COMUNICAÇÃO
CORPORATIVA
Paulo Nassar (*)
O container organizacional, que é constituído principalmente
pela suas instalações físicas e logística,
pode ser uma grande barreira para a comunicação corporativa
eficaz ? e incluo nesse pacote a comunicação interna.
Para pensarmos sobre essa relação entre comunicação
e container é útil assinalar que a arquitetura da
maioria das empresas, assim como os seus processos e equipamentos,
foi pensada em um tempo em que os músculos e a força
(e não a comunicação e os relacionamentos públicos)
eram os elementos mais importantes de um mundo governado somente
pela produtividade.
A administração focada em funções de
trabalho sempre teve como reflexo escritórios e fábricas
que lembram o desenho de colméias, com poucos vasos comunicantes
e muito destaque para paredes espessas, que impedem a visão
do que acontece fora de seus territórios. O que era (e ainda
é) importante para esse tipo de gestão é que
os trabalhadores ficassem literalmente com os seus narizes, olhos
e mãos enfiados no que interessa: a produção
em grande quantidade de produtos e serviços.
É fácil entender, então, por que nesse tipo
de ambiente produtivo o desenho de prédios e de processos
procurava o menor caminho entre dois pontos, a reta, a maior velocidade,
e afastava da sua concepção tudo aquilo que pudesse
levar à dispersão dos trabalhadores ou às mensagens
complexas, que estimulavam a inteligência, a criatividade
e a combatividade no árido e desinteressante mundo do operário-padrão
ou do homem-boi (empresto esta abominável expressão
de Taylor).
Apêndice barroco
E como ficam os processos de relacionamento e de comunicação
nos ambientes de trabalho da pós-modernidade? Ambientes constituídos
de fábricas e escritórios que se integram na paisagem
? ou a refletem num jogo teatral que esconde processos agressivos
ao ambiente ou às comunidades assentadas nos limites geográficos
dos negócios. Pensem, por exemplo, nos containeres das empresas
metalúrgicas, de papel e celulose e petroquímica,
entre outras. Não é incomum encontrar instalações
cheias de chaminés, filtros e tubos entre belíssimos
bosques e jardins.
Ainda na seara da produção brasileira moderna ? apesar
das simpáticas (muitas vezes demagógicas) retóricas
da "melhor empresa para se trabalhar" e da "importância
do capital humano da empresa" e da "responsabilidade social"
?, é preciso reconhecer que, mesmo nas fábricas tecnologicamente
reestruturadas e até arquitetonicamente avançadas
e cheias de transparências, o que ainda interessa para a gestão,
tal qual nas fábricas antigas, são apenas os resultados,
as quantidades produzidas.
Nesses ambientes produtivos, o trabalhador operacional, cada vez
mais expulso para o segmento de serviços ou para o desemprego,
é um apêndice barroco em suas arquiteturas e processos
futuristas. Nas fábricas e escritórios onde as paredes
de tijolos e de materiais opacos foram substituídos pelo
vidro e pelos grandes espaços vazios, que lembram os ambientes
de modernos museus, a lógica produtiva e existencial é
quase sinônimo de controle de quem faz, como faz e quanto
faz.
A comunicação interna corre o risco de se transformar
numa espécie de Big Brother organizacional, que controla
tudo e todos. E as áreas de comunicação e recursos
humanos assumem a função de roteirizar o que é
medíocre, sem um ideário sustentável, que reduz
o público interno a um exército de bonecos que, como
no programa de televisão, às vezes é gratificado,
às vezes, punido.
(*) Jornalista, presidente-executivo da Associação
Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), escritor,
professor do GESTCORP-USP, da Faculdade de Comunicação
Social da Cásper Líbero, da Uniban, da Universidade
Corporativa da Petrobras e da Boston School