Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ivson Alves


COLUNISMO EM EXTINÇÃO

"Colunismo social by Hilde, a queda de um anacronismo", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/07/03

"Vou interromper a série sobre as assessorias para me rejubilar com a decisão do Globo de detonar Hildegard Angel. Nada contra a Hilde pessoalmente, já que nunca trabalhei com ela, mas o fim de sua coluna é um fato positivo por tem o peso de um símbolo: o fim do colunismo social em diários, um anacronismo que ainda sobrevive por aí, mas, já acreditava antes do anúncio do Globo, com os dias contados.

O colunismo social do estilo Hilde faz parte de um mundo – e de um Brasil – que se encontra em seu crepúsculo. Um mundo em que a importância social de alguém vinha ou de seu berço ou da fortuna que conseguia amealhar sem se dedicar muito ao trabalho. Este ?jet set? era coberto, tomando por base aqui o balneário decadente, por um tipo de jornalismo que um coleguinha mordaz – tenho para mim que Antônio Maria ou o Sérgio ?Stanislaw Ponte Preta? Porto, mas alguém aí pode confirmar – chamou de ?picadinho relations?. Os coleguinhas eram comensais dos seus personagens, tendo com eles uma relação de cumplicidade hoje considerada mais do que suspeita não só por quem vive de jornalismo, como pelo distinto público leitor.

Não que o ?colunismo social? tenha desaparecido. Ele mudou de forma, refletindo um mundo em que a idéia de exclusivismo só se mantém à vera num nível tão elevado que até dispensa as atenções da mídia. Hoje, o ?colunável? é o ?famoso? da hora – o bacana do Big Brother, a boazuda modelo-e-atriz, o pagodeiro, o jogador de futebol. Houve ?queda de nível?? Não tenho muita certeza disso…Afinal, pelo menos essas pessoas trabalham abertamente – algumas em profissões bem antigas – ao passo que aquelas outras tinham como principal motivo de orgulho manterem um alto padrão de vida sem trabalhar, algo que hoje só se aceita (e ainda assim mais ou menos) em ?filhinhos? e filhinhas de papai?.

O ?colunismo da fama? criou seus próprios veículos, cujo paradigma, claro, é ?Caras?. Um tipo de jornalismo que faz sucesso – pelo que se pode depreender da multiplicação de revistas do tipo – e que acabou chegando aos jornais, principalmente aos chamados populares, cuja cobertura de televisão (e dos seus famosos instantâneos) é uma de suas forças de venda.

Um passo na direção desta adequação ao mundo em volta é que foi dado com a defenestração da Hilde. Ela será substituída no Globo exatamente por uma coluna que, pelo que entendi, falará de famosos ou quase-famosos, mas de uma forma mais light do que a de Caras, e congêneres, e dos jornais populares. Não entro no mérito de se o ?colunismo da fama? é bom ou mau, mas creio que deve se admitir que ele reflete muito mais o que está a nossa volta do que o colunismo social praticado pela Hilde. E o jornalismo, é sempre bom lembrar, precisa estar sempre em compasso com o que o cerca, até para poder sobreviver.

Outro anacronismo – Mas nem só de Hildegard Angel vive o anacronismo no jornalismo brasileiro. Um estudo assinado por Maurício Stycer e Raquel Salgadofaz um levantamento da forma como César Giobbi cobriu a eleição presidencial de 2002 na coluna Persona, do Estado de São Paulo.

No estudo – publicado na edição deste semestre da revista Communicare, editada pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP) da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero – Maurício e Raquel demonstram que o partidarismo pró-José Serra do colunista do Estadão vai de encontro a tudo o que prega o manual de redação do jornal, que defende um jornalismo moderno de padrão americano (de outros tempos, pois hoje em dia alguns dos mais famosos jornais das terras do Tio Sam dificilmente poderiam ser mais partidários sem estampar o logo de um partido na primeira página…).

Não deve ser fácil arranjar a Communicare, principalmente fora de Sampa, mas quem puder fazê-lo só terá a ganhar com a leitura do artigo dos professores.

Reforço – Para encerrar o assunto (pelo menos no momento): um colega me perguntou para onde iria a Hilde agora. Bem, se eu fosse o responsável pela Caras – ou por uma revista deste tipo – chamaria a ex-colunista do Globo para conversar. É que ela tem contatos numa esfera em que estas revistas não alcançam muito e, por isso, poderia agregar um bom valor ao produto (como adoram falar os marqueteiros). Ou seja, o colunismo social by Hilde até está por baixo – e deve mesmo permanencer por aí – mas ainda pode dar algum caldo, desde que colocado no lugar certo."

