo pesquisas do Ibope, 45% dos telespectadores que não tinham TV paga em 2000 pretendiam se tornar assinantes. Em 2001, esse percentual caiu para 29%. No final de 2002, já era de 17%. Desses, a maioria (55%) afirmava estar disposta a pagar no máximo R$ 40 de mensalidade. Pacotes a esse preço até existem, mas o conteúdo (a maioria dos canais são abertos ou obrigatórios, como TV Senado) é frustrante. Pacotes considerados completos, com os melhores canais de filmes e esportes, estão na faixa de R$ 100.

Para sair da crise, segundo a ABTA, a TV paga precisaria ter pelo menos 6 milhões de assinantes -o que, segundo a PTS, só deve ocorrer em 2008, e em cenário otimista, com a economia em alta.

Para chegar a 6 milhões de domicílios, segundo Annenberg, o setor teria que aumentar sua penetração na classe C, hoje de 5% (cerca de 600 mil assinantes), para pelo menos 15%. Para isso, as mensalidades teriam que cair. Há duas barreiras econômicas: o custo do decodificador e a carga tributária (31%). ?Seria importante se pudéssemos ter pacotes isentos de impostos?, sonha Annenberg.

Mas há outros obstáculos no caminho da TV paga. Endividadas, as grandes operadoras pararam de investir. Faltam pacotes montados de acordo com a vontade do assinante, que tem a sensação de que paga por algo que não usa. E a TV aberta brasileira é muito forte -tem mais de 70% da audiência dos domicílios com cabo.”

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“Internet já faz concorrência”, copyright Folha de S. Paulo, 11/06/03

“Se você tivesse que optar por um celular, um computador com acesso à internet ou uma assinatura de TV paga, qual seria?

De acordo com uma pesquisa do Ibope realizada em outubro passado, a internet já é, de longe, a nova vedete do consumidor, com 61% de preferência contra 18% de pessoas que prefeririam o celular e 14% que assinariam uma TV. Outros 6% não escolheriam nenhum dos três, e 1% não opinou.

?Além de trazer um retorno muito maior, na internet você realmente escolhe o que e quando vai ver?, defende o estudante Rodolfo Herrera, 20, que trocou a assinatura da DirecTV em sua casa pela chamada banda larga (conexão em alta velocidade) de internet há dois anos. ?E hoje dá até para assistir a notícias de TV nos portais de internet?, reforça.

Para a aposentada Vanderloiza Martins Pires, 60, que chegou a ter dois pontos de TV a cabo em casa, a ?falta de novidades? na programação da Net está fazendo com que ela e o marido pensem em ?desconectar? de vez o serviço. ?Pelo preço que está e a situação pela qual o país está passando, acho que não compensa?, lamenta Pires, que sabe de cor o número e o estilo de cada um dos canais Telecine de seu pacote de programação. ?Mas eles repetem 550 vezes o mesmo filme?, reclama.

Já o administrador de empresas Fabio Landim Garcia, 24, conta que não fica sem a sua TV paga. Assinante da TVA por um ano, Garcia trocou o serviço pelo da Net, que oferece pacote especial para assistir aos jogos do Campeonato Brasileiro. ?Os canais de esporte são os mesmos, mas pela Net posso acompanhar os jogos do meu time?, diz ele, que divide as despesas do pacote com um amigo torcedor do mesmo time.

Por fim, o caso da advogada Erika Nishiwaki, 26, fica bem no meio do caminho. Em busca de acesso rápido à internet, Nishiwaki, que mora em Santo André, optou pela assinatura do cabo da Canbrás (TVA), que reúne dois serviços em um, TV e internet. ?Contratei o serviço por causa da internet, mas para isso sou obrigada a ter o pacote básico da TV. Tem o ?Friends?, o Discovery Channel, e mal assisto.?”

