Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Pouca munição na análise dos fatos

JORNALISMO POLÍTICO

Monitor de Mídia (*)

Houve um tempo em que, para saber da política nacional, não se deixava de ler a Coluna do Castello no Jornal do Brasil. Por mais de 30 anos, Carlos Castello Branco, o Castelinho, acompanhou de perto os principais movimentos do poder no Brasil. Noticiou, analisou, comentou e acabou contribuindo para uma nova conjugação do verbo da política. Morto em 1993, Castelinho deixou o jornalismo, e o colunismo da área ficou um pouco mais pobre. Certamente, hoje, os jornais são menos influentes e os colunistas não têm tanto prestígio. Entretanto, o leitor não pode prescindir de análise e interpretação quando o assunto é política.

Nesta edição, o Monitor de Mídia focalizou os principais colunistas políticos da imprensa catarinense, tomando como base uma semana de trabalho, de 1? a 7 de junho. E o que se percebeu foi que este jornalismo assinado é pródigo em informações, reticente nas opiniões e econômico nas análises. Fabian Lemos, do Jornal de Santa Catarina, Paulo Alceu, do Diário Catarinense, Moacir Pereira e Cláudio Prisco Paraíso, ambos de A Notícia, poderiam exercer mais influência na política local. As colunas ? que deveriam ser espaços para informações diferenciadas e interpretação ? acabam se configurando mais como uma seqüência de notas curtas e meramente informativas, na maioria das vezes. Exceto em um caso, os estilos dos colunistas também não vai além de textos sóbrios, pouco polêmicos e até declaratórios.

 

Tom declaratório

A coluna "Plenário", de Fabian Lemos, no Santa, encaixa-se bem nestes aspectos. Para uma breve descrição, é editada na parte superior da página 4A do jornal, ocupando cerca de um terço da mesma. Geralmente, traz fotos de políticos apenas para ilustrar assuntos ou, no máximo, preencher espaços.

Ponto forte da coluna são as informações sobre a política local (de Blumenau e região). No dia 1?, por exemplo, as três primeiras notas tratam da contratação de assessores para a Câmara de Vereadores da cidade. No dia 2, enfoca bairros elevados à condição de distritos em Gaspar. No dia 3, é divulgada resposta de vereador às críticas quanto à contratação de assessores não-formados. Quanto ao assunto, o colunista cutuca: "Pega muito mal para a classe jornalística e para os veículos de comunicação o emprego de pessoas desqualificadas, ou que sequer dão expediente na Câmara".

Mesmo buscando fatos de interesse estadual ou nacional, Lemos traça relações entre os benefícios e as implicâncias de tais acontecimentos para o contexto municipal e regional. É o que ocorre, por exemplo, no dia 4 de junho, quando primeiro destaca a anulação de ações civis contra prefeituras, pelo Tribunal de Justiça (TJ), e, em seguida, relaciona o fato a prefeitos do Vale do Itajaí.

De qualquer modo, grande parte das notas não foge a um caráter puramente informativo e, às vezes, declaratório. Exemplos não faltam. No dia 5, em nota intitulada "Visita (1)", lê-se: "O ex-ministro dos Transportes e atual secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Odacir Klein, visitou ontem a redação do Jornal de Santa Catarina". O uso de "segundo", "de acordo", "como informou", etc., é outra constante, o que deixa claro o direcionamento da coluna à informação e não à opinião ou às análises.

Outra ocorrência comum é a de títulos repetidos para notas sobre os mesmos assuntos, como "Fraldão (1)" e "Fraldão (2)", na edição dos dias 7 e 8, sobre o uso de fraldas para veículos de tração animal, a fim de que não sujem as ruas. Normalmente, contudo, os títulos são pouco criativos, como "Reforma (1)", "Pedágio", etc ? o que é freqüente em todos os demais colunistas analisados. Pode-se questionar, com relação a tudo isto, é se há mesmo necessidade de uma coluna para divulgar apenas notinhas informativas. Visto que o mesmo pode ser feito em um espaço informativo comum e por qualquer jornalista, não caberia às colunas mais análise e opinião para fazerem jus ao nome que levam?

 

Análise em doses homeopáticas

Também do Grupo RBS, Paulo Alceu, do Diário Catarinense, traz pitadas a mais de análise e questionamentos em sua coluna diária. A seção encontra-se na página 8 e possui, em todas as edições, o mesmo tamanho: praticamente, uma página que divide com rodapés publicitários. Sua diagramação segue um padrão ? é dividida sempre em 3 colunas ?, porém o tamanho das notas e dos boxes é flexível. A única seção fixa é "Pensando em voz alta", onde costuma lançar uma pergunta sobre assuntos polêmicos. No dia 2, por exemplo, ele questiona: "Será que houve superfaturamento na construção do anexo do TJ?".

