Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ana Paula Sousa

MÍDIA EM CRISE

Páginas Viradas”, copyright Carta Capital, 16/6/03

“Ao lado dos elevadores, pregado no quadro geral de avisos e protegido por um vidro, o comunicado, em tom formal, anuncia que o Dia D chegou. Com data de 10 de junho de 2003, o texto espalhado pelos sete andares do edifício localizado na avenida Engenheiro Caetano Álvares, à beira da Marginal do Tietê, em São Paulo, deixa perplexo quem atravessa as catracas eletrônicas que controlam o vaivém no mais tradicional jornal brasileiro.

Francisco Mesquita Neto, ex-diretor-superintendente do Grupo Estado e atual diretor-interino, assina o documento: ?O Grupo Estado cumpre hoje mais uma etapa do processo de reestruturação que visa adaptar os seus custos à dimensão das receitas e à atual conjuntura econômica do País (…) O grupo registra seus agradecimentos a todos aqueles que hoje estão sendo desligados de seus quadros profissionais?.

O número exato dos demitidos, o setor de Recursos Humanos mantém sob sigilo. Mas, de redação em redação, de departamento em departamento, as contas feitas nos dedos, por quem ficou, rompe a casa dos cem. Alguns falam em 102. Outros, em 125. Desse total, 34 seriam jornalistas.

As demissões em massa se transformaram, nos últimos tempos, em notícia corriqueira nas redações brasileiras, mas as que acabam de ocorrer no Grupo Estado têm um caráter simbólico. Por seu entrecho, sugerem que uma nova era pode estar começando nos meios de comunicação: alguns dos grandes grupos familiares, já sem a força de antes, começam a se ver obrigados a abrir as portas das empresas a gestores profissionais.

Se o dia 10 foi fatídico para os funcionários comuns, há pouco mais de um mês tinha sido a vez de alguns dos membros da família Mesquita assinarem suas rescisões. O próprio Francisco Mesquita Neto, incumbido de anunciar os cortes, não sabe qual será o seu destino. É interino e deve ser substituído por alguém ?do mercado?, como se diz pelos corredores.

Na redação do Jornal da Tarde (JT), vitimado com 27 baixas, um repórter ainda tem fôlego para desfiar uma ironia. ?Se até os filhos do doutor Ruy (Ruy Mesquita, diretor de O Estado de S. Paulo) foram despedidos, por que eu seria poupado?? Mas esse não é o tom geral. Ao contrário. Não há funcionário do JT, do Estadão e da Agência Estado que tenha atravessado o dia sem ver alguém chorando à sua frente. Não há computador do grupo que não tenha sido entupido com mensagens de despedida, enviadas pelo sistema interno de comunicação.

O plano de reestruturação que culminou na primeira leva de cortes está sendo capitaneado pelo consultor Cláudio Galeazzi, da Galeazzi & Associados. Ele começou a trabalhar para o grupo em dezembro do ano passado e, no dia 26 de março, apresentou seu plano à família. Criou um comitê executivo responsável pelo processo de reorganização de todas as empresas do grupo: os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, a Agência Estado, a Rádio Eldorado e a Oesp Mídia.

O processo ganhou o título de Programa – assim mesmo, com letra maiúscula – e inclui, em seu staff, o ex-ministro Alcides Tápias, o economista Octávio Castello Branco e o advogado Roberto D?Utra Vaz. Chegaram eles e saíram quase todos os Mesquita, que ocupavam cargos de diretoria. Ruy Mesquita Filho (ex-JT), João Lara (ex-Rádio Eldorado), Fernão (ex-Estadão e JT) e Rodrigo (ex-Oesp Mídia e Agência Estado) – todos filhos de Ruy Mesquita – e ainda Roberto Mesquita (ex-diretor-comercial) passaram a compor apenas o Conselho Administrativo do grupo. Não têm mais cargos.

Da família, os únicos remanescentes são o ?doutor Ruy?, como é chamado por todos, que continua à frente da parte editorial do Estadão, Cecília Mesquita, veterana diretora do Suplemento Feminino e, não se sabe até quando, Francisco. Procurado por CartaCapital, o atual homem forte do prédio da Marginal do Tietê, Cláudio Galeazzi, retornou a ligação, mas disse que não daria entrevista. De acordo com ele, o silêncio integra as cláusulas contratuais daquilo que chamou de ?implementação da tecnologia de gestão?.

