Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Imprensa e a violência sexual contra crianças

O GRITO DOS INOCENTES


O Grito dos Inocentes ? os meio de comunicação e a violência sexual contra crianças e adolescentes, Veet Vivarta (coord.), Editora Cortez, São Paulo, 2003; realização Andi, Instituto WCF-Brasil e Unicef; apoio Instituto Ayrton Senna e Fundación Arcor. Informações: (61) 322-6508; e-mail <pauta@andi.org.br>


A Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e o Instituto WCF-Brasil lançam em São Paulo, no dia 23 de junho, O Grito dos Inocentes ? os meios de comunicação e a violência sexual contra crianças e adolescentes. Quinto volume da série “Mídia e Mobilização Social”, o livro tem como base a pesquisa “Infância na Mídia”, divulgada em março de 2002, que analisa o que foi publicado nos 49 maiores jornais do país sobre o delito sexual contra a infância e a adolescência.

O Grito dos Inocentes traz dados atualizados sobre a cobertura do tema
pela mídia impressa brasileira, entrevistas com especialistas, indicações
de livros, sites, revistas e estudos sobre o assunto, além de
um glossário e um guia de fontes. A seguir, o texto da apresentação
do livro.

 

Veet Vivarta (*) e Marcus Fuchs (**)

A série Mídia e Mobilização Social é resultado da experiência que a ANDI ? Agência de Notícias dos Direitos da Infância acumula desde 1992, quando passou a desenvolver um conjunto de estratégias direcionadas à expansão da presença de temáticas associadas à infância e à adolescência na pauta dos meios de comunicação brasileiros.

Ao mesmo tempo, esta série de livros representa a possibilidade de a ANDI e seus parceiros avançarem de forma mais objetiva no processo de instrumentalizar jornalistas, comunicadores, fontes de informação e estudantes universitários para a prática de um jornalismo socialmente responsável e alinhado com os principais parâmetros do desenvolvimento humano.

A imprensa e os desafios da agenda social

Por uma feliz sincronicidade, esta série chega ao público num momento em que a conjuntura política e social do País exige da mídia uma cobertura não apenas mais abrangente e plural, mas também muito mais qualificada.

Por outra sincronicidade, nada feliz, estes livros e os desafios colocados pela agenda do governo federal ? que se propõe a alavancar o resgate de significativa parcela de nossa dívida social ? vão encontrar fragilizada a maioria das empresas de comunicação e suas redações, vitimadas por um grave contexto recessivo. Além dos repetidos cortes de pessoal e conseqüente sobrecarga de trabalho, as redações ainda lutam contra outros dois sérios limites: uma formação do corpo profissional apoiada em currículos acadêmicos quase sempre defasados de uma perspectiva nacional mais ampla, e o despreparo resultante do hábito perverso, enraizado ao longo das últimas décadas, de considerar a pauta social como sendo bem menos relevante, do ponto de vista jornalístico, do que a de política ou de economia.

Por uma nova cultura jornalística

Isso não significa que faltem exemplos de bom jornalismo social na imprensa brasileira. A ANDI, que acompanha muito de perto o trabalho dos meios de comunicação das diversas regiões do País, regularmente tem a oportunidade de registrar a veiculação de expressivas contribuições da imprensa para o enfrentamento das mazelas que colocam em risco o desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes. O problema é que na maior parte das vezes essas matérias ainda são mais o resultado de esforços individuais do que de linhas editoriais consolidadas.

Para que a imprensa venha a desempenhar com eficiência o papel que lhe cabe no processo de construção de um País menos vulnerabilizado pelas injustiças sociais, será necessário que se cristalize ? não apenas na redações, mas já nas universidades ? uma cultura jornalística suficientemente madura para pensar as questões inerentes ao desenvolvimento humano como abordagem transversal à cobertura oferecida a todas as grandes temáticas nacionais.

O poder da informação

Cada um dos volumes que compõem a série Mídia e Mobilização Social teve como ponto de origem uma análise aprofundada, de cunho quanti-qualitativo, sobre o tratamento editorial dado pela imprensa brasileira a um determinado tema central para a promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. Essas análises de mídia, elaboradas por equipes que reúnem profissionais de jornalismo e consultores especializados nas áreas em foco, não somente reconhecem os méritos e diagnosticam os principais problemas da cobertura, mas também procuram apontar caminhos para uma maior qualificação do trabalho do profissional de imprensa e mesmo do estudante de Comunicação Social.

A ANDI e seus parceiros reconhecem ainda ser fundamental a criação de uma cultura de co-responsabilidade pela qualidade da informação pública. Por isso, o presente volume, como os demais da coleção Mídia e Mobilização Social, contempla diretamente aspectos relacionados ao papel das fontes de informação na produção da notícia. Tanto quanto os jornalistas, esses atores sociais ? governamentais, do setor privado ou da sociedade civil ? são entendidos ao longo das próximas páginas como personagens prioritários no processo de democratização e de qualificação da informação ? elementos essenciais na construção de consciências e de um estado permanente de mobilização transformadora.

Por todas estas razões, Mídia e Mobilização Social pretende ser uma nova contribuição aos avanços que a imprensa brasileira já tem conquistado no sentido de que crianças e adolescentes sejam o centro da pauta do desenvolvimento humano.

(*) Diretor-editor da ANDI

(**) Diretor de planejamento da ANDI