O novo Conselho de Direitos Humanos da ONU, que substitui a extinta Comissão de Direitos Humanos, é resultado do processo de reformas promovidas pelo secretário-geral Kofi Annan. No entanto, o órgão começou a ser criticado logo em sua sessão inaugural em Genebra, na Suíça, na semana passada.
As críticas tiveram como base a presença na sessão do procurador-geral linha-dura do Irã, Said Mortazavi. Um dos mais conhecidos censores à mídia de seu país, Mortazavi já fechou 100 jornais, foi responsável pela prisão, em 1999, de estudantes em manifestações pró-democracia em Teerã e não condenou os policiais acusados de os torturarem. O procurador-geral chegou a acusar o jornalista e dissidente político Akbar Ganji de ‘encenar um drama’ para despertar a simpatia da comunidade internacional quando iniciou uma greve de fome, em junho de 2005.
Para piorar ainda mais seu currículo, Mortazavi é acusado por autoridades do Canadá de envolvimento no estupro e assassinato por espancamento da fotojornalista de dupla cidadania iraniano-canadense Zahra Kazemi, em 2003, enquanto ela estava em custódia policial por fotografar uma manifestação em frente à penitenciária de Evin. Mortazavi ordenou a prisão de Zahra e foi identificado como um de seus interrogadores.
A contradição da presença do procurador na reunião do Conselho não pára por aí: o Irã nem ao menos é membro do novo órgão da ONU. Por esta lista de razões, grupos de direitos humanos e o governo do Canadá manifestaram sua indignação com a presença de Mortazavi em Genebra.
Impunidade
O grupo de estudantes detidos em 1999 por ordem do procurador, e que continua na prisão, escreverá uma carta de protesto a Kofi Annan. Peter MacKay, ministro do Exterior do Canadá, afirmou que sua nação ficou ‘ofendida’ com a participação de Mortazavi na reunião e que a decisão de incluí-lo na delegação do Irã para o Conselho de Direitos Humanos ‘demonstra o completo desdém do governo iraniano pelos princípios de direitos humanos reconhecidos internacionalmente’.
‘A maior parte dos iranianos analisa o fato [de Mortazavi ir ao Conselho] como uma demonstração de poder do líder supremo do país, aiatolá Khamenei. Khamenei está dizendo ‘Ok, eu posso prender qualquer um que quiser e o mundo não pode fazer nada’’, resumiu Mohsen Sazegara, amigo de Akbar Ganji. Informações de Eli Lake [The New York Sun, 22/6/06].