RÁDIO NACIONAL
Patrícia Rodrigues (*)
"Alô! Alô! Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!". Assim entrou no ar, às 21h do sábado 12 de setembro de 1936, a PRE-8, Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o grande marco do desenvolvimento do rádio no Brasil. O último andar do edifício de A Noite estava em festa.
Há quase 67 anos no ar, a emissora líder de audiência nas décadas de 40 e 50 sofreu grande abalo. No dia 22 de junho, ao fim de seu Onde canta o sabiá, Gerdal dos Santos anunciou que aquele era o último programa. A nova direção da rádio havia decidido demitir Gerdal dos Santos, Daisy Lucidi e outros três profissionais. A justificativa apresentada foi a idade dos radialistas. A decisão, felizmente, foi revogada pela administração da Radiobrás, em Brasília, no dia 25 de junho.
Gerdal dos Santos e Daisy Lucidi estão há mais de 50 anos na emissora. São parte da história do rádio brasileiro. Seus programas Onde canta o sabiá e Alô, Daisy, têm audiência expressiva e conservam suas características de gênero e formato sem ceder às pressões do consumismo e do imediatismo, que caracterizam os programas das demais emissoras. Não podem ser tirados do ar. A justificativa da demissão, dada pela direção da rádio, é absurda.
Gerdal e Daisy viveram a Era de Ouro do rádio brasileiro e têm muito a contribuir para a preservação da memória do rádio no Brasil. Como radioatores, viveram personagens que encantaram e emocionaram milhares de ouvintes. A idade e a experiência deles, as histórias maravilhosas que eles têm para contar não podem ser desprezadas jamais. Se a Rádio Nacional ainda sobrevive, pode-se dizer que é graças à competência, ao talento e à brilhante história desses profissionais. Não é à toa que eles estão há tantos anos no ar. Os ouvintes ligam, participam e vão assistir aos programas na rádio, que ainda mantém seu auditório.
Alerta a Brasília
A importância da Rádio Nacional pode ser avaliada pelo interesse demonstrado pelo ex-senador Artur da Távola. Quando estava à frente da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, apresentou projeto para transformar o antigo estúdio de Rádio Teatro da PRE-8 em museu. Fariam parte do acervo uma coleção de rádios antigos, fotos, depoimentos, discos e a casinha da sonoplastia, onde ainda existem alguns recursos utilizados nas radionovelas para a produção de efeitos sonoros. O projeto também previa o renascimento das radionovelas, e tinha como objetivo contar a história de todas as rádios brasileiras. Infelizmente, a idéia não saiu do papel.
O que será que a nova direção da Rádio Nacional pensa quando fala em renovação total da emissora, adaptando-a a uma nova dinâmica radiofônica? E o convênio financeiro assinado, pela antiga direção da rádio, com a Petrobrás? Os amantes do rádio estavam otimistas. As instalações passaram por reformas e o acervo da rádio finalmente ficaria a salvo.
Uma emissora como a Rádio Nacional precisa ter, nos cargos de direção, pessoas de nível cultural e conhecimento histórico que correspondam às exigências do cargo e que permitam o acompanhamento dos avanços tecnológicos e da modernização dos meios de comunicação, sem atentar contra a memória cultural do rádio brasileiro.
Sobre o nascimento da Rádio Nacional, disse Heron Domingues, em 1961, quando a emissora completava 25 anos: "A idéia teve uma arquitetura. A arquitetura, os seus construtores. Os homens que faziam do vespertino A Noite um rastilho, um relâmpago, uma vibração, colocaram no céu três letras e um algarismo, que foram a chave de todo um novo alfabeto de amor ao Brasil: PRE-8, prefixo da primeira estação de ondas médias da então Sociedade Rádio Nacional."
Carregar essa herança é muita responsabilidade. Que as autoridades de Brasília fiquem atentas.
(*) Jornalista