A ironia da manchete chamou-me a atenção, quando saia para a concentração da caminhada do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul em defesa da exigência de formação superior para o exercício da profissão e pela criação do Conselho Federal dos Jornalistas. Não tenho dúvidas de que ela foi feita por um jornalista formado, que certamente nem vinculou o que escreveu à situação de incerteza quanto ao futuro da profissão que exerce. ‘Para ser peão tem de ser especialista’, dizia a chamada, que levava a uma matéria sobre o trabalho na construção civil. Esta era a manchete do Diário Gaúcho de quarta-feira (13/8).
É neste contexto, de exigência cada vez maior de especialização para o exercício de qualquer atividade ou profissão, que, de maneira absurda e irresponsável, setores do empresariado da área de comunicação social, em conluio com integrantes dos poderes Legislativo e Judiciário, armam, mais uma vez, o cenário para buscar a desqualificação da atividade dos jornalistas. Manobram, em prejuízo de toda a sociedade, para que seja posto fim à exigência do diploma de formação superior para a obtenção do registro e o exercício do jornalismo. Querem o fim da informação qualificada. Nesta luta, o que mais me impressiona e decepciona como cidadão é a desfaçatez com que tratam o tema.
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Não é de hoje que circulam comentários e documentários na internet sobre o modo peculiar que o governo do estado de Minas Gerais lida com a imprensa. Há um vídeo muito interessante sobre o assunto, intitulado Liberdade, essa palavra (ver aqui, parte 1 e parte 2). Na quinta-feira (14/8), o jornal O Tempo, de Belo Horizonte (edição online) anunciou o fechamento do jornal eletrônico Novojornal, que teve seu escritório invadido por policiais militares e agentes do Ministério Público Estadual. O site do jornal está com uma informação do Ministério Público.
O Novojornal sempre teve uma posição independente em relação ao governo do estado de Minas Gerais. Ao contrário do restante da imprensa mineira, nunca foi da linha de dizer que nas Minas Gerais vai tudo bem e que o governador Aécio Neves só merece boas notícias. Verdadeiros dissidentes mineiros, nesse momento em que parece haver, no estado uma falsa e burra unanimidade em torno de um governador que não é tão bom assim. Mas tem merecido só boas notícias.
Gostaria de dar ciência dessa acontecido ao Observatório da Imprensa, de quem sou leitor assíduo. Gostaria até de ler mais sobre o assunto. Para mim parece fato inédito. É a primeira vez, no Brasil, que sei de uma notícia sobre o empastelamento de um jornal eletrônico. (Geraldo Sette, funcionário público atualmente em disponibilidade sindical, Juiz de Fora, MG)
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Hoje, sexta-feira (15/8), no lugar das notícias muitas vezes desfavoráveis ao governo mineiro e demais orgãos do estado, a página na internet do Novojornal foi retirada do ar pelo Ministério Público de Minas Gerais ‘por medida cautelar e o conteúdo do site é objeto de apuração por indícios de prática de crimes’. Assinado, Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos. Muito estranho, principalmente num estado onde a mídia é visivelmente controlada pelo governador, e este jornal, que vinha despontando com um grande número de leitores virtuais, é um dos poucos a publicar matérias mostrando a corrupção em Minas. Alguém deve averiguar isso, ou o Brasil corre o risco de ficar às cegas quanto às verdades, como vem ocorrendo de forma escancarada em Minas. (Geraldo Flávio, administrador, Contagem, MG)
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O site NovoJornal foi tirado do ar, e na sua página consta o emblema do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Como assim? (Marco Curi, advogado, Sete Lagoas, MG)
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A mídia vem repetindo como papagaio o slogan ‘Educação de qualidade para todos’, sem pensar se ao menos isso é possível. Ora, qualquer pessoa que tenha um nível intelectual razoável, com isenção, consegue inferir que existe uma hierarquia natural da capacidade de raciocinar, assim como qualquer outra capacidade humana ou biológica. Assim, quanto mais se buscar um nível de excelência na educação, menor o número de pessoas capazes de fazer uso dela, pelo menos no mesmo intervalo de tempo. Aliás, nem seria produtivo, já que se ao menos metade dos alunos do ensino público tivessem uma aprendizagem de qualidade e ingressassem em cursos superiores, haveria uma quantidade imensa de desempregados de nível superior.
