Outra vez frustrada em sua obsessão pela hegemonia nacional no futebol mundial, a imprensa brasileira novamente veste a camiseta de torcedor e brinda o público com muita emoção e pouca análise.
A seleção olímpica de futebol, que carregava a convicção da mídia por uma medalha de ouro, vai outra vez, quando muito, se habilitar a uma medalha de bronze. O sonho do título inédito segue novamente para o depósito de frustrações.
O técnico Carlos Dunga é o responsável escolhido pela imprensa. Na terça-feira (19/8), desde as primeiras horas após a jornada desastrosa, muitos sites de jornais já consultavam os leitores-torcedores sobre seu destino. Como é de praxe, muito provavelmente o que se vai seguir é o conhecido processo de fritura que acaba com a substituição do gerente. Enquanto isso, os jornalistas permanecem longe dos problemas crônicos do futebol nacional.
Negócio bilionário
Não que a imprensa devesse considerar que o selecionado nacional tem que ganhar todas as competições de que participa. Apenas seria o caso de aproveitar esse novo fracasso para fazer uma radiografia da estrutura do futebol profissional do Brasil, que já serviu até mesmo para operações de lavagem de dinheiro da máfia russa.
Afinal, se o futebol é assim tão importante para mobilizar as paixões de veteranos jornalistas e ganhar os espaços mais nobres do noticiário, seria de se perguntar por que a imprensa deixou de se interessar pela corrupção e outras mazelas do esporte.
Houve uma CPI sobre o tema, que se esvaziou sem maiores conseqüências. A cada nova temporada, renova-se o jogo das paixões sem que alguém se interesse em investigar os bastidores desse negócio bilionário, no qual se envolvem empresários, diretores de clubes e jogadores famosos, com fortes cheiros de fraudes contra o fisco e evasão de divisas.
Enquanto isso, os jornalistas se contentam em ficar à beira do campo.