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“Para Globosat, em 2004 TV paga melhora”, copyright Folha de S. Paulo, 8/06/03

“Diretor-geral da Globosat, principal programadora de canais pagos brasileira, Alberto Pecegueiro diz acreditar que o mercado de TV paga vai melhorar em 2004. ?Temos razões para acreditar que a base de assinantes volta a crescer no ano que vem?, diz.

Essas razões são, de acordo com Pecegueiro, as renegociações das dívidas das principais operadoras, como a Net, e o pacto entre programadoras e operadoras pelas desdolarização dos custos de programação. Segundo Pecegueiro, 95% dos programadores já aceitaram cobrar por seus canais em reais, e não mais em dólares.

Otimista, mas cautelosa, a Globosat já planeja uma reformulação no canal GNT, que ficará mais feminino. E a HBO pretende lançar novos canais até o final de 2003.”

“Cadê o meu canal?”, copyright O Estado de S. Paulo, 8/06/03

“Você liga a TV, um belo dia, e descobre que o canal a que costumava assistir, no número 50, não está mais ali. Zapeia. Tenta números mais altos.

Nada. Tenta outros, até encontrá-lo, ou descobrir que a sintonia simplesmente não faz mais parte do pacote pelo qual paga. Afinal, o que leva as operadoras a mexer e remexer na ordem dos canais do seu dial?

Um dos casos mais polêmicos aconteceu com o alemão Deutsche Walle, na Net, do número 29 para o 5. A operadora tirou o canal do ar em razão da obrigatoriedade de acomodar no line-up (grade de canais) a TV Justiça. Após inúmeras reclamações, a Net colocou o canal alemão novamente na grade, porém no número 5, ao lado dos obrigatórios (como TV Senado, TV C&acacirc;mara, Comunitário e Universitário) – faixa pouco procurada pelo assinante da Net:

a maioria dos telespectadores ainda carrega o hábito de iniciar seu zapping pelo primeiro canal aberto, a TV Cultura (16, no caso da Net São Paulo), esquecendo as freqüências localizadas em numerações inferiores.

?Não estamos satisfeitos em estar no canal 5, pois existe muita interferência no sinal, o que irrita os telespectadores?, diz Phoebe Clarke, do escritório responsável pela distribuição do Deutsche no Brasil. ?Já reclamamos com a Net muitas vezes, mas nada acontece. Seria melhor estar no canal 29, junto com outros canais étnicos, do que estar no meio dos canais obrigatórios e públicos?, completa.

Diretor de Marketing da Net Serviços, Ciro Kawamura diz que ?não existe zona nobre, já que o line up está organizado por seleção?. ?Os mais assistidos estão em diversos segmentos do line up, como Globo, Sportv, Multishow e Telecine.?

?Empacotando? canais – Apesar de alguns canais ainda parecerem perdidos no line up da Net, que atualmente tem 1,3 milhão de clientes no Brasil, a operadora informa que procura agrupar seus canais por conteúdo – o que só endossa a insatisfação do Deutsche. Kawamura explica que nem sempre isso é possível por causa do chamado ?empacotamento? de emissoras. O Animal Planet, que poderia estar perto de seus semelhantes – Discovery Channel (51) e do National Geographic (52), por exemplo -, só está na freqüência 69 porque pertence a um pacote mais nobre. O mesmo, segundo ele, se aplica ao fato de o People & Arts (33), um canal de documentários, não estar perto do GNT, e sim entre o Futura (32) e o AXN (34): o People & Arts pertence a um pacote mais básico.

Em 2001, a operadora fez suas maiores mudanças com o objetivo de agrupar os canais de maneira segmentada. Entre as trocas, destacam-se: Nickelodeon (de 33 para 44), Fox Kids (de 34 para 45), Warner (de 49 para 47), TNT (de 47 para 48), Sony (de 50 para 49), Fox (de 53 para 50) e CNN Internacional (de 48 para 53).

Na TVA, com 320 mil assinantes, os canais ditos obrigatórios estão espalhados. A Bandeirantes (mantida no número 13) está entre a TV Legislativa e o Canal Comunitário. A CNN Espanhol encontra-se longe dos demais canais de notícias estrangeiros, assim como o alemão Deutsche Welle.