Essa tecnologia de gestão, trocando em miúdos, significa colocar as contas em ordem. Apesar de o jornal O Estado de S. Paulo e a Agência Estado serem lucrativos, as outras empresas são, há muito, deficitárias. Além disso, o rombo do grupo foi brutalmente alargado com o investimento na empresa de telefonia BCP. A chegada da tropa ?do mercado? à casa dos Mesquita seria decorrência de dois fatores: pressão dos credores e necessidade de formatar o jornal para que ele se torne atraente para a venda a algum grupo estrangeiro.

O primeiro passo para dar início às mudanças foi tirar da cadeira os chefes-herdeiros. Nos comunicados internos que enviaram a seus subordinados depois de demitidos, eles deixam claro que saíram a contragosto, mas adotam tons diversos. E posturas idem. Ruy Mesquita Filho está entre os que acham que o afastamento é passageiro: ?Depois de mais de 30 anos de trabalho estou saindo, espero que por pouco tempo (…) Não vou dar um adeus e sim um até breve?, escreveu num texto de poucas linhas.

Já seu irmão Fernão Lara Mesquita elaborou uma longa carta, com pinceladas emotivas, que não faz qualquer referência à volta apregoada pelo primogênito. ?(…) ainda que, neste mundo de espertezas e conglomerados gigantes, tudo pareça estar fadado a ser pequeno, não há que desanimar (…) Neste momento em que mais uma conjunção de astros resulta numa ameaça viva para a continuação de nossa empresa e, para mim pessoalmente, na imposição do sacrifício de abrir mão do prazer do exercício diário da luta para a qual por tanto tempo me preparei – e não fui o único a passar por isso nesta casa – peço a Deus que ilumine aqueles que receberão a bandeira que me coube carregar por este pequeno trecho do percurso (…).?

Rodrigo Lara Mesquita recorreu a uma citação do cientista da computação JCR Licklider para tentar sintetizar a crise e defender – numa espécie de mea-culpa – que as empresas jornalísticas deveriam ter iniciado seu processo de reestruturação já na década de 80, para terem condições de se apresentar ao mercado como ?empresas de informação?, em sua definição. ?As empresas que tiveram visão e começaram esta ?revolução? a partir do momento adequado estão enfrentando o processo de mudança do mercado de forma infinitamente mais eficiente e menos dolorosa.?

O trauma da saída brusca reverteu-se em silêncio. Ninguém fala sobre o assunto. Na manhã da terça-feira 10 – o dia das demissões – Ruy Mesquita Filho, o Ruyzito, recebeu CartaCapital em sua residência, no Morumbi, com a condição de falar apenas sobre a história da família. Ao telefone, alertara que assuntos da empresa deveriam ser tratados com o primo Francisco. Mas Francisco também não se pronuncia.

Ruyzito deixou o jornal, onde começou a trabalhar em 1971, há pouco mais de um mês. Em casa, dedica-se a divulgar os quatro volumes do livro A Guerra, que reúne textos sobre a Primeira Guerra Mundial escritos por Júlio Mesquita (1862-1927) – fundador do jornal e seu bisavô -, a alinhavar um projeto para a realização de um filme baseado nessa obra e a planejar um livro sobre Alfredo Mesquita (1908-1986), filho caçula de Júlio e fundador da Escola de Artes Dramáticas (EAD) da USP.

Ao sigilo sobre os dias atuais, Ruyzito contrapõe um discurso longo e detalhado sobre o passado. O peso da herança surge logo à entrada do escritório: fotos de família e o vistoso diploma que conferiu a Júlio Mesquita, em 1883, o título de advogado, formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

?Meu bisavô foi o introdutor do jornalismo moderno no Brasil. Antes dele, os textos eram todos rebuscados. Era muito difícil encontrar algo que tivesse começo, meio e fim?, inicia Ruyzito. ?Seus artigos sobre a guerra, que eram publicados uma vez por semana, mostram a qualidade de seu texto e também sua impressionante erudição?, prossegue, citando o livro que organizou.

Júlio Mesquita, filho de imigrantes portugueses de Trás-os-Montes que se estabeleceram como comerciantes na cidade de Campinas (SP), ingressou no jornalismo em 1888, no jornal A Província de São Paulo, que passaria a chamar-se O Estado já no ano seguinte, após a Proclamação da República. Republicano ativo, abandona a política para dedicar-se ao jornalismo e, em 1912, torna-se o único proprietário do diário – que já tinha feito história ao editar, por exemplo, a série de reportagens de Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos, que posteriormente deu origem ao clássico Os Sertões.

