RECONSTRUÇÃO DO NY TIMES
Após meses de indefinição, o New York Times finalmente tem um novo nome para o cargo deixado por Howell Raines e assumido temporariamente por Joseph Lelyveld. Bill Keller, que chega ao NY Times em 30 de julho, é o novo homem mais poderoso da redação.
A partida de Raines, junto com seu braço direito, o editor-administrativo Gerald Boyd, foi motivada pela sucessão de eventos que trouxe uma crise à redação do Times. Os principais protagonistas do desgaste foram o repórter Jayson Blair, que plagiou e inventou matérias, e Rick Bragg, jornalista de prestígio acusado de não atribuir devidamente créditos e procedência de reportagem.
Keller, que tem 54 anos, é colunista do Times e já ocupou os postos de editor-administrativo, editor de internacional e chefe de redação na sucursal de Moscou e Joanesburgo. Em 1989, ganhou o Prêmio Pulitzer por sua rica cobertura da União Soviética. Quando entrou no Times, em 1984, foi correspondente da sucursal de Washington. De 1986 a 1991 permaneceu na sucursal de Moscou, primeiro como correspondente, depois como chefe de redação. Entre 1992 e 1995, foi chefe de redação da sucursal da África do Sul. Em 1995, foi indicado para editor de internacional por Lelyveld.
Lelyveld, aliás, apoiou Keller, anos atrás, para sucedê-lo como editor-executivo, mas Sulzberger escolhu Raines na ocasião. Keller virou colunista na página de editoriais e na New York Times Magazine. Antes do Times, Keller trabalhou como repórter no Dallas Times Herald, The Congressional Quarterly Weekly Report e The Oregonian.
O anúncio do novo editor-executivo foi feito em 14/7 pelo publisher Arthur Sulzberger Jr, e divulgado em nota de Jacques Steinberg [The New York Times, 14/7/03]. "Sinto-me honrado e feliz pela oportunidade de liderar a melhor assembléia de jornalistas do mundo", disse Keller, em declaração oficial. "Essa organização noticiosa é um tesouro nacional. Farei tudo que estiver em meu poder para manter os altos padrões e preservar sua integridade."
De sua parte, Sulzberger descreveu Keller como "jornalista talentoso,
administrador esforçado e líder confiável".
Os editores do New York Times agora têm mais liberdade para detalhar quem são os autores das matérias publicadas no diário. "Tradicionalmente, nossa prática era de desencorajar a profusão de créditos", conta Catherine Mathis, porta-voz do Times e vice-presidente de comunicação corporativa. Antes, por exemplo, não se citavam os colaboradores das matérias. Com a mudança, até na capa foi dado crédito a um jornalista sem vínculo com o jornal. "Veremos mais créditos para colaboradores na medida em que devolvemos autoridade aos departamentos individuais", explica Catherine a Michele Gershberg, da Reuters [10/7/03].
A nova postura seguiu-se ao problema com o renomado repórter Rick Bragg, vencedor de Pulitzer que, em maio, pediu demissão depois de ser suspenso por não mencionar que a maior parte de reportagem assinada por ele fora feita por um colaborador. Bragg não aceitou a punição, dizendo que a prática era comum no Times. O caso agravou a crise no diário, iniciada pouco antes com o escândalo Jayson Blair.
A alteração na política de créditos só deve ser formalizada como prática do jornal quando terminarem as pesquisas do grupo montado para estudar o trabalho na redação.