Não há zona para canais esportivos (Bandsports está no número 66, entre a TV Câmara e a TV Cultura & Arte). TNT anda perdido entre ESPN Internacional e Boomerang (de desenho animado).

Gerente-executiva de Programação da TVA, Maria Fátima Oliveira explica que a operadora faz constantes pesquisas com os assinantes e a que está sendo feita atualmente também aborda a questão da divisão dos canais por temas.

?Se o assinante quiser mudanças nesse sentido, serão efetuadas?, garante a executiva.

Critérios básicos – Embora essa cartilha disponha de algumas regras básicas, cada operadora pode disponibilizar seus canais a seu modo. A Sony, por exemplo, pode estar no canal 49 (na Net e Sky), no 109 (DirecTV) ou 36 (TVA). O Cartoon, que é 46 na Sky e na Net, vira 153 na Directv e 43 na TVA.

A numeração de canais já não é problema para assinantes da Sky e Directv, operadoras com som e imagem digitais, distribuídas por meio de antenas parabólicas. Com mais espaço em seu line up, ambas acomodam suas emissoras em menus temáticos: esporte, infantis, variedades, filmes, língua estrangeira, etc., facilitando a busca pelas preferências.

Nos casos da Net e da TVA, além da limitação de freqüência, é necessário seguir a lei de regulamentação da TV a cabo. Ambas são obrigadas a disponibilizar os canais VHF e UHF regionais na mesma seqüência da TV aberta. Também é a lei que obriga essas operadoras a distribuírem todos os canais de acesso público: TV Senado, TV Câmara, TV Legislativa, Comunitário, Universitário, NBR e TV Justiça.

O empacotamento de canais é o fator mais importante na distribuição numérica. Os canais abertos estão dispostos na numeração baixa, seguida dos canais ?básicos? de TV paga (como a Sony, Cartoon, CNN Internacional, etc.).

Os ditos ?nobres? ficam em freqüências mais altas, o que dificulta a pirataria do sinal. Eles são ?embaralhados? (decodificados) para evitar a cópia da sintonia. Pelo mesmo motivo, os canais de pay-per-view e à la carte (como os eróticos) estão nas numerações mais altas.

Line up personalizado – De acordo com pesquisas realizadas pela DirecTV, seus assinantes (hoje, beiram os 500 mil) mantêm outra relação entre os canais e seus respectivos números. Não costumam procurar as emissoras pelos números, e sim pelo nome da emissora.

?As pessoas estão acostumadas a zapear como na TV aberta e no cabo: indo de canal em canal. É uma questão cultural. Zapear na DirecTV é diferente. O assinante procura os canais no guia que aparece na tela e a referência principal não é o número, e sim o canal em si?, comenta Cláudio Zylberman, diretor de engenharia da operadora. ?A TV é como uma geladeira, um fogão. Conforme a tecnologia vai avançando, os eletrodomésticos vão melhorando.?

Atualmente, a DirecTV tem capacidade para 500 canais e utiliza somente 150 – do 101 ao 1.000, sempre números ímpares. Para agilizar a procura, a operadora oferece quatro tipos de guias. Também é possível elaborar um line up personalizado. ?Não somos nós que falamos quais canais são importantes e quais não são. O telespectador pode criar o seu próprio line up, selecionando os prediletos. Pouco importa onde está cada canal.?

A Sky, que tem 146 canais e 730 mil assinantes no País, não usa o conceito da numeração – estimula seus clientes a irem direto aos canais Mosaicos (que são os menus). Ao ligar o sistema, o telespectador encontra o menu principal. A operadora acomodou os canais por gênero, dois anos após implementação no Brasil, por exigência do assinante. Durante jogos de futebol, é possível escolher ângulos de câmeras adicionais. Há interatividade em outros canais, como Globo News e Fox News. Semelhante aos programas de computador, é possível selecionar opções na tela, como, por exemplo, ler as últimas notícias do dia.”