Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Fernando Martins

JORNAL DE NOTÍCIAS

"Vigilância dos leitores é a sua melhor defesa", copyright Jornal de Notícias, 15/6/03

"Eficácia do papel do Provedor depende do empenho e da participação dos consumidores

Jacinto Costa Freitas, de Coimbra, coloca ao Provedor uma questão: quantos Jayson Blairs haverá em Portugal?

E, mais pergunta: se estão instituídos, nos ?media? portugueses ou em quaisquer outras instituições, processos sistemáticos de controlo que permitam detectar casos de plágio ou de mera fabulação.

Reconhece o leitor de Coimbra que ?a circunstância de não ter ainda rebentado no nosso país um caso com a proporção do escândalo não significa que os jornalistas do nosso país sejam mais honestos do que os outros. Poderá um dia acontecer um fenómeno parecido com o da pedofilia, em cascata, de consequências e de proporções imprevisíveis?.

Não existem, de facto, em Portugal (tanto quanto o Provedor conhece), mecanismos de prevenção ou de detenção das fraudes jornalísticas –quer a nível das próprias redacções, quer fora delas. Porém, uma sucessão de exem- plos (grande, à escala do país) mostra à exaustão a falência dos sistemas existentes no jornalismo norte-americano.

Jayson Blair (como os seus ex-colegas do ?The New York Times?) estava sujeito a vigilância. Um controlo não sistemático, mas que chega ao cotejo, pela hierarquia, dos apontamentos dos repórteres e da autenticidade das suas fontes. Isso não impediu que só tarde de mais fossem detectadas não só as graves violações que levaram ao seu despedimento; mas outras dez que o jornal entretanto descobriu e que publicamente divulgou na semana que ontem terminou. Nem evitou a recente série de escândalos que envolveram galardoados com os respeitados Prémios Pulitzer.

Ainda que tarde, os desvios foram detectados. Em Portugal, falhas com a mesma gravidade seriam também descobertas?

A resposta é afirmativa… na condição de os leitores se tornarem, no nosso país, tão vigilantes e tão exigentes como os norte-americanos!

De facto, quase todos os erros nos ?media? dos EUA que, pela sua dimensão, ultrapassaram fronteiras e correram mundo, foram detectados por leitores, conduzindo a investigações exaustivas como a que ainda continua a incidir sobre as mais de 500 peças publicadas por Blair no Times novairquino. E, a cada irregularidade descoberta, aumenta a vigilância dos consumidores, medida pelo acréscimo de contactos recebidos pelos provedores.

No país que teve a lucidez de estatuir a figura do Provedor dos Leitores, os próprios ?ombudsman? se interrogam sobre formas eficazes prevenir falhas deontológicas que descredibilizem o jornalismo.

Na próxima reunião anual da Associação Mundialde Provedores (ONO), que se realiza em Istambul entre 14 e 17 do próximo mês de Setembro, está agendado para o penúltimo dia, justamente, um debate, que tem por tema: ?Como pode ajudar-se as redacções a evitar fiascos como o de Jayson Blair??

Aliás, um olhar sobre o programa do encontro permite avaliar que as preocupações dos provedores (e, por consequência, dos leitores, ouvintes e espectadores) de todo o mundo andam muito próximas.

Os primeiros debates têm como objectivo analisar a forma como a invasão do Iraque foi tratada pelos ?media? — na óptica dos provedores e na dos consumidores de informação cujos interesses defendem, tendo em vista, também, a nacionalidade dos órgãos de comunicação social (estarão presentes jornalistas árabes).

O último dia é para análise da ligação provedores-leitores ? ligação naturalmente inflenciada por factores vários e importantescomo a diversidade de culturas.

No fundo, é esta relação entre os leitores, os ouvintes e os espectadores e os provedores (intermediários privilegiados no diálogo com os ?media?) que constitui o mecanismo mais eficaz contra a distorção da verdade, contra o uso e abuso das fontes não identificadas, contra o plágio. E em defesa de todos os outros vectores que juntos, são a essência da qualidade do jornalismo e da sua credibilidade.

Leitores vigilantes e exigentes desencorajam a fraude, estimulam o rigor e as preocupações éticas.

Devolvem ao jornalista os limites deontológicos da sua actuação, onde não há lugar para o protagonismo, para a arrogância e para a falta de senso.

O contacto com o Provedor pode ser feito pelo correio, pelo fax 222002861 ou, por computador, para os endereços provedor@jn.pt ou fmartins@jn.pt

José Inácio de Sousa Campos, de Grijó (Gaia) chama a atenção para que o facto de ter sido publicado, justamente a 31 de Maio, um boletim para o Concurso das Quadras de S. João, favoreceu alguns leitores em prejuízo de outros. É que nesse mesmo dia terminava o prazo para entregar as composições poéticas. Os que moram perto do JN ainda puderam entregá-las em mão. Os outros ficaram arredados de mais essa oportunidade, pois já nem o correio lhes valia!

Tem razão o leitor.

António José B. Aguiar Pereira, na qualidade de presidente da ComissãoPolítica Concelhia do CDS-PP de Gondomar, trouxe ao conhecimento do Provedor o que considerou apropriação pelo JN de um comunicado daquela estrutura concelhia sobre a poluição da praia de Zebreiros, omitindo a origem do documento.

Não tem o Provedor quaisquer elementos que permitem a ilação invocada. De comum, notícia (publicada em ?Grande Porto? a 26 de Maio e comunicado do CDS-PP (com data de 19 do mesmo mês) apenas apresentam o tema ? coincidência normal perante a aproximação de época balnear.

Imagine-se, entretanto, que, por sinal, a jornalista autora da reportagem fora alertada para o tema pelo comunicado do PP: não seria um motivo de satisfação para a concelhia de Gondomar do partido, uma prova da eficácia da sua acção?

Decerto que procuram, mais do que publicidade, serviço à comunidade!

Apropriação não houve. Não se falou, é verdade, no esgoto existente no local e que desagua na praia. Fica agora dito. E, a persistir tal insalubridade, decerto que voltará a ser notícia, no sítio próprio."