PARA VER E LER
Cláudia Rodrigues (*)
Fácil não é mas, procurando, se encontra jornalismo. Ao contrário do que se diz ? e se diz para fortalecer a hegemonia dessa imprensa que está aí ?, nem sempre textos e programas de rádio ou TV são da execrada esquerda radical. Saem boas matérias até de press release.
O Globo Rural na TV, embora seja pautado por entidades como a Embrapa, pode ser assistido sem a síndrome da libirintite da informação; aquela encaraminholação que deixa a pessoa com a cabeça cheia de perguntas: "Será que é verdade?", "A quem interessa essa notícia?", "Eles tiveram a coragem de usar essa informação para beneficiar aqueles interessados?", "O que eles pretendem com isso?", "Meu Deus, não é que eles estão mesmo levando todos a pensar dessa forma porque assim levam vantagem?"
Bem, é sempre bom guardar um certo espírito de desconfiança, mas nada assim muito perto da psicose, até porque eles citam a fonte que inspirou a pauta com muita transparência e vão além nas imagens e entrevistas. Ainda bem! Seria péssimo assistir aos pesquisadores da Embrapa estudando em seus laboratórios.
Pão quentinho
Tem um jornal, o Brasil de Fato, que é interessante. Meio vermelho, até porque sem essa cor estaríamos na Idade Média, Brasil de Fato aborda a questão do MST, por exemplo, com muita cautela, sem aquela piedade da esquerda festiva e sem, é óbvio, a empáfia da direita. Circula em todo o Brasil, corajosamente, mas é fininho, fica apagado na banca dos jornais estelares. Para aumentar sua chama precisa da boa lenha.
A revista Trip se mantém fora do eixo estritamente comercial. Cavou um comércio próprio, digamos. Não é revista exclusivamente jovem, como parece. Traz boas entrevistas, textos para gente grande e viaja numa diagramação fora da guia pasteurizada. E talvez seja essa diagramação ousada que faz com que ela pareça uma revista de jovens; jovens de espírito!
Nadando contra a corrente só para exercitar, como cantava o Cazuza, Carta Capital deu capa, semana passada, ao Viagra e assemelhados. Primorosa matéria, que aborda o uso recreativo da droga por homens que querem turbinar o sexo. O texto é costurado com depoimentos variados e desmistifica ? mais do que na hora! ? o remédio que engorda tanto os cofres dos laboratórios. Ao contrário do que fariam suas priminhas semanais nas bancas, Carta Capital faz isso com elegância, sem promover ou condenar o medicamento. Vai mais fundo, não se arrolha e ainda coloca uma pulga atrás da orelha do leitor ao questionar as diferenças entre desejo e vontade, amor e tesão.
Quem quiser ficar perplexo diante da notícia purpurinada, congelada, siliconada, que fique. Mas não precisa, tem pão quentinho na fornalha da contracultura.
(*) Jornalista
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