Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Roberto Maciel

O POVO

"Entre tiros e palavras", copyright O Povo, 6/7/03

"Terça-feira, o deputado Paulo Duarte (PSDB) foi à tribuna da Assembléia Legislativa acusar o desembargador federal José Maria Lucena de ter encomendado a morte do radialista Nicanor Linhares, crime ocorrido no dia anterior em Limoeiro do Norte. E ainda apontou um subtenente do Exército, que identificou como Edésio, de ter intermediado a contratação dos pistoleiros. O Povo silenciou sobre a fala, ao contrário do ?Diário do Nordeste? e do ?O Estado?. O próprio Lucena, ainda na terça, repudiou a acusação, prometendo ir à Justiça responsabilizar o deputado por danos morais e ofensa à honra. A concorrência também divulgou a nota do desembargador.

Leitores apontaram a omissão, notando que sempre que se envolve o Judiciário e seus integrantes em alguma denúncia O Povo tem postura igual. Argumentei para a Redação que não havia motivos aparentes para se desprezar o discurso de Duarte. Mesmo admitindo que as acusações careciam de provas e que o deputado tem interesses políticos em Limoeiro, cuja prefeita é Aurivan Lucena, mulher do desembargador, observei que foram feitas em um espaço indiscutivelmente público, o parlamento – o que, por si, já é um fato. E ressaltei haver a resposta do desembargador. Por isso, considerei que O Povo falhou.

Quarta-feira, recebi resposta da editora-chefe Fátima Sudário. Seu julgamento cabe aos leitores: ?Foi uma decisão editorial não colocar o pronunciamento-denúncia do deputado Paulo Duarte no Plenário da Assembléia Legislativa. E se insere dentro de uma política de se criar, no jornal, uma nova cultura no trato com a imagem dos cidadãos (…). Tanto que podemos citar exemplos recentes (…) Os outros jornais publicaram matérias com denúncia das mortes na Santa Casa de Sobral por falta de atendimento de UTI. Naquele momento, o jornal também optou por não veicular a matéria até que tivéssemos informações mais consistentes. Entramos no caso depois, sem qualquer trauma e passamos a acompanhá-lo. Avaliamos que era uma decisão responsável(…). Sabemos que o fato de a denúncia alcançar um desembargador federal pode dar a impressão de que foi uma omissão intencional. Não é o caso. O fato é que, embora a denúncia tenha sido feita num lugar público, o deputado denunciante não apresentou provas. É sabido que Nicanor Linhares tinha vários inimigos, principalmente políticos. Duarte é um adversário político da mulher do desembargador, atual prefeita de Limoeiro do Norte, por ela derrotado nas últimas eleições municipais. Isso por si só não o desqualifica para fazer denúncia, mas, minimamente, o deputado teria que melhor embasar uma denúncia com caráter tão grave, feita sob intensa emoção no dia do enterro. Podemos garantir que O Povo vai acompanhar o caso e, à medida que a investigação da polícia avançar, os fatos serão noticiados (…)?.

A indignação versus o sorriso

O Povo deste sábado, 5, retrata a reação social frente à decisão da Assembléia que, na madrugada de sexta, absolveu o deputado Sérgio Benevides (PMDB) das acusações de desvio de verba pública destinada à compra de merenda escolar. O jornal, embora acatando a validade da decisão, mostrou-se surpreso com ela. E, em Editorial de primeira página, sintetizou a indignação cidadã que, como na capa, ficou abaixo, muito abaixo, do sorriso de Sérgio Benevides. Uma edição meritória.

O ombudsman no canhenho do leitor

Recebi carta, na semana passada, de leitor que se identificou como Valdecir Pires de Salles e que tecia considerações ao meu profissionalismo. Aparentemente, uma nota na coluna Reportagem, do jornalista Lúcio Brasileiro, sobre o ex-presidente do Banco do Nordeste, Byron Queiroz, é o pivô do julgamento e da sentença. Segue parte da mensagem, precedida por estas observações: 1) Ele cobrava minha manifestação a respeito da opinião de Lúcio, para quem Byron é ?um dos maiores talentos de sua geração?; 2) O endereço informado pelo signatário não existe, assim como seu nome não está na lista telefônica. Há possibilidades de se tratar do escuso expediente de uma agressão anônima. Não apresento todo o conteúdo porque também se refere a terceiros, mas do que foi a mim dirigido selecionei o seguinte:

?Pensei que v., como Ombudsman, fosse diferente, um profissional sério, a julgar pelos seus escritos anteriores, e que não estivesse comprometido, direta ou indiretamente (…). Sua omissão é imperdoável. Coloquei-o no meu canhenho. Deixei de lê-lo e tirei da cabeça a idéia de ser assinante do O Povo?.

Apresentada a análise, cabe a resposta, mesmo sob o risco de, como informou o remetente, não ser lida por ele. Devo reforçar que questões assim devem ser esclarecidas com sentido adicional de se evitar a impertinência, freqüentemente vinculada à paixão e ao desconhecimento da atividade jornalística. Independente do julgamento que o leitor faz das pessoas, Lúcio Brasileiro tem o irrestrito direito de expor o que acha delas. E assim o fez, de forma pessoal, opinativa. E sem máscaras. Não cabe ao ombudsman, em absoluto, apreciar a essência do que pensa o colunista. A demanda do leitor ?Valdecir? não encerrava, portanto, elementos que a legitimassem. Havia, sim, um conteúdo carente de argumentos mas abundante de intolerância – o que me permite, pelo menos, fazer o devido juízo das considerações.

Ainda Gondim

Sobre observação que fiz na Coluna passada, de que ?20 anos após o fim do COE alguns conceitos condenáveis permanecem encalacrados na comunidade da Segurança Pública?, o Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Ceará me enviou ofício observando que há, em contraponto àqueles conceitos, ?uma nova matriz doutrinária?. Por fim, uma crítica de caráter abertamente político à gestão da Segurança: ?Claro está, que como diz o pensador ?o velho morreu e não deixa o novo nascer? que intelectuais tradicionais, instrumentos da antiga ordem e ainda redutos ideológicos do passado (sáurios), não se aperceberam da vertiginosa velocidade de uma ordem política em mudança, que clama por eficiência, rigor, celeridade, presteza, transparência, investimento e Justiça, e não a legitimação da barbárie, o controle legal da violência?."