Javier Errea, presidente da Society News for Design da Espanha e diretor da Errea Comunicación, foi o destaque do Trends in Newsroom da WAN. Em uma votação em que os maiores designers de jornais escolheram os seus projetos gráficos favoritos dos últimos tempos, três deles eram trabalhos assinados por Errea. Em uma prévia do que Javier Errea discutiu na palestra que abordará o design dos jornais hoje e no futuro no 7º Congresso Brasileiro de Jornais, o designer espanhol fala da integração multimídia dos jornais, do que o leitor procura e como colocou os jornais da Grécia, da Espanha e de Portugal entre os melhores designs do mundo.
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O design dos jornais hoje já corresponde à necessidade do leitor?
Javier Errea – É difícil assegurar se algo no mercado satisfaz ou não nossas necessidades ou expectativas. Não apenas no jornalismo, falo de qualquer atividade. O mercado vive em constante transformação, reinventando-se, sem deixar que nada se torne um peso morto e que se desfrute serenamente. Vivemos em um mundo em que nos impusemos a novidade permanente como estilo de vida, e por isso o que hoje está na moda amanhã já será velho, e depois de amanhã soará como relíquia. Pensamos na moda, em como nos vestimos, nos carros que conduzimos, nos celulares que usamos toda hora, nos computadores… sinceramente, me parece vergonhoso. Os jornais de hoje são relíquias de outra época, de quando não havia outro canal de informação. E, contudo, resistem. Algo devem ter de valor, eu digo, para que ainda signifiquem uma porção importantíssima do mercado publicitário e uma ainda mais importante do mercado informativo.
São perfeitos? É claro que não. Satisfazem a todas as nossas expectativas como consumidores de informação? Claro que não. Mas se nos apoiarmos nas pesquisas de satisfação e de hábitos de leitura que todos os meios fazem, sistematicamente passam para o primeiro plano informações que não são reais. Os leitores, além disso, raramente sabem o que querem, e nem propõem coisas que não conhecem. Apenas conformam-se em avaliar o que lhes é dado, nunca falam do que não lhes é dado. Para resumir, eu creio que muitos jornais estão dando, sim, os que os leitores necessitam.
Que elementos você procurou incorporar em jornais como o Aleftheros, El Economista e o Expresso que os tornaram alguns dos melhores designs de jornais do mundo?
J.E. – Os rankings, em qualquer âmbito da vida, são muito relativos. Não se deve perder a cabeça nem pensar que é melhor ou pior que ninguém. Os concursos, os prêmios, as votações… têm o valor que têm. Claro que a todos nós é agradável ganhar ou ter nosso trabalho reconhecido, mas o importante não é isso, e sim estar satisfeito com o trabalho realizado e, ainda mais, que o cliente e os leitores o valorizem e que a circulação e o faturamento aumentem. Se não for assim, não há prêmio ou projeto que valha a pena. Digo isso porque a eleição dos dez jornais com o melhor design no período de 2006-2008 que a WAN realizou corresponde a uma seleção de alguns indivíduos. Grandes designers e colegas, sim, mas poucas pessoas com seus gostos e critérios no final das contas. Enche-me de orgulho e me agrada muito que tenham selecionado dentre esses dez projetos três que desenvolvi nesse tempo. Mas na verdade posso dizer que estaria igualmente satisfeito com esses projetos se não houvessem sido selecionados. Há outros jornais que eu adoro e que me servem de inspiração permanente que não estão dentre esses dez.
O que têm o Eleftheros Typos, El Economista ou o Expresso? Eu diria que antes de qualquer coisa, têm paixão jornalística. E um empenho muito claro em ter uma voz própria, uma personalidade diferenciada. O jornal El Economista é o último dos diários financeiros a chegar ao mercado espanhol, e por isso mesmo foi claro desde o primeiro momento que a diferença, ser diferente, era a chave. O projeto gráfico responde a esse zelo pela diferenciação. O Expresso é o monumento à credibilidade e à independência em Portugal. O Expresso é o prestígio, a história recente de um país, o compromisso com essa jovem democracia. O projeto gráfico trata-se, literalmente, de conceder ao Expresso esse prestígio perdido, uma simples elegância e um sentido de ordem muito aguçado. Ah! E humor inteligente. Há muitos detalhes que corroboram a isso: uma tipografia criada exclusivamente para o Expresso e batizada com o nome do jornal, um forte compromisso com a hierarquia, a importância da fotografia e, ainda, da ilustração…
Por último, o Eleftheros Typos é a transgressão desde a recuperação da credibilidade informativa em um mercado complicadíssimo e muito politizado como o grego. Eleftheros Typos é a aposta nas próprias convicção e fórmula, apesar das pressões para se manter na atual tendência. O projeto gráfico do ET parte da linguagem da internet e da televisão, aplicadas a um jornal.
Quanto à tendência mencionada no Newsroom Trends da WAN, de que o jornal está aos poucos fundindo-se com sua versão na web, como esta transformação está ocorrendo?
J.E. – Tenho muito medo de falar sobre essas coisas. Todo mundo está falando de convergência, de fusão, de integração… Mas poucos enfrentam o verdadeiro significado dessas estratégias além das medidas de economia e a curto prazo. Minha crítica às empresas jornalísticas nesse momento é que estão dedicando-se ao corte de custos mais do que a ver o futuro com convicção jornalística. Há muito medo no ambiente, muitas medidas paliativas que somente permitem prolongar a agonia, se é que elas existem. Mas vejo muita pouca convicção no que estamos fazendo. E pouco debate verdadeiramente jornalístico. Claro, o panorama não é o mesmo de vinte anos atrás. Mas o ser humano é basicamente o mesmo. Modestamente, posso dizer que não foi possível ver até hoje em nenhum país isso que chamam de integração. E, se o vi, não percebi, algo que seria ainda mais grave.
Que providências devem ser tomadas pelos jornais que quiserem mudar a cara de suas publicações para facilitar a leitura e atrair os leitores?
J.E. – Estou empenhado em testar novos formatos de leitura e novas fórmulas narrativas que já são experimentadas em outros suportes e campos da vida, incluindo revistas, e trazê-los aos jornais. Não em suplementos e em ocasiões especiais, mas como um estandarte de atuação diário. Parece-me, e é apenas uma intuição, que os leitores estão demandando, sem dizer, uma certa coragem nesse sentido. Surpreender. Um jornal é um jornal, mas temos de recuperar a capacidade de surpresa nos jornais. E, antes de qualquer coisa, desfrutar do nosso trabalho e nos divertirmos com ele. Penso que os jornalistas estão muito entediados e que, por isso, nossos jornais são majoritariamente entediantes.