CRÔNICAS URBANAS
A solidão vai acabar com ela ? 60 histórias de uma Brasília desconhecida, de Rogério Menezes, Versal Editores, Rio de Janeiro, 2003, 160 pp. Preço: R$ 19. Telefones: (21) 2239-1778/2239-4023; e-mail: <versal@versal.com.br>
[do release da editora]
O jornalista e escritor Rogério Menezes está lançando A solidão vai acabar com ela ? 60 crônicas de uma Brasília desconhecida, livro com 60 textos selecionados entre os mais de 800 que publicou diariamente no Correio Braziliense, entre julho de 2000 e novembro de 2002. Nas crônicas o autor desconstrói, "sem deixar pedra sobre pedra, pilotis sobre pilotis, palácio-da-alvorada sobre palácio-da-alvorada, o preconceito banal, disseminado por todo o país, de que a capital federal seria cidade fria, sem vida, árida, sem-esquinas, apenas pedaço-de-fim-de-mundo que serviria como pano de fundo do centro do poder político do país".
Pensamento recorrente, de norte a sul, de leste a oeste: nesse "lugar sem lei, onde manda quem pode, obedece quem tem juízo" onde, como diria Caetano Veloso, se concentram os "podres poderes", cometer-se-iam apenas desmandos, corrupções, falcatruas de grande porte, e outras mazelas associadas ao (mau) jeito de lidar com os bens públicos, a alegada marca registrada dos nossos governantes.
Não é bem assim. Há, de acordo com Rogério Menezes, uma outra cidade, desconhecida, escondida, invisível, à margem dessa, oficial, eventualmente corrupta, eventualmente sede de práticas políticas nem sempre nobres. Trata-se, diz ele, de cidade como outra qualquer, com esquinas, botecos, lugares que de tão lindos chegam a emocionar, lugares que de tão pobres chegam a emocionar, felicidades e infelicidades, certezas e incertezas, com homens bons e maus, enfim, com gente como outra qualquer, vinda de todo o canto e nação.
Na apresentação, o jornalista Ricardo Noblat, diretor de redação do Correio Braziliense entre 1994 e 2002, assim descreve a tentativa poética do autor de "retratar" a capital:
A Brasília do autor não existe para os cultores da exatidão factual, diga-se. E daí? Será por isso menos Brasília? Pouco importa se a Brasília onírica de Rogério existe ou existiu algum dia. Talvez tenha existido sem que ninguém, a não ser ele, a tenha percebido. Socorro-me, então, dos versos de Ferreira Gullar. A Brasília que existe em Rogério Menezes existirá em cada leitor a partir do momento que tomar contato com ela. E ao se tornar parte de nós ela passará a existir, tenha existido ou não. Rogério Menezes é o Oscar Niemeyer dessa Brasília particular ? porque dele mesmo e de mais ninguém.
No posfácio, Rogério Lima, doutor em Semiótica e professor de Teoria Literária da Universidade de Brasília, afirma:
Rogério Menezes inventa uma nova forma de olhar para o espaço urbano conhecido como Brasília, que para alguns parece ser triste, seca e visualmente repetitiva. Parece. As crônicas selecionadas revelam uma cidade na contramão das idéias pré-concebidas. Os fragmentos de cidade apresentados pelo cronista revelam que a cidade possui seus fantasmas, perversões, ilusões, mas é também um lugar de encontros, inclusive o lugar do encontro do próprio escritor consigo mesmo… Com este livro o autor se insere numa longa tradição de cronistas das mais importantes cidades brasileiras que inclui João do Rio, Rubem Braga, Clarice Lispector, entre outros.
Um dos muitos "estrangeiros" que habitam Brasília, para onde se mudou em dezembro de 1997, Rogério Menezes, baiano-paulistano-&-agora-brasiliense, decodifica talvez pela primeira vez na literatura brasileira uma cidade oculta, que a maioria dos brasileiros sequer desconfia que existe.
Rogério foi subeditor do Caderno 2 do Correio Braziliense e editor do suplemento literário Pensar. Em 2 de julho de 2000 passou a escrever diariamente a Crônica da Cidade, que ocupava espaço nobre na página 2 do jornal. Permaneceu na função até 22 de novembro de 2002. Antes foi repórter e editor de jornais e revistas de Salvador, São Paulo e Brasília. Escreveu o livro-reportagem Um povo a mais de mil ? Os frenéticos carnavais de baianos e caetanos (Scritta Editorial, 1994) e os romances Meu nome é Gal (Codecri, 1984) e Três elefantes na ópera (Record, 2001).