FERIADÃO, NÓS E O MUNDO ? II
Alberto Dines
A reunião de cúpula semestral da UE (União Européia) realizou-se no último fim de semana na Grécia. A presidência rotativa da organização passará à Itália e depois à Irlanda, seguindo a ordem alfabética. Estavam presente os Quinze (membros efetivos) e os Dez (já aprovados e em fase de adaptação).
Não foi uma reunião rotineira: na pauta estava a aprovação do rascunho da nova Constituição Européia. Ainda que alguns governos vejam com ceticismo uma Carta Magna supranacional, estamos diante de fato de inegável importância histórica.
Não menos importante seria a aprovação de um documento em que os europeus comprometem-se a enfrentar as ameaças mundiais em pé de igualdade com os EUA numa clara indicação de que o racha provocado pela ação unilateral americana no Iraque começa a ser reparado.
Outra questão na pauta: a sétima ampliação do bloco com a "irreversível" entrada dos países balcânicos, desde que consigam controlar a corrupção e o crime organizado. Considerando que os Bálcãs foram o estopim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da sucessão de conflitos étnicos nos anos 1990, percebe-se que as lideranças européias estão projetando o futuro de olho nas desavenças do passado.
Levando em conta o projeto brasileiro de converter a UE numa parceira efetiva seria de esperar que a grande imprensa patrícia soubesse tirar partido da reunião de Salônica (ou Tessalônica, como a chamam os gregos).
Deu-se justamente o contrário: o noticiário da cúpula européia caiu na vala comum do feriadão. No sábado (com o noticiário da sexta, antes do início formal da reunião) nossos três jornalões ainda registram a tendência para a aprovação do rascunho constitucional europeu com as fotos das habituais manifestações dos neo-anarquistas (O Estado de S.Paulo, como sempre, mais rico em informações e contexto).
No plácido domingão junino, silêncio absoluto. Na esquálida segunda-feira, idem. Havia espaço (as edições do fim de semana estavam abarrotadas de matérias "de gaveta", inclusive na área internacional) mas o ócio ganhou a parada. Bastava abrir a internet e ver como a imprensa européia cobriu a cúpula no sábado e no domingo. Se os jornais estão sem dinheiro para obter a senha e acessá-los, com apenas 13 reais compra-se em São Paulo a edição do dominical de El País (um dos melhores jornais do mundo) no mesmo dia.
As coisas acontecem e nós ficamos de papo por ar. Até a próxima crise, quando os indefectíveis "enviados especiais" serão despachados para cobri-las com a mesma acuidade que seus jornais agora exibem.