O colunista escreve principalmente sobre governantes e o vai-e-vem de políticos na troca de partidos. Expõe suas opiniões com base em fatos e apresenta bons argumentos, mas, por vezes, estimula a polêmica reproduzindo declarações sem identificar claramente as fontes. Um exemplo é nota do dia 2, que traz: "A oposição começa a classificar ironicamente a viagem do governador Luiz Henrique, e sua comitiva, de ?turisticamente positiva?".

Alceu também costuma dar continuidade aos assuntos, trazendo desdobramentos e até reações provocadas por suas declarações. De qualquer maneira, poderiam ser melhor contextualizados em sua coluna alguns termos políticos, como "Carta magna", citada em nota no dia 5.

 

Opiniões apimentadas

Opiniões apimentadas, mas tom declaratório também. É o que salta á vista na coluna de Cláudio Prisco Paraíso, em A Notícia. "Canal Aberto", sempre à página A2, na editoria de Opinião, traz um texto de tamanho variável seguido de notinhas. A coluna é bastante informativa, mas pode-se perceber opiniões incisivas em algumas partes. Exemplos aparecem no dia 4. Em nota intitulada "Sugestão", o colunista aponta: "Mal terminou uma viagem de duas semanas, já tem governista falando em nova incursão internacional. Seria conveniente governar um pouquinho!". Ainda mais apimentado, na nota "Conjectura", prossegue: "Vice bom é aquele que entra mudo e sai calado. Quando muito, geme".

Entretanto, em outros casos, mesmo trazendo assuntos polêmicos, os relatos não contêm o mesmo tom. Por serem em sua maioria informativos, alguns não trazem contextualização e profundidade, o que é comum em notas curtas. Declarações também são freqüentes em sua coluna. Um exemplo que chama a atenção ocorre na edição do dia 7, em "Concurso Público no Besc". No texto de abertura da coluna, Prisco escreve apenas seis linhas de sua autoria, ao passo que reproduz, entre aspas, 40 linhas (!). Não seria o caso, talvez, de publicar o mesmo trecho na seção de cartas, já que se trata de uma correspondência?

 

Experiência e segurança

Tradicional colunista de A Notícia, Moacir Pereira, é exceção quanto ao estilo. Sua coluna diária na página A3 traz uma média de 10 notas curtas, introduzido por um texto de cerca de 30 linhas. Experiente, o colunista se permite trafegar no terreno da interpretação e da opinião, tecendo comentários leves e alfinetando um ou outro personagem. No entanto, é sóbrio, mantém a elegância e, a exemplo dos colegas de ofício, não exerce integralmente o poder de influência que sua função lhe possibilita.

Os assuntos abordados referem-se, em sua maioria, ao cotidiano dos políticos e outros catarinenses com projeção nacional. No dia 1?, por exemplo, ao tratar da viagem do governador à Ásia e à Europa, foi publicada nota acerca do espanto do prefeito Décio Lima (PT-Blumenau), que acompanhou a comitiva, diante do preço da água mineral em Paris. A edição do dia 3 traz a informação de que o governador Luiz Henrique da Silveira vai substituir as férias de janeiro por um curso de língua inglesa em Nova York.

Além das figuras políticas, quem ocupou grande espaço nas edições analisadas foi o tenista Gustavo Kuerten, o Guga. Tendo seu nome como título, apareceu em nota do dia 1?. No dia seguinte, é tema do texto de abertura da coluna, onde Moacir Pereira relata em tom grandioso: "Do alto da fila 22, em posição privilegiada (…), o espectador catarinense tem, às vezes, a sensação de testemunhar uma ficção". O assunto é citado em quatro das notas que seguem. Estas também noticiam a presença do presidente da Federação Catarinense de Tênis no jogo, de uma falha na assessoria de imprensa do tenista, de um deputado que se sentiu roubado porque o jogo foi interrompido e até do problema dos cambistas em Roland Garros. O jogo é assunto ainda no dia 3.

O que chama a atenção são os relatos bastante impressionistas do colunista e a fartura de adjetivos em seu texto. Por exemplo, no dia 3, sob o título "SC: o balanço da missão", pode-se ler os seguintes trechos: "pela digna e carinhosa acolhida", "a pomposa recepção", "charmosa capital" e "produtiva e exitosa missão". Através do uso destes, é possível perceber opiniões quase explícitas.

(*) Projeto da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) para acompanhamento sistemático da imprensa catarinense. Coordenação do professor Rogério Christofoletti


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