Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Anônimos em demasia

THE WASHINGTON POST

Em sua coluna de 1/6/03, o ombudsman do Washington Post, Michael Getler, escreve que, devido a seu texto da semana anterior, sobre as conseqüências do caso Jayson Blair ? repórter do New York Times que plagiava matérias e inventava fontes ? sua caixa postal se encheu de mensagens em que leitores criticavam reportagens do Post.

Algumas críticas citadas com relação a fontes não identificadas de fato dão margem a dúvidas e são merecedoras de repreensão. Um leitor reclamou, por exemplo, que a matéria de capa de 29/5/03 ? "Bush preenche cargos-chave com jovens legalistas" ? citava como fontes "?ajudantes e outras pessoas próximas a Bush?, ?atuais e ex-funcionários da administração?, ?funcionários da Casa Branca?, ?um veterano de reuniões da Casa Branca?, ?um antigo funcionário do governo?, ?diversos funcionários da administração?, ?colegas?, ?um conselheiro externo da Casa Branca?, ?um colega?, ?conselheiros de Bush?, pessoas próximas de Bush?, ?um lobista?, ?fontes republicanas?, e, finalmente, ?Paul C. Light, especialista em burocracia que leciona serviço público na Universidade de Nova York?". Que credibilidade inspira uma reportagem que tem toda uma lista de fontes não identificadas, apesar de não tratar de assunto muito delicado?

Outra mensagem chama a atenção para matéria em que um an&ocirocirc;nimo "funcionário da administração" americana classifica de "absoluta tolice" a acusação do embaixador francês nos EUA de que a equipe de Bush estaria fazendo uma campanha deliberada de desinformação contra o governo da França. "A identidade do funcionário anônimo é de interesse público por causa de sua arrogância e porque ficou claro que as afirmações do embaixador têm certo embasamento. Por que o Post divulga uma declaração anônima possivelmente inverdadeira e talvez, ainda por cima, ela própria parte de uma campanha de desinformação?", reclama o leitor.

Getler comenta a gravidade do fato de que muitas pessoas estão deixando de acreditar em jornais sérios. Pesquisa conjunta de USA Today/CNN/Gallup indica que apenas 36% dos americanos acreditam que as informações que aparecem na mídia são corretas. Por isso, para recobrar a confiança do público, as mudanças que o caso Blair está causando na imprensa são muito bem-vindas.