ALAGOINHAS, BA
Jorge Damasceno (*)
A incipiente e amadora imprensa de Alagoinhas (BA) deve com urgência amadurecer sua prática comunicacional, assumindo a relevância do seu papel, tanto na informação da sociedade quanto na formulação da opinião pública.
Para tanto, entre outras tomadas de posição, precisa se profissionalizar e avançar no tempo, sobretudo no processo de recrutamento daqueles que vão atuar numa tarefa tão complexa quanto perigosa, que é a de incentivar e viabilizar a organização da sociedade civil, para que ela possa influir sobre o poder público e ter participação efetiva nos assuntos de interesse coletivo.
Os dirigentes/proprietários de rádios e jornais devem ter consciência de que tais órgãos, além de serem instrumentos particulares de seu usufruto e de estabelecimento de seus interesses políticos, comerciais e sociais, também são instrumentos de que a sociedade se serve para se manifestar em relação a suas necessidades individuais e coletivas, demonstrar sua satisfação ou insatisfação em relação ao poder público e à iniciativa privada, bem como expressar seu pensamento sobre aquilo que o aflige ou alegra.
Eles devem, outrossim, ter na devida conta a irrefutável evidência de ser a imprensa um bem de concessão pública, que pode e deve ser fiscalizada e até mesmo julgada pela sociedade civil, no que tange ao alcance ou não dos objetivos a que se propõe.
Tendo isto em vista, os proprietários e dirigentes de tão importante segmento social deveriam ser criteriosos, rigorosos e sensatos, ao recrutar aqueles aos quais confiarão seus microfones e espaços, buscando levar a seus quadros funcionais profissionais intelectual, psicológica e tecnicamente preparados para o papel de interlocutores da sociedade em suas demandas e posicionamentos de quaisquer natureza.
Por que não crescer?
Por outro lado, os apresentadores de programas que se põem diante de microfones para expressar seus posicionamentos políticos e sociais, bem como articulistas que redigem artigos e editoriais precisam se dar conta de obviedades como a de que falam e escrevem para um publico diverso, composto por quem concorda com suas idéias, a elas são indiferentes e delas discorda; precisam se dar conta de que são livres para expressar o que pensam, mas devem e podem fazer isso com a responsabilidade de quem está sujeito a ser interpelado, caso lance ao ar ou no papel afirmações e informações que destoem da verdade e que atinjam a honra de outrem.
É preciso aprender a fazer uso do poder da palavra com sabedoria e parcimônia, no sentido de que tal instrumento pode construir e, mais do que isso, pode destruir uma reputação social, política, individual ou coletiva, muitas vezes de forma irreparável. O poder que tal instrumento confere a quem dele dispõe deve ser proporcional à responsabilidade de seu uso, e concomitante à força de sua capacidade de erguer e derribar.
Tanto dirigentes quanto apresentadores e articulistas precisam se dar conta de que a sociedade dos tempos atuais é plural. Esta pluralidade se revela na forma de perceber e interpretar o mundo a sua volta, na forma de compreender a conjuntura social e política na qual está inserida.
Entretanto, o que se tem notado nos últimos dias é exatamente o inverso desta tomada de consciência, quando se observam representantes dos meios de comunicação de Alagoinhas se digladiando e operando sórdidas manobras subterrâneas contra colegas, numa luta renhida para conquistar espaço e audiência, não importando, para tanto, os meios utilizados, implicando flagrante desrespeito a seu principal alvo: o público ouvinte ou leitor.
Alagoinhas já é muito grande e de conformação sociopolítica agradavelmente diversificada, para ter que suportar comunicadores que primam pela redução medíocre, numa atividade tão importante para a sociedade quanto vital para a democracia, como é a radiodifusão.
É lamentável o baixo valor qualitativo da comunicação social que se faz na cidade.
Já que se copia tanto, por que não se toma como parâmetro alguns excelentes programas veiculados em emissoras de rádio, ou artigos e reportagens publicados em jornais de Feira de Santana ou Salvador, apenas para mencionar cidades que tanto têm servido de modelo para Alagoinhas em outros campos de atividade social? Por que não ler obras que mostrem o que fazem profissionais da área no sentido de melhorar sua atuação nos meios em que atuam? Por que não usar as tecnologias modernas, eivadas de possibilidades de informações novas, no sentido de crescerem em relação a si mesmos, no que respeita à eficiência de seu trabalho, pretensamente jornalístico? Visitem o Observatório da Imprensa na internet.
(*) Professor-assistente da Uneb, Campus II, Alagoinhas, BA