REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Chico Bruno (*)
O atual governo tem excelentes jornalistas na área de comunicação social. Entre os erros cometidos pelo antecessor neste setor reparou um, ao nomear porta-voz um jornalista, em vez de embaixadores, que ocuparam a função durante a quase totalidade dos oito anos de FHC. Infelizmente, repete o mais grave erro da gestão FHC, ao optar por um leigo na chefia da comunicação social. Nada contra o indicado, apenas sua inadequação para comandar um setor de vital importância para qualquer governo.
Do Fome Zero, das viagens presidenciais, passando pelo lançamento de programas e projetos, até as reformas constitucionais, tudo foi comunicado à sociedade de forma atabalhoada. Ao dispensar as tradicionais entrevistas coletivas, o governo comete os mesmos erros do anterior, o de não se comunicar de forma organizada com a mídia, para através dela expor planos e metas.
Na década de 50 era comum os governantes se comunicarem diariamente com os jornalistas credenciados nos palácios. A mídia era brifada (jargão oriundo da palavra inglesa briefing, que significa instrução, resumo do caso) pelos governantes, que expunham suas intenções. A imprensa transmitia à população a visão correta, sem atropelos, o pensamento governamental. A partir daí se iniciava o debate entre a sociedade civil e os demais poderes constituídos.
Com o advento do golpe militar de 1964, as reuniões diárias com os jornalistas foram aposentadas. No retorno à normalidade democrática, nos anos 80/90, essa saudável prática não foi retomada, embora quase cotidiana nos principais países democráticos de todos os continentes.
A lembrança das entrevistas coletivas diárias aflorou na memória em vista da discussão que tomou conta do país sobre a reforma da Previdência. Tivesse sido apresentada numa coletiva, em primeiro lugar, à mídia brasileira, chegaria à sociedade civil de maneira concatenada. Por não ter agido assim, o governo ficou durante algum tempo à mercê das versões e de declarações desencontradas dos principais atores da reforma. Ao se dar conta da confusão que se estabeleceu, o governo federal tentou remediar a falha utilizando a solução publicitária, que não é a melhor para o caso em tela, pois a propaganda não abre o dialogo entre as partes: funciona como arma de convencimento para obter o objetivo da venda. Suspensa pela Justiça, o governo simplesmente optou por deixar o barco correr à deriva.
A mídia que não foi brifada corretamente, continuou a cobrir o assunto de maneira confusa e pouco esclarecedora para a opinião pública. Insiste, até agora, em afirmar que a reforma só mexe com o servidor público, o que não é correto. Certo que mexe muito mais com o setor público do que com o privado, mas, ao elevar o teto do INSS aumenta, imediatamente, em reais, a contribuição dos trabalhadores da iniciativa privada, que passarão a receber salários líquidos menores, reduzindo, ainda mais, o poder aquisitivo desses trabalhadores.
Ao contrário dos servidores públicos, que têm como defensores uma imensa gama de parlamentares (o funcionalismo é sua base eleitoral), os trabalhadores da iniciativa privada estão desprotegidos e desinformados, principalmente porque a mídia não cumpre o papel de alertá-los: apenas explora diferença média entre as aposentarias do INSS com a dos servidores públicos, como a Veja desta semana, para criticar os privilégios dos servidores públicos do Executivo (recebem, segundo a Veja, seis vezes mais do que os do INSS), do Legislativo e do Judiciário (recebem 21 vezes mais).
Neste particular, a mídia faz o jogo que o governo quer, lançando os trabalhadores da iniciativa privada contra os servidores públicos. Tivesse o governo federal reunido a mídia em coletiva e anunciado a reforma da Previdência de maneira organizada, com farta distribuição de material explicativo, nada disso estaria acontecendo. Segundo pesquisas recentes de opinião pública, o país continua a nada entender de Previdência, muito menos da reforma constitucional.
Se este governo é de mudanças, por que não mudar o relacionamento com a mídia, fazendo retornar o que de bom existia? O custo de uma coletiva é bem mais baixo do que a nova saída encontrada pelo governo federal, de contratar uma assessoria de imprensa para tentar melhorar o relacionamento entre a imprensa e o Planalto.
(*) Jornalista