Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Renata Gallo

A GRANDE FAMÍLIA

“?Adoro quando o Lineu pira?”, copyright O Estado de S. Paulo, 6/06/03

“Parece estranho, mas Marco Nanini nunca viveu nem um terço das loucuras do seriado A Grande Família. Parece perfeito vê-lo na pele de Lineu, mas a verdade é que o ator cresceu apenas com a companhia dos pais. Por causa do ofício de seu pai, hoteleiro, Nanini morou em cinco Estados diferentes, quase sempre em um quarto de hotel. Triste? ?Parece história do Nanini, o Feio, mas minha vida era bem gostosa?, diz, aos risos. Parece que o contraponto da vida real deu a Nanini um bom motivo para ele ir à forra com Lineu.

Estado – Alguma história retratada no episódio já ocorreu na sua vida?

Nanini – Meu pai era 20 anos mais velho que minha mãe e eu tinha cinco meios-irmãos, que eram bem mais velhos. Meu pai era hoteleiro. Por isso, vivi em Manaus, Belo Horizonte, na Bahia, Recife e, finalmente, no Rio. Não me lembro de nenhuma história, até porque não tenho filhos nem irmãos. Mas sempre tive muitos amigos.

Estado – Alguma história da sua vida já inspirou algum episódio?

Nanini – Não, por isso que eu já falei.

Estado – Às vezes, quando está interpretando, sente que já passou por aquela situação?

Nanini – Existem os qüiproquós de comédia. O problema é que eu só tenho um neurônio e ele não funciona direito. Não consigo me lembrar de uma situação específica. Gosto muito do lado certinho do Lineu, que quer ser justo, mas, ao mesmo tempo, é meio louco. Me identifico muito com ele.

Estado – Qual o diagnóstico do sucesso do programa? Vocês acreditam que as famílias se identificam?

Nanini – Tenho a impressão de que, por ser uma família, a identificação é muito rápida. E é uma família complicada, mas muito amorosa. Todos têm uma ternura por eles. E, por ser um humor limpo, sem baixaria, pega uma faixa etária extensa. Começamos com uma falta de pretensão, devagar, pelas beiradas, e tivemos muita sorte de ter uma equipe extraordinária. A gente gosta muito do que faz.

Estado – Como é o retorno nas ruas?

Nanini – O retorno é muito interessante, abrange a dona de casa, o guardador de carro, as crianças, a classe média. Todos muito carinhosos. E engraçado que eles sempre perguntam dos outros atores. Falam: ?Aquele teu genro vai te matar?, ou ?Você tem de ser mais duro com seu genro?. Às vezes, o pessoal do interior, diz: ?Vem fazer uma visita e traga sua patroa? (risos). Eu acho isso muito bom. Dá para sentir que o programa tem uma polaridade de espectadores muito interessante.

Estado – Qual é o segredo para que uma série fique tanto tempo no ar?

Nanini – Não sei, pois, se soubesse, só faria sucesso na minha vida. Mas acho que é aquele negócio da equipe e do grupo de atores, que se dá muito bem. O texto também é muito bom. Eu adoro quando o Lineu pira, quando ele bebe, ou naquele dia que ele comeu um bolinho de maconha.

Estado – Vocês têm medo de que a série se esgote e o público se canse?

Nanini – A gente sempre se questiona sobre isso. Quando teremos de fazer nossa aterrissagem. Na verdade, a gente nem sabe se vai haver programa no próximo ano. Não temos essa ansiedade. Queremos curtir o momento e fazer o que há de melhor. O humor do programa tem um lado perigoso. Se ele fica muito crítico, perde a credibilidade. Nos preocupamos com o tom.

Estado – A princípio, seriam só 16 episódios e, na época, você e Marieta disseram que não queriam se envolver com algo muito longo. Valeu a pena?

Nanini – Valeu muito a pena. A convivência é muito gostosa e, com certeza, vamos sentir saudade quando acabar. Mas também estamos aproveitando muito.