Em 1927, após a morte de Júlio, o jornal passa para as mãos de dois de seus nove filhos: Júlio de Mesquita Filho (1892-1969), o doutor Julinho, e Francisco Mesquita (1893-1969), o doutor Chiquinho. Em 1932, depois da Revolução Constitucionalista, na qual o jornal se engajou, toda a família exila-se em Portugal e o jornal fica sob a responsabilidade de Armando Salles de Oliveira. Os percalços prosseguem durante o Estado Novo (1937-1945) e, em 1940, o jornal é encampado pelo governo.

?Durante o Estado Novo, a família fez um acordo para vender o jornal, mas meu avô Júlio não aceitou e permaneceu com a sua parte. No fim da guerra, ele voltou para o Brasil e ficou confinado na nossa fazenda, em Louveira (SP), até Getúlio cair?, relata Ruyzito.

Terminada a era Vargas, a família consegue reaver o jornal com o auxílio do escritor Paulo Duarte, que conseguiu arrancar um cheque do banqueiro Gastão Vidigal, seu amigo, e arrematar o título num leilão. Duarte vira editor-chefe, Vidigal passa a presidir o Conselho de Administração e o doutor Julinho e o doutor Chiquinho assumem as diretorias editorial e comercial, onde ficam até 1969.

É sob os auspícios do doutor Julinho que o Estado, no fim dos anos 40, dá início à primeira grande reforma do jornalismo brasileiro. Pouco a pouco, o estilo panfletário vai cedendo lugar a textos mais objetivos, a primeira página deixa de restringir-se a assuntos internacionais, as máquinas são renovadas e as operações modernizadas. ?Podemos dizer que nessa época se formam as bases do jornalismo que se estabeleceu no País?, afirma Ruyzito. ?Giannino Carta (1905-1964), vindo da Itália, introduziu meu avô e todos os demais nesse jornalismo que transformou o Estado numa referência indiscutível.?

Nas palavras de Cláudio Abramo (1923-1987), que entrou no jornal em 1948 e assumiu sua chefia em 1952, o Estadão, tido como antiquado, durante essa época foi o mais moderno do Brasil. ?Ninguém fazia o que fazíamos. O Estado era absoluto, não havia nada que chegasse remotamente perto. Era o jornal mais importante do Brasil. (…) De 1956 a 1961 tornou-se, talvez, um dos jornais mais bem-feitos do mundo, embora os editoriais fossem medievais e defendessem os interesses da classe dominante paulista em primeiro lugar e os interesses brasileiros em segundo?, lê-se no depoimento reproduzido no livro A Regra do Jogo.

Em 1966, o grupo coloca no mercado o revolucionário Jornal da Tarde, lançado, de fato, como um vespertino. ?Foi uma coisa totalmente inovadora, criada por Mino Carta e Murilo Felisberto, junto com o meu pai. Várias de suas reportagens entraram para a história do jornalismo?, relembra Ruy Mesquita Filho.

Em 1969, o comando passa à terceira geração, encabeçada por Julio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, filhos do doutor Julinho. Julio fica com o Estado e Ruy com o JT. A vivacidade dos 20 anos anteriores vai sendo lentamente perdida. E o caixa também já não se mostra tão estável.

Em 1976, o grupo troca o prédio da rua Major Quedinho, no Centro da cidade – onde hoje está alojado o Diário de S. Paulo – , pela atual sede da Marginal do Tietê. ?Como não conseguiram dinheiro do governo Médici para a construção, foram pegar um empréstimo no exterior. É nessa época que começam os nossos problemas financeiros?, avalia Ruyzito.

Com a morte de Julio, em 1996, Ruy assume O Estado e seu filho Fernão Lara Mesquita passa a assinar a direção editorial do JT. Desentendimentos dentro da própria família e a crise geral dos meios de comunicação têm construído, nos últimos anos, a crônica do fim da dinastia Mesquita.

Cláudio Abramo, que pediu demissão do Estadão em 1963, no período que definiu como sendo de ?radicalização política dentro da redação?, cedo anteviu os efeitos das amarras sucessórias. ?O jornal nunca resolveu o problema da sucessão, porque depois da experiência comigo os Mesquita não quiseram repetir a tentativa de entregar o controle absoluto da redação a um jornalista não membro da família. Hoje o jornal é uma sombra do que era?, afirma, em A Regra do Jogo.

