Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ócio também é notícia

FERIADÃO, NÓS E O MUNDO ? I

Alberto Dines

Prepararam-se com esmero para o memorável "último feriadão do ano". Foi manchete, badalado com matérias "de serviço", clima de festa para os quatro, cinco ou seis dias de folga em homenagem ao semestre perdido.

No país dos terceirizados, os raros empregados querem aproveitar ao máximo as regalias do descanso remunerado ? danem-se os autônomos, os que ganham quando trabalham. As próximas miniférias só no fim do ano.

Nos semanários (aquelas coisas que saem todos os fins de semana com as mesmas matérias) escolheram-se a dedo as histórias mais banais e fúteis ? o leitor com vontade de ler precisa ser castigado. Nos jornalões, as gavetas foram esvaziadas para evitar o mofo. E, para felicidade das tesourarias, os plantões enxugados ? a grana está curta.

Além disso é preciso encarar uma realidade: quando os políticos vão para a casa, os jornalistas vão para a praia e nada acontece. O feriadão é, portanto, a forma mais perfeita para controlar os ardores da imprensa. No lugar da mordaça, o mutirão da folgança.

Vejam-se os desdobramentos do importantíssimo encontro do presidente Lula com o seu colega Bush Jr., em Washington. Antes mesmo que os políticos começassem a se manifestar, antes que os colunistas, analistas e editorialistas se dispusessem a examinar em profundidade o que foi falado, acertado, dito ou insinuado, o pais mergulhou naquele estado de catalepsia que caracteriza as "pontes" e os feriadões.

Resultado: um acontecimento de importância capital ocorrido numa sexta-feira, só começará discutido e quiçá entendido a partir da terça-feira ? na melhor das hipóteses. Melhor assim: com mais perspectiva dizem-se menos asneiras.