Estado – Há algum Agostinho na sua vida?

Nanini – Ah, sempre aparece uns malandros na vida da gente, mas eu corto a relação imediatamente. Esse negócio de aturar essa gente é com o Lineu. Se bem que o Agostinho é diferente, tem um sentimento bom.

Estado – Já teve de aturar sogro/sogra ou genro/nora morando em casa?

Nanini – Não tenho sogro, sogra, genro, nora, nem ninguém (risos).

Estado – O ibope cresceu depois que se abandonou a tentativa de atualizar os textos de Oduvaldo Vianna Filho. O que restou da ?Grande Família? do Vianinha?

Nanini – O Vianinha foi um ótimo ponto de partida para nós criarmos a situação dos personagens. Foi muito bom começar com ele e conhecer seus textos. Em contrapartida, a época era outra. Teve situações que o Cláudio Paiva teve de juntar dois episódios em um só, pois o ritmo de hoje é outro. Eu acho que foi bom enquanto durou e ótimo quando acabou. Pois daí pudemos atacar outros pontos que são mais atuais, como a violência. O Vianinha era muito sério, todos os personagens têm profundidade. Isso deu uma base para a gente continuar quando a fonte secou. Daí veio a nossa onda criativa.

Estado – Vocês interferem no texto na hora de gravar?

Nanini – Não exatamente. O Maurício Farias tem muito cuidado com o texto. A gente já sabe que o texto final está pronto. E a gravação não pode parar. Mas é bem divertido. Todo mundo é muito gozado. É um cotidiano ótimo.”

***

“?Mãe só muda de endereço?”, copyright O Estado de S. Paulo, 8/06/03

“Se Nenê sempre tem uma palavra de consolo para um amigo ou parente, Marieta Severo não é diferente. A atriz, que vive a dona de casa Nenê, diz que se reconhece em várias atitudes da personagem. ?Coisa de mãe?, explica. Ao contrário de Marco Nanini, Marieta teve uma vida familiar intensa. Cresceu rodeada de primos e irmãos e, agora, viaja com freqüência para encontrar os netos. E, tal qual Nenê, Marieta também já deu abrigo a muita gente em casa: genro, sogra e amigos, muitos amigos.

Estado – Alguma história retratada no seriado já ocorreu na sua vida?

Marieta – As famílias são todas parecidas e, em 88 histórias, é claro que alguma coisa já ocorreu na minha família, que, por sinal, é bem normalzinha. Eu tenho dois irmãos e três filhas, genros e netos. Já passamos por muitas situações engraçadas.

Estado – Alguma história sua já inspirou algum episódio?

Marieta – A gente conversa bastante sobre histórias, comportamentos e sensações que já tivemos. O Cláudio Paiva é muito presente. Mas é difícil lembrar… Tenho uma história de vida bem familiar, mas as histórias acabam se misturando.

Estado – Ao interpretar, você já teve a sensação de que já tinha vivido aquilo?

Marieta – É aquele negócio: mãe é tudo igual, só muda o endereço. Reconheço em mim várias falas e atitudes da Nenê. Tem reações que leio que sei que eu, Marieta, faria. Teve um capítulo que terminava com a Bebel triste. Não tinha nenhuma marcação, mas fui lá e a coloquei no colo. Tem coisas que são de qualquer mãe.

Estado – Qual é o diagnóstico do sucesso do programa? Vocês acreditam que as famílias se identificam?

Marieta – O público se reconhece muito. O programa retrata a síntese de uma mãe dentro de uma casa. A Nenê reúne as melhores qualidades de uma mãe, por isso ela é adorável, afetuosa e compreensiva. Ela consegue ver o ângulo de cada um e, às vezes, é até meio ingênua. Ela vê o ângulo até do Agostinho! Mas eu adoro que ela seja assim.

Estado – Como é o retorno nas ruas?

