Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plínio Bortolotti

‘Em texto recente a respeito do grande aumento da concentração da propriedade das empresas de comunicação, Ignacio Ramonet, diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, defende que se crie um ‘quinto poder’, pois, para ele, a mídia vem deixando de ser o ‘quarto poder’, isto é, um contrapoder em relação ao Execuvivo, Legislativo e Judiciário. O quinto poder seria formado pela ‘força cívica cidadã’, e teria como objetivo denunciar o ‘novo superpoder das grandes indústrias midiáticas, vetores e cúmplices da globalização’.

Mesmo a ‘revolução digital’ – que muitos vêem como uma saída para tornarem mais democráticos os meios de comunicação – foi capturada pelas grandes empresas, segundo ele. Para Ramonet o rompimento pela internet das fronteiras que separavam a escrita, o som e a imagem, permitiu às empresas agruparem, além dos meios de comunicação tradicionais (jornal, rádio e televisão), também ‘o que poderíamos chamar de cultura de massas, com sua lógica comercial’ e que tudo está submetido aos interesses comerciais e políticos da globalização. (Estudiosos do assunto apontam que todos os bens culturais e a informação mundial são produzidos e controlados por cerca de dez grupos transnacionais, entre eles estão General Electric-NBC, AT&T-Liberty Media, Disney, AOL-Time Warner, Sony, News Corp., Viacom, Seagram & Bertelsmann, seguidos por cerca de 50 grupos regionais.)

Ramonet pergunta: ‘Como resistir, reagir frente ao que foi durante muito tempo o único poder dos cidadãos (a imprensa) em oposição aos poderes dominantes? Como resistir frente à ofensiva deste novo poder que, em certa medida, traiu os cidadãos passando para o lado do adversário?’ E responde: ‘Os cidadãos devem se mobilizar para exigir que os meios pertencentes a esses grandes grupos tenham respeito elementar à verdade, porque a verdade é a base da legitimidade da informação.’ Para ele, essa organização das pessoas seria o ‘quinto poder’.

O diretor do Le Monde Diplomatique não perdoa nem mesmo os ombudsmans: ‘A função dos mediadores, que foi útil nos ano 1980 e 1990, hoje está mercantilizada, desvalorizada e degradada. Com freqüência, é instrumentalizada pelas empresas, responde exclusivamente aos imperativos da imagem ou constituem uma medida de baixo custo, destinada a reforçar artificialmente a credibilidade do meio.’

Deve-se questioná-lo, pode-se discordar de alguns pontos, mas o artigo ‘O quinto poder – A sociedade frente aos meios de comunicação de massa na era da globalização’, apresentado na 5ª Conferência Ibero-Americana de Comunicadores, vale a pena ser lido. Está, em espanhol, no sítio do Clube de Jornalistas, de Portugal: (http://www.clubedejornalistas.pt/DesktopDefault.aspx?tabid=680). Ignacio Ramonet é um dos fundadores do Fórum Social Mundial (encontro anual de militantes socialistas e críticos da globalização) e autor do livro A Tirania da Comunicação, em que aborda temas correlatos ao artigo comentado.

Quem lê tanta notícia?

‘O sol nas bancas de revista/me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia?/ Eu vou…’ (Caetano Veloso). Esta Copa do Mundo na Alemanha é, sem dúvida, a que mais gera notícias entre todas as que já foram jogadas: textos, fotos e imagens em movimento. É a primeira com a presença expressiva dos blogs, que se contam às dezenas (de jornais e jornalistas) e às centenas, os de iniciativa de torcedores e curiosos. Os jogos podem ser acompanhados ao tempo em que ocorrem pela TV, pela internet, pelo rádio e nos telefones celulares. Pelas contas da Fifa, em torno de quatro bilhões de pessoas assistem aos jogos em cerca de 200 países, informações transmitidas por aproximadamente 15 mil jornalistas. Mas, a partir de certo do momento do dia, não parece que se vê uma eterna reprise? Qual a diferença dos jornais do meio-dia e os de fim de noite? Os impressos conseguem trazer alguma novidade no dia seguinte? Nenhuma informação é péssimo, pouca é ruim, mas o excesso pode também se transformar em não-notícia, uma soma que corre o risco de resultar em zero. Se em 1967 Caetano Veloso admirava-se com ‘tanta notícia’, em ‘Alegria, alegria’, o que ele diria hoje?

‘Torcedor não tem opinião própria’

Na semana passada escrevi sobre o poder dos meios de comunicação em pautarem os temas que monopolizam a preocupação e o debate entre as pessoas, a chamada Agenda Setting. Se os meios de comunicação podem impor os temas sobre os quais as pessoas falam, não têm o poder de determinar a opinião delas, anotei. Nesta semana, em uma entrevista ao portal Terra, o técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, abordou tema análogo, mas para ele, a mídia tem também o poder de determinar como as pessoas devem pensar sobre determinado assunto. O treinador chega a fazer uma imagem depreciativa do torcedor de futebol, pois lhe atribui pouca capacidade discernimento frente aos desígnios da mídia. Veja o trecho da entrevista no qual lhe perguntam qual a imagem que o público faz dele.

Terra – Como é que você acha que o torcedor do Brasil vê você?

Parreira – Eles vêem da maneira que vocês descrevem.

Terra – E como é você que a gente te descreve?

Parreira – Se vocês descreverem bem, eles vão ver bem. Veja, o torcedor não tem opinião própria. Vamos voltar àquele assunto recorrente: torcedor é o que ele ouve, é caixa de ressonância. Torcedor não tem opinião própria. Se você disser que está tudo bom, ele vai dizer que está tudo bom. Se você disser que está tudo ruim, ele vai dizer que está tudo ruim.

Justiça seja feita, na balbúrdia que se vê na cobertura do mundial, sob tremenda pressão da imprensa, Parreira mantém o equilíbrio. Ele parece não estar entre aqueles que se deixam influenciar pela mídia. A íntegra da entrevista pode ser lida aqui