CONTAS SUSPEITAS
Sidney Borges (*)
Há poucos dias o país foi surpreendido mais uma vez pela figura lendária de Paulo Maluf. O velho político apareceu sob os holofotes pela enésima vez desmentindo ter contas no exterior e atacando a insegurança do Brasil, o que segundo ele, força pessoas de bem a procurar refúgio em Paris. Sem escolha, o ex-prefeito de São Paulo passou um dia detido pelo governo francês, explicando a origem do dinheiro que diz não ter em um banco parisiense. Ele admite ter feito o depósito de pouco mais de 1,5 milhão de dólares, mas afirma que o dinheiro não está em seu nome, foi depositado em nome da mulher, Sílvia Maluf. Um terreno que Maluf recebeu do pai como herança, foi apontado como garantia da legalidade do depósito. O terreno foi herança dele, mas a conta está em nome dela.
Ele afirma jamais ter tido contas no exterior. A Justiça francesa é que foi precipitada ao convocá-lo para depor, deveriam ter chamado dona Sílvia, mas como o casal é casado em regime de comunhão de bens, ele responde por ela e ela abre contas com o dinheiro da herança dele. A maior parte do dinheiro da conta é proveniente de uma fundação misteriosa, instalada em paraíso fiscal. O beneficiário dessa fundação é o filho do casal, Flávio Maluf, que por enquanto não se manifestou a respeito ?não deve ter sido indagado?, mas sabe-se que a fundação generosa não consta de sua declaração de Imposto de Renda.
Para adicionar calor ao debate, a juíza francesa encarregada do caso diz não entender a indignação de Maluf: ele se defende sem ter sido acusado, é no mínimo de se estranhar. A Justiça francesa quer, por enquanto, saber apenas a origem do dinheiro, Maluf está livre para ir e vir, entrar e sair da França quando quiser. Numa outra fase da investigação isso poderá mudar, conforme o teor do que for apurado. Quanto à titularidade da conta, alguém está mentindo. Maluf diz que a conta não é dele, a juíza afirma que é.
Chega de conjecturas
Desde os tamoios se desconfia dos franceses nestas plagas, estaríamos frente a um complô urdido para macular a imagem do transparente homem público? Seria a juíza da tribo dos petistas franceses, que, a exemplo de seus companheiros brasileiros, passam a vida difamando a imaculada figura? Eles não perdem por esperar, serão todos processados. Terão de provar as calúnias. O gerente do banco onde a conta foi aberta que ponha as barbas de molho. O ex-prefeito afirmou na televisão que ele cometeu indiscrição e deveria ser despedido.
Uma semana depois do caso francês mais uma vez o ex-prefeito é notícia, desta vez a calúnia vem da Suíça. Jornais publicam que advogados estão tentando impedir que documentos relativos a movimentações de contas na Suíça, envolvendo o nome de Maluf, sejam enviados a São Paulo. Se as contas não existem, se não há movimentações, qual o propósito de se constituir advogados, caríssimos, por sinal, para impedir que sejam enviados documentos de sabe-se lá o quê? Mais uma vez alguém está mentindo. Suspeita-se, agora dos advogados, talvez petistas suíços.
Por enquanto tudo pertence ao campo das indagações, Maluf é inocente até que se prove o contrário, mas não se pode negar a incrível série de coincidências que o envolve. A mídia brasileira se limita a dar notas sobre o caso, quando deveria abrir editorias especializadas e ir até o fim disso. Se Maluf é inocente ou culpado só a Justiça poderá decidir, mas quando ele diz uma coisa e uma juíza de um país sério diz outra, há que se investigar.
E afinal de contas tudo isso já está cansando a todos. Chega de conjecturas, vamos aos fatos. Falta imprensa neste país: abrem-se páginas para factóides e os fatos passam ao léu. O lema é servir aos poderosos, sempre, com fervor. Há exceções, como é a regra, porém raras.
(*) Jornalista