Marieta – É incrível, as pessoas olham para mim e logo abrem um sorriso. Sei que é para a Nenê. Eu viajo muito e as pessoas dizem: ?Por que o Lineu não veio?? Elas perguntam como se eu tivesse a obrigação de viajar com o Lineu. Como eu pude deixar alguém da família sozinho em casa? (risos)

Estado – Qual é o segredo para que uma série fique tanto tempo no ar?

Marieta – A base do programa é o afeto. E os temas são abordados sempre de um modo construtivo. Isso não significa final feliz. O programa resgata um espaço de identificação do brasileiro. É a nossa melhor imagem na tela, mesmo que sejam mostrados nossos defeitos e dificuldades. O Agostinho é um malandro inofensivo. Não há uma grande cafajestada. Aliás, a família é vítima da cafajestada, da violência. A melhor qualidade do brasileiro é exatamente lidar com as adversidades, ter jogo de cintura e humor.

Estado – Vocês têm medo de que a série se esgote e o público se canse?

Marieta – A gente vem numa ascensão. Devido à modificação de linguagem do Maurício Farias, da mudança do horário também. E devido a uma equipe que não se acomoda, que não canso de aplaudir. Na hora que a gente cansar, não tem problema. Tudo na vida é um ciclo. Saberemos nos despedir e inventar outra boa história.

Estado – A princípio, seriam só 16 episódios e, na época, você e Nanini disseram que não queriam se envolver com algo longo. Valeu a pena?

Marieta – Supervaleu a pena. Tenho um orgulho enorme do programa. A gente é feliz e sabe que é feliz. Tive mesmo medo de ficar muito tempo no ar, mas o próprio seriado foi nos estimulando a continuar.

Estado – Você tem algum Agostinho na família?

Marieta – Não, mas eu gostaria muito que tivesse um Pedro Cardoso.

Estado – Já teve de aturar sogro/sogra ou genro/nora morando em casa?

Marieta – Sempre adorei ter alguém morando em casa. Mas, também, nunca tive por muito tempo. Vai ver que é por isso (risos). Já tive genro, sogra, muitos amigos. Aliás, os amigos ficaram mais que os parentes, meses a fio. Mas nunca me deram problemas.

Estado – A audiência aumentou depois que se abandonou a tentativa de atualizar os textos originais. O que restou da ?Grande Família? do Vianinha?

Marieta – Permanece a vontade de espelhar o brasileiro de forma positiva. O brasileiro não quer ser visto atrás do espelho da violência, da degradação, da corrupção e a gente mostra um outro espelho. As histórias do Vianinha se esgotaram no primeiro ano e o Cláudio Paiva teve a capacidade de modernizá-las. Temos reflexões que são completamente contemporâneas. É atual e toca a platéia tanto no coração quanto na cabeça. É popular e sofisticado.

Estado – Vocês interferem no texto na hora de gravar?

Marieta – O texto é tão bem amarrado que, às vezes, quando mudamos, temos de regravar. A frase que segue tem ligação com a anterior. Ele é bem construído. E ótimo.”

 

SHOW DO MILHÃO

“Público desiste do ?Show do Milhão?”, copyright O Estado de S. Paulo, 8/06/03

“A vida é uma gangorra na TV. E esse é o martírio do pessoal que vive dela. Há programas que começam timidamente e de repente estouram, criando uma série de clones nos canais concorrentes.

Exemplos históricos são o Note Anote que Ana Maria Braga levou para a Record em 93 e acabou ressuscitando o gênero de programa prendas do lar, enterrado pela modernidade dos anos 80. O extinto Aqui Agora, do SBT, é sem dúvida o pai de todos os shows policialescos que pululam no vídeo até hoje.

Na contramão, vêm aqueles que experimentam grande sucesso – quando são alçados pela mídia à condição de fenômeno – e que vão definhando até sair do ar. Nessa via está o Show do Milhão, de Silvio Santos, que há exatos dois anos figurava duas vezes no ranking dos cinco programas mais vistos do SBT com médias entre 22 e 24 pontos no ibope (na Grande São Paulo) e hoje não faz mais de 9 na edição de domingo (às 14 horas), depois de ter perdido lugar nas noites da semana, quando marcava 11 pontos.

