Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa brasileira invade a Alemanha

A empolgação da imprensa brasileira na Copa do Mundo é tanta que virou objeto de artigo do jornal britânico The Guardian [por Alex Bellos, 26/6/06]. Da maior emissora de TV do país à pequenina estação de rádio do Amapá, os jornalistas brasileiros formam, ao que parece, o maior contingente do setor na Alemanha. Apenas na concentração da seleção de Parreira antes do início da Copa, na Suíça, eram quase 500 profissionais de imprensa credenciados. Em comparação, era possível contar nos dedos o número de jornalistas que compareceram à preparação do time inglês, em Portugal.

A Rede Globo, que possui os direitos de transmissão dos jogos no Brasil, levou 120 profissionais à Alemanha. O jornal O Globo tinha 16 jornalistas cobrindo o jogo da seleção contra a Austrália, na semana passada. Já na partida equivalente da seleção da Inglaterra, contra Trinidad e Tobago, havia apenas sete jornalistas do Guardian.

‘O Brasil mede sua história através de Copas do Mundo’, afirma o artigo, completando que há uma ‘sede quase insaciável por informação sobre o time nacional’. De fato, os treinos da equipe são noticiados minuto a minuto, com direito a cobertura ao vivo de exercícios de alongamento e afins. O país discute as bolhas e o (excesso de) peso de Ronaldo e sofre com a lesão de Robinho. O sítio da Confederação Brasileira de Futebol divulga com regularidade as atividades dos jogadores nos momentos de folga no hotel, ‘informando’ aos interessados internautas quem está jogando ping-pong e quem venceu de quem no videogame. A internet tornou o processo de deslumbre pela seleção muito mais rápido e preciso.

Radinho de pilha

Ainda assim, há quem seja fiel ao bom e velho radinho de pilha. ‘O rádio ainda tem uma penetração grande no Brasil. Eu diria que 20% dos nossos ouvintes assistem aos jogos pela TV, mas com o radinho de pilha grudado no ouvido. A narração radiofônica é muito mais excitante – e chega com um terço de segundo a frente, por causa do delay da TV’, explica Ernesto Denardin, da estação RBS, de Porto Alegre.

De fato, os jornalistas de rádio dominam a ‘caravana midiática’ brasileira. Apenas 24 estações compraram os direitos de transmitir os jogos ao vivo. As outras dezenas – ou centenas – que enviaram seus profissionais cobrem o campeonato de fora dos estádios. A Rádio Marco Zero, do Amapá, levou dois repórteres à Alemanha. ‘Em 254 anos desde a fundação de Macapá, ninguém teve a chance de vir a uma Copa do Mundo’, comemora Tarciso Franco, um dos jornalistas sortudos da estação. A emoção de estar presente no mundial é tanta que, muitas vezes, os profissionais viram tietes diante dos ídolos do futebol, chegando a pedir autógrafos em vez de fazer perguntas.

Olha eu aqui!

A imprensa brasileira é bastante regionalizada – como é de se esperar em um país de proporções continentais. Por isso, cada região, ou cidade, quer estar representada na Copa. Muitas vezes, ao se aproximar de um jogador, o jornalista estende o microfone e solta algo como: ‘Ei, Robinho, pode dizer um oi para os ouvintes de Caruaru’.

Além da imprensa ‘séria’, o artigo do Guardian aponta também para os humoristas brasileiros com credenciais de jornalistas, ressaltando a popularidade do Casseta & Planeta e lamentando a morte de Bussunda. A tendência, entretanto, não é exclusividade brasileira. ‘O programa argentino Videomatch enviou um ator vestido de presidente Lula para cobrir os treinos da seleção’, conta o texto. ‘Robinho ficou tão irritado com o falso Lula gritando para os jogadores que chutou uma bola nele. Infelizmente, a bola errou e acertou a câmera de um fotógrafo brasileiro’.