Como dirigir um jornal é mais do que fazer jornalismo, e também é mais do que gerir uma empresa, a lógica da herança – atrelada a uma complicada conjuntura econômica – foi minando a estrutura que o velho Júlio Mesquita começou a erguer há mais de cem anos. O temor, disseminado entre quem trabalha no grupo, é de que a tentativa de ?profissionalizar a administração? acabe substituindo os critérios hereditários pelos não menos perigosos princípios tecnocratas.”

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E a imprensa não pára de encolher”, copyright Carta Capital, 16/6/03

“A notícia pode nunca chegar à primeira página, mas dentro das redações está diariamente em pauta. Há dois anos, as demissões em massa integram a rotina dos jornalistas de todo o Brasil e encolhem o mercado com uma velocidade assustadora. No ano passado, de acordo com a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) foram fechados 516 postos de trabalho – 345 dos quais em São Paulo.

Este ano, o alarme da turbulência soou logo em janeiro, com o fechamento da revista Tudo, da Editora Abril, que culminou com a demissão de 20 pessoas. Era só o começo. Em março, a Editora Globo esvaziou ainda mais sua sede, no bairro do Jaguaré, em São Paulo, com a demissão de 60 pessoas – isso apenas um ano depois de ter eliminado 50 vagas de seu quadro.

Nesse mesmo prédio, que abriga também o Valor Econômico, uma associação entre os grupos Globo e Folha, as listas de cortes voltariam a proporcionar dias tensos. No jornal, que já havia reduzido a equipe em 2002, outros 13 profissionais perderam o emprego em maio, quando Nicolino Spina, novo gestor, assumiu o posto.

Na revista Época, da Editora Globo, o último de sucessivos cortes ocorreu há duas semanas. Com a saída do diretor de redação Paulo Moreira Leite e a chegada de Aluízio Falcão Filho – o quarto ocupante do cargo no período de cinco anos – 13 jornalistas deixaram a revista.

No dia 26 de maio, o ?facão? – termo utilizado nas redações para definir os cortes – partiu para a rua Barão de Limeira, Centro de São Paulo, no prédio da Folha de S.Paulo. Otávio Frias Filho, diretor de redação, enviou um memorando às chefias informando que seria dissolvida a equipe de reportagem da secretaria de redação e que os repórteres que a integravam seriam distribuídos por outras editorias.

Nesse mesmo dia, além dos remanejamentos, foram anunciadas sete demissões. Outras viriam na semana seguinte: foram mais dez na Folha de S.Paulo, quatro na Folha Online e cinco no Agora SP, também pertencente ao grupo. Decretou-se ainda o fechamento da Agência Folha, em Belém, e o fim do suplemento TV Folha.

No Rio de Janeiro, na terça-feira 3 de junho, um comunicado assinado por Nelson Tanure e José Antonio Nascimento Brito informava que Nilo Dante não era mais o diretor de redação do Jornal do Brasil. Horas depois do anúncio, saía uma lista com nove demissões na equipe carioca e de outras nove na sucursal de Brasília.

Desde janeiro, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo já realizou 235 homologações. Os meses recordistas foram os de março e abril, com 86 e 41 demissões, respectivamente. Em março, a avalanche foi turbinada pela crise da TV Cultura e, em abril, por uma nova leva de demitidos da Gazeta Mercantil, jornal-marco da cobertura econômica e financeira, enredado numa crise que já se estende por pelo menos dois anos.

Cada uma das crises tem seus contornos próprios. Mas um mesmo fato está por trás de todas elas: a queda na receita publicitária. Uma pesquisa do World Press Trends, apresentada esta semana durante o Congresso Mundial de Jornais, em Dublin, revelou que esse problema está longe de ser exclusividade do Brasil.

De acordo com o levantamento, a desaceleração da economia global derrubou a receita publicitária e a circulação de jornais no mundo todo. A pesquisa revela que o faturamento publicitário dos jornais diários caiu 0,52% de 2002 para 2001 – em 2001, a queda fora de 5% em relação ao ano anterior. Pela primeira vez em cinco anos, a circulação caiu 0,35% no mundo. No Brasil, essa queda foi de 9,1%.

Com tudo isso, os jornais estão cada vez mais magros e as equipes menores e menos qualificadas – já que, não raro, salário baixo é garantia de ter o nome fora das listas. A baixa auto-estima dos profissionais, num mercado frágil e instável, faz com que, a cada demissão, a frase mais comum nos corredores seja: ?Onde vou procurar emprego??

