MÍDIA & GOVERNO
Chico Bruno (*)
Três declarações sobre a política de comunicação do governo federal feitas na sexta-feira, 13 de junho, dia de Santo Antônio, receberam destaque da mídia no dia seguinte: uma do presidente Lula da Silva, a segunda do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência, Luiz Gushiken, e outra do secretário-adjunto, Marcus Flora.
O presidente queixou-se da "divulgação ineficiente" dos atos do governo, o que acabaria deixando mais espaço às criticas. Lula enumerou algumas ações importantes que deveriam ter merecido maior repercussão na mídia, citando, entre elas, a liberação de recursos para habitação e saneamento, empréstimos do BNDES, financiamentos para pesca, turismo e agricultura. Das três, uma: ou ele não está lendo o resumo das notícias dos principais jornais, que lhe chega às mãos no café da manhã no Alvorada, ou acha o pessoal da comunicação social pouco esforçado no mister de aumentar o noticiário oficial na mídia ou está chorando de barriga cheia. Analisando o noticiário só nos resta optar pela última.
Já o ministro Gushiken concordou em parte com a reclamação de Lula, afirmando que o governo está perdendo a guerra da informação sobre as reformas tributária e da Previdência. O que pode até ser verdadeiro. Mas deveria ser creditado à maneira açodada como vêm sendo tocadas pelo governo as duas reformas que tramitam na Câmara dos Deputados. Da parte da imprensa, o assunto vem recebendo cobertura total, e com espaço para a defesa das intenções do governo. O engajamento de alguns veículos de mídia com o Palácio do Planalto é tão grande que o Jornal do Brasil (edição de quarta-feira, 11/6) reduziu a uma foto legenda de primeira página a manifestação dos servidores públicos contra a reforma da Previdência.
De barriga cheia
Completando o ciclo de declarações sobre a comunicação do governo, o secretário-adjunto Marcus Flora confirmou notícia divulgada em primeira mão pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, de que está sendo contratada empresa de assessoria de imprensa, no caso, a Companhia de Notícias, com a finalidade de fazer lobby entre colunistas, editores e a imprensa em geral em favor das duas reformas. O que é um exagero, pois a leitura diária dos jornais aponta que a maioria dos colunistas é a favor das reformas. A minoria contrária o faz com tanta convicção que é improvável que este lobby seja capaz de inverter a posição. Portanto, a contratação é prescindível e cheira mal, haja vista que será feita sem licitação.
Além dessas declarações, que podem ser consideradas sem propósito, o incidente entre o jornalista Ricardo Amaral, assessor de imprensa do secretário Luiz Dulci, e alguns repórteres, no Salão Verde da Câmara dos Deputados, demonstra que existe um certo desconforto entre a imprensa e o governo, apesar do alto grau de oficialismo do noticiário e da conivência de setores poderosos da mídia com atos do governo. O incidente foi agravado pelo bate-boca de baixo calão entre o assessor e os responsáveis pelo sítio Primeira Leitura, omitido pela totalidade da imprensa. O que demonstra com mais clareza ainda a boa vontade que a imprensa vem dispensando ao governo Lula.
O que se constata é que a cada dia fica mais difícil concluir-se aonde querem chegar Lula e seus auxiliares em relação à cobertura da mídia. Se se tratasse de um regime de exceção a resposta estaria na ponta da língua. Mas, como se está numa democracia, fica muito complicado entender o porquê de todo este descontentamento. Ao que parece, eles estão chorando de barriga cheia.
(*) Jornalista