Entretanto, essa mentirinha inocente está causando um mal terrível aos professores da rede estadual paulista: como os pedagogos oficiais não conseguem fazer o milagre de melhorar a qualidade do ensino continuando com a progressão automática, sem diminuir o número de alunos em sala de aula e sem aumentar a carga horária das disciplinas, colocam a responsabilidade pelo seu fracasso no professorado – pressionando-o de todas as formas, como se estivesse a seu alcance tirar leite de pedra. Sou a favor de uma educação pública propedêutica para uma minoria intelectualmente privilegiada de qualquer classe social e, para os demais, uma educação pública prática, profissionalizante. (Luis Augusto Feris Almeida, professor, São José dos Campos, SP)
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Escrevo a este Observatório a propósito desta reportagem do site do Globo Online. Ocorre que a chamada para esta matéria já ficou por mais de 24 horas na página principal do Globo Online (escrevo às 21h37 de quarta-feira, 13/8). Qualquer leitor com um mínimo de discernimento é capaz de perceber que a jovem em questão está sendo favorecida em detrimento de centenas ou milhares de pessoas que estão na mesma condição (a maioria, certamente, em hospitais menos confortáveis que o Copa D´Or).
Considero o fato um grave atentado ao jornalismo, um claro favorecimento de ‘amigos’ do Globo Online, e um ultrajante desrespeito às pessoas que jazem em corredores imundos de hospitais públicos esperando pelas mesmas bolsas de sangue. Nada contra a garota, deixo claro, porém minha solidariedade se estende a todos aqueles que não contam com contatos na redação de algum portal de notícias da internet. Gostaria de ver manifestação deste Observatório a respeito do fato. (Paulo Akira, engenheiro, Rio de Janeiro, RJ)
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Em tempo de Olimpíadas, gostaria de aproveitar uma discussão a respeito do papel educativo da imprensa. O ginasta pediu desculpas por não ter conseguido ganhar. Os jornalistas esquecem o lema do esporte: o importante é competir. Os jornalistas (rádio, TV e mídia impressa) usam termos inapropriados ao verdadeiro espírito esportivo. Por exemplo, ‘inimigos’, ‘a maior lavada’, ‘nossos fregueses’ etc, termos usados lamentavelmente no futebol. Pergunto: até que ponto essas formas de vocabulário não deseducam a população ou mesmo criam um clima beligerante (vide torcidas uniformizadas)? Seria interessante que os jornalistas tivessem a consciência de sua responsabilidade na formação de ‘mentes sãs’. P.S. – É preciso que o programa do Observatório na TV Cultura passe em horário mais nobre. (Nicola Centrone, professor, São Paulo, SP)
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Falar de imprensa num país que não lê é um árduo trabalho. O jornalismo na TV: acho que é feita uma reunião de pauta com os jornalistas de todas as emissoras. Todos reportam o mesmo assunto, às vezes até ao mesmo tempo. O jornalismo no rádio: tem a CBN, a Jovem Pan, tem… tem… Quem ouve notícia em rádio? Jornalismo impresso: Somos um povo sem educação. Portanto, num mundo ‘infotecnológico’, não vamos a lugar algum.
Por que a imprensa só destaca o que é interessante e nunca o que interessa? Exemplo: quem é o responsável pela péssima segurança pública no estado Do Rio de Janeiro? É o povo, o policial ou o governador? A nossa imprensa blinda a autoridade responsável. Ela fala do ladrão, do assassino, da vítima, mas do responsável direto, nada! (Edilson Telles de Menezes, petroleiro, Valinhos, SP)
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Jornalista, Porto Alegre, RS