Ainda assim, a imprensa parece assistir ao seu próprio desmonte de forma passiva, silenciosa. Nas rodas de jornalistas, só se fala sobre o isso. Nas páginas dos jornais, por outro lado, não surge sequer uma linha sobre o assunto. Procurados por CartaCapital, os responsáveis pelos jornais Folha de S.Paulo e Valor Econômico também não se manifestaram. A imprensa não fala sobre si. E em silêncio, vai encolhendo.”

E depois do Estadão, o que virá?”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 11/6/03

“Confirmadas as dezenas de demissões nas empresas do Grupo Estado, como esse próprio Comunique-se noticiou ontem, segue a imprensa paulista fazendo aquele que já pode ser, de longe, considerado o maior ajuste (para baixo) de sua história, em termos de força de trabalho. Como a empresa não divulgou o número oficial de demitidos, deu margem a que o mercado ventilasse diferente versões. Ninguém nas redações estava autorizado a falar em nome da empresa, e a única informação oficial veio de um comunicado assinado por Francisco Mesquita Neto, que teve mais a finalidade de dar uma satisfação ao mercado do que propriamente esclarecimentos sobre o processo de reestruturação em curso.

Os comentários são de que o Grupo dispensou entre 100 e 130 pessoas das várias redações, sendo 34 jornalistas. São números extra-oficiais (não confirmados pela empresa) e que não batem com o que de fato foi apurado. De todo o modo o estrago foi grande. A edição impressa deste Jornalistas&Cia (que circula por assinatura paga, através da M&A Publicações e Eventos) destaca o nome de quase 20 dos profissionais que perderam o emprego nos dois jornais do grupo (O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde) e Agência Estado, caso dos editores Evaldo Macarzel (Caderno 2 – Estadão), Cláudio Marques (Política, JT), Chris Mello (titular da coluna Em Cena, JT) e equipe (outros três colegas) e Antonela Salem (Turismo, JT). Até o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que escrevia regularmente para o Estadão, foi informado de que sua contribuição foi suspensa.

A empresa não escalou nenhum porta-voz para falar sobre o assunto e, ao contrário, recomendou silêncio a todo seu staff, deixando essa incumbência para o comunicado oficial (ver abaixo) e também para o advogado que se reuniu com a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.

Todos sabem que tão difícil quanto administrar a crise do Grupo é conciliar os interesses da família Mesquita. Isso explica em boa parte as dificuldades na realização deste ajuste e a demora em realizá-lo, sobretudo porque dessa vez os próprios membros da família foram afastados de suas funções operacionais. Diz-se, nos corredores da empresa, que a empresa de consultoria chegou a cogitar deixar um andar só para os integrantes da família (logo apelidade de Mesquitolândia), com salas privativas e pré-determinadas, mas que até isso foi complicado porque causou discórdia entre eles.

O Grupo Estado seria, em tese, o último grande conglomerado de comunicação do eixo Rio-São Paulo, a fazer o ajuste, o que traria o consolo de finalmente ter chegado ao fim a perversa fase das demissões. Isso, no entanto, não é tão certo assim, pois há quem acredite que vem mais coisa por aí. Aonde, em que proporções? Eis a questão.

No Valor Econômico, por exemplo, o presidente Nicolino Spina, em reunião que teve com seu staff, garantiu ter chegado ao fim a fase de ajuste. Essa mesma afirmação, no entanto, chegou a ser feita pela Direção da Folha no início do ano, numa reunião com mais de uma centena de jornalistas da casa, e todos vimos que a promessa não foi cumprida.

Quanto aos demais, tudo ainda pode acontecer. Até, quem sabe, um tímido processo de contratação.

A seguir a íntegra do comunicado divulgado no final da terça-feira pelo Grupo Estado:

?O Grupo Estado cumpre hoje mais uma etapa do processo de reestruturação que visa adaptar os seus custos à dimensão das receitas e à atual conjuntura econômica do País. O esforço de adequar a corporação a uma nova realidade inclui a redução geral de despesas e o desligamento de funcionários.

O compromisso que tem norteado as ações do grupo nesse processo é o de manter a qualidade e independência que marcam historicamente a sua presença editorial. A expectativa é de que seja possível retomar, em horizonte próximo, iniciativas que apontem para o crescimento e ampliem sua participação nos diversos meios em que atua.

A confiança do Grupo Estado na construção desse novo cenário sustenta-se, de forma destacada, na qualidade de seus funcionários. Assim como nos sólidos vínculos que mantém com a comunidade que se identifica com seus produtos e serviços de informação.

O Grupo Estado registra seus agradecimentos àqueles que hoje estão sendo desligados de seus quadros profissionais.?

Francisco Mesquita Neto

Diretor Superintendente”