Em sua época áurea, o Show do Milhão era parâmetro para valorizar até programas de outras emissoras. O Casseta & Planeta era citado na imprensa como o único programa da Globo capaz de bater o Show de SS no horário.

Coqueluche, ele gerou vários filhotes, de jogos para computador a uma enciclopédia de 14 volumes e ?3.136 páginas? (ainda oferecida no site da emissora).

Dá para entender o frisson daquele momento. Desde que a TV foi criada, os shows que testam conhecimentos entram em alta pontualmente. No passado bem remoto, o telespectador brasileiro parava para torcer (e tentar adivinhar respostas) para o concorrente do O Céu é o Limite ou do 8 ou 800.

Esse gênero, batizado de quiz show nos Estados Unidos, prospera e cai. Mas não é privilégio dele. A TV vive de ondas, que vêm e vão.

É curioso investigar a causa do entusiasmo e do desprezo do telespectador pelas atrações. O Show do Milhão é o mesmo desde que foi criado, sem tirar nem por. Mantém o mesmo tipo de questionário, de concorrentes, de universitários (bem desinformados, diga-se de passagem) e a mesma simpatia do mestre-de-cerimônias Silvio Santos. Então, por que já não agrada mais?

Pode ser o ?fenômeno? da saturação. O que um dia diverte pode tornar-se enfadonho pela persistência no outro.

Essa é a grande incógnita para quem faz TV. É senso comum que ninguém tem a fórmula do sucesso porque ela depende do público. Ele, feliz ou infelizmente, está sempre mudando de idéia.

Ao que parece, ele, neste momento, desinteressou-se por esse tipo de entretenimento. E os que entraram na onda atrasados estão dançando. É o caso do Roleta Russa, da Record, que bate cabeça para levantar-se, convocando até celebridades para cair no buraco.

Mesmo colocando a exuberância de estrelas como Scheila Carvalho em cena, não está conseguindo segurar a platéia. O programa, bem feitinho, divertido e bem comandado por Milton Neves, estreou com 8 pontos de média no ibope (na Grande São Paulo) e hoje não crava mais do que 4 na média.

Os que gostam de testar seus conhecimentos (para a platéia do sofá de casa) vão ter de esperar chegar uma nova onda de quiz shows.”

 

TV DIGITAL

“TV digital caminha, mas a passos lentos”, copyright O Estado de S. Paulo, 7/06/03

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já expressou a intenção, mas será difícil para ele assistir à Copa de 2006 em TV digital. Pelo menos no Brasil. O subsecretário do Ministério das Comunicações, Marcos Dantas, afirmou ontem, em São Paulo, que espera ter um piloto do sistema brasileiro em um ou dois anos. A partir daí, haveria a necessidade de realizar uma série de testes para compará-lo com os três sistemas internacionais: o americano ATSC, o europeu DVB e o japonês ISDB. Depois disso, as emissoras ainda precisariam de pelo menos um ano e meio para colocar o sistema em operação.

Dantas participou de uma reunião na Universidade Mackenzie, onde instituições de ensino de todo o País decidiram formar um consórcio para a TV digital. ?A reunião foi um sucesso?, afirmou o professor Gunnar Bedicks Jr., do Mackenzie.

Apesar de ainda não existir um padrão brasileiro, a estratégia de criá-lo começa a dar resultado. Os americanos fizeram, esta semana, uma proposta de parceria tecnológico com o Brasil. ?Conforme nossa posição se torna mais afirmativa, os estrangeiros ficam mais cooperativos?, disse Dantas. ?Nossa proposta não é adotar obrigatoriamente o sistema brasileiro, mas compará-lo com os existentes.?

Ele explicou que o processo de desenvolvimento de um padrão nacional permitirá ao País conquistar conhecimento sobre a tecnologia, antes da decisão. A TV digital permite som e imagens melhores, além de serviços interativos.”