 

BLOG DE JORNALISMO

"Comunique-se lança blog para jornalistas", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 1/07/03

"O blog é considerado uma febre na Internet. Uma espécie de agenda pessoal, muitas vezes ele faz parte até do cartão de visitas de profissionais. Foi pensando justamente em oferecer uma ferramenta como esta para a sua comunidade que o Comunique-se lançou o Blog-se nesta terça-feira (01/07). A partir de agora, os profissionais de imprensa poderão criar um espaço só deles na Web. ?O Blog-se é o resultado da constante procura em fazer mais e melhor para o jornalista. Com a ferramenta, estamos respondendo às reivindicações dos usuários do portal, permitindo uma maior interação entre eles, como acontece com o Comunicador e a área de comentários das matérias?, comenta Rodrigo Azevedo, presidente do Comunique-se.

A ferramenta foi totalmente desenvolvida pela equipe de Tecnologia do portal. Foram seis meses de trabalho. Azevedo explica que ela apresenta todos os recursos necessários e capazes de facilitar a criação de um blog. ?Tudo foi montado pensando no jornalista. Fizemos o Blog-se para atender um nicho específico, por isso todos os blogs criados aqui terão características tipicamente jornalísticas. Este é o primeiro blog segmentado do país?, diz Azevedo.

À medida que vão sendo atualizados, os blogs ganham destaque na capa do Blog-se e também no espaço ?Segundo Clichê?. Dentro de pouco tempo, as atualizações poderão ser vistas também na home do Comunique-se pelos cerca de 36 mil jornalistas cadastrados no site.

Azevedo destaca a possibilidade de arquivamento do material postado e também de busca e pesquisa. ?O Blog-se já nasce colaborativo. As pessoas podem comentar no blog dos colegas, como acontece em qualquer matéria do site?. Ainda dentro do Blog-se é possível usar o Comunicador e ter acesso às últimas atualizações das colunas do portal."

 

INTERNET

"A nova geração da web vai ser lançada nas próximas semanas em Genebra", copyright O Estado de S. Paulo / The Guardian, 4/07/03

"Dentro de duas semanas, cientistas de Genebra vão dar a partida no maior avanço da comunicação global desde que Tim Berners-Lee, inventor da internet, rabiscou ?www? num quadro-negro em 1989. Eles vão anunciar que dez laboratórios em diversos pontos do planeta podem agora conversar uns com os outros por meio de seus computadores.

Na era da comunicação digital de alta velocidade pode não parecer grande coisa. Mas esse pequeno passo marca o lançamento de um novo conceito tecnológico, o da nova geração da web. É chamado de grid (grade) e os cientistas dizem que, em pouco tempo, vai mudar tudo o que fazemos, desde pesquisa científica e negócios até programar viagens, reservar hotéis, ver e fazer filmes.

Memória – A internet consiste hoje de enormes servidores que contêm informações em páginas da web que, então, são baixadas pelos computadores dos usuários. Como usuário, o que você pode fazer com essa informação está limitado pela memória ou capacidade de processamento de seu computador. Com a grade, a capacidade da sua máquina – todos aqueles gigabytes, RAM e gigahertz – se torna irrelevante. Não importa o quão primitivo e barato seja o seu computador, você terá acesso a uma capacidade de processamento maior que a do Pentágono.

?Você só tem de dizer qual a informação que você quer e a grade vai lá e não só pega para você como a torna acessível?, diz Roger Cashmore, diretor de pesquisa do laboratório de física de partículas europeu, o Cern, perto de Genebra.

Conexões – A espinha dorsal da grade vão ser centros de computação com milhares de PCs conectados. Os usuários vão poder usar programas, capacidade de processamento e memória que precisarem como se fosse do seu computador.

Vai demorar um pouco para a grade ter impacto em nossa vida. Como a web, a grade está sendo desenvolvida para desenvolver a pesquisa científica. O Cern está construindo um grande colisor de hádrons, o LHC, um equipamento para pesquisar as propriedades da matéria. O LHC vai produzir uma quantidade monumental de dados ao acelerar prótons a uma velocidade próxima à da luz e fazer com que colidam. ao longo de um ano, deve geral entre 500 milhões e 800 milhões de gigabytes de informação, algo que exigiria um pilha de CDs do tamanho da Torre Eiffel só para armazená-los. Para usar essa montanha de informação, os cientistas precisam também de um meio para analisá-los e filtrar o que é significativo e o que não é. Para fazer isso, é necessária uma gigantesca capacidade de processamento. E aí que a grade vai entrar."

 

"Acesso gratuito e democratização", copyright O Globo, 4/07/03

"Desde as origens da internet, a discussão sobre sua democratização esteve presente em todas as partes do mundo. As estratégias utilizadas foram as mais variadas, destacando-se dentre elas, em inúmeros países ocidentais, a implantação dos programas Sociedade da Informação, o mesmo aqui acontecendo desde o ano de 1999. No Brasil, o novo governo, por enquanto, ainda não se manifestou publica e enfaticamente sobre a questão, havendo apenas movimentos esparsos em alguns ministérios em busca da paternidade da continuidade do programa. Urge não deixar o já feito largado ao esquecimento.

O programa brasileiro representou um considerável esforço, é verdade que repleto de equívocos típicos do governo que se foi, mas é com a correção daqueles problemas que o novo governo poderá avançar na discussão sobre a inserção do Brasil na sociedade da informação.

Um dos aspectos sempre presentes nesses programas, em todo o mundo, é a discussão sobre como garantir o acesso da maior parte da população aos recursos tecnológicos, entre os quais o inicial, e o mais evidente, que é o acesso à internet. Em alguns países foi adotada a estratégia do acesso gratuito que, poucos sabem, é gratuito apenas no pagamento da conta de provedor, sendo os pulsos de cada ligação pagos pelo contribuinte, como em qualquer outro caso. E esse custo não é pequeno.

O pagamento de pulsos pode se constituir, então, numa estratégia de sobrevivência de provedores, não significando a resolução do problema da exclusão digital no país. Pode garantir, sim, a sobrevivência de operadoras e provedores por possibilitar o chamado subsídio cruzado, o que faz aumentar o montante de recursos para os caixas das operadoras de telefonia e provedores de internet que, articulados, fazem o dinheiro circular de um para outro, muitas vezes um e outro sendo os mesmos. Quem paga a conta, em última instância e como sempre, somos nosotros , os pobres coitados cidadãos-consumidores. A busca de regulamentar esse tipo de ação é, sem dúvida, uma saída. E torna-se mais que necessária. Mas não basta.

Uma outra frente de luta que precisa ser estabelecida está no fim da cobrança dos pulsos, uma excrescência originária do tempo em que a telefonia não conseguia ter uma infra-estrutura adequada a grandes tráfegos. Assim, para diminuir a utilização dessa débil rede, se obrigava, através da cobrança por tempo de uso, que os usuários falassem o mínimo possível.

Hoje em dia, com o avanço das tecnologias de telecomunicação, temos uma capacidade ociosa do sistema, praticamente todo já digitalizado, com os sinais circulando em alta velocidade pela fibras óticas instaladas, não havendo mais sentido na cobrança desses pulsos. A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) possui dados que indicam ser de cerca de 70% a ociosidade dessas fibras nas regiões metropolitanas. Vários países já abandonaram a prática de cobrança por pulsos há um bom tempo. O Brasil precisa avançar a passos largos na busca da inclusão digital de todos os cidadãos, tornando essa idéia de cobrança por pulsos coisa do passado, regulamentando a tal internet gratuita e possibilitando ao consumidor entender claramente quem paga o que na internet ?grátis?.

Além disso, esperamos que a gestão da internet no Brasil se torne algo mais transparente e democrático, com uma discussão profunda de políticas que garantam efetivamente a inclusão digital do cidadão brasileiro. Isso incluirá, entre tantas outras ações, uma ação imediata para o aparecimento dos recursos do FUST, o famoso Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações que, desde a promulgação da Lei Geral das Telecomunicações em 1997, amarga em um ostracismo inacreditável, que fez com que mais de R$ 2,1 bilhões (ainda será isso mesmo?!) simplesmente tenham desaparecido nas malhas da burocracia governamental, a serviço dos interesses privados.

Proposta de modificação dessa lei já se encontra no Congresso Nacional e, mais uma vez, parece-nos que, em nome da dita universalização, beneficia-se as operadoras, que já têm a obrigação de universalizar o acesso à telefonia, pela próprio texto legal da LGT de 1997. Diferente disso, o que precisamos é de um fundo que, com amplo controle social, busque a info-inclusão não na perspectiva de meros consumidores de informações e de serviços.

Diversos segmentos da sociedade brasileira já entendem e demandam um processo de inclusão digital numa perspectiva muito mais ampla do que essa. Penso que, só assim, teremos a possibilidade da imediata utilização desses recursos na conexão em rede das escolas públicas e de implementação de um amplo conjunto de qualificação dos usuários, constituindo-se numa das mais importantes etapas em busca da viabilização de uma plena participação do cidadão comum na chamada Sociedade da Informação. (Nelson PrettoProfessor e Diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Doutor em Comunicação. <www.pretto.info>)"