Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os algozes de Zahra

VIOLÊNCIA CONTRA JORNALISTAS

Hoje já é indiscutível que a fotojornalista Zahra Kazemi, cidadã canadense e iraniana, morreu em conseqüência de espancamentos a que foi submetida depois de ser presa, em 23/6, quando fotografava manifestações estudantis em frente a uma prisão em Teerã, no Irã. Mas, segundo artigo da revista britânica The Economist [31/7/03], duas perguntas continuam no ar.

Em primeiro lugar, qual das agências que a interrogaram ? o gabinete do procurador, o Ministério da Inteligência ou a repartição da inteligência da polícia ? foram responsáveis pela agressão fatal? Javad Ismaili, juiz da corte criminal no comando da investigação, diz que membros das três agências estavam entre as cinco pessoas cuja detenção foi anunciada em 26/7.

A segunda pergunta envolve o linha-dura Saeed Mortezavi, procurador de Teerã que ordenou a prisão da fotógrafa e que, em off, se gabou de arrancar a confissão de Zahra. A questão é em que níveis Mortezavi conduziu a prisão. Ele já foi identificado como um dos interrogadores de Zahra, e um representante reformista acusou pessoas de seu gabinete de bater na jornalista. Além disso, Mortezavi é líder da campanha para amordaçar a imprensa reformista do Irã e prender seus representantes.

Para a Economist, porém, o míssil de maior estrago foi disparado por Muhammad-Hossein Khoshvaght, líder do departamento de mídia estrangeira do Ministério da Cultura. No dia 23/7, Mortezavi acusou Khoshvaght de causar furor sobre a causa da morte de Zahra. No dia seguinte, os jornais imprimiram uma carta em que Khoshvaght acusa o procurador-geral de o pressionar ao anunciar que Zahra tinha morrido de derrame cerebral e de ameaçar processá-lo por ser cúmplice da "espionagem" da fotógrafa. Khoshvaght também acusa Mortezavi, indiretamente, de mentir ao público sobre o caso. A menos que o procurador seja conspicuamente exonerado, será difícil a linha-duras do judiciário confiarem nele novamente.

Com histórico de fechamento de cerca de 80 publicações e prisão de mais de uma dúzia de jornalistas, Mortezavi é conhecido pelas ameaças que faz a famílias de suspeitos a fim de obter confissões forçadas.

De qualquer forma, a história de Zahra, apesar de não trazer grandes melhoras no tratamento a jornalistas no Irã, pode tornar mais difícil o espancamento fatal de jornalistas em prisões no Oriente Médio, segundo a ONG Rep&ooacute;rteres Sem Fronteiras.

A presidenta da Indonésia Megawati Sukarnoputri, conhecida como defensora da democracia na época da ditadura de Suharto, pode estar cansada do excesso de liberdade em seu país. O jornalista Supratman (na Indonésia é comum as pessoas terem apenas um nome), editor do tablóide Rakyat Merdeka? pode ser condenado a seis anos de prisão graças a uma lei da época colonial que proíbe "insultar o presidente".

Ele publicou matérias em que Megawati era chamada de canibal e parasita. O jornalista alega que elas saíram numa época em que havia protestos porque haviam sido anunciados planos de aumentar o preço da eletricidade, dos alimentos e dos combustíveis. A presidenta e seu marido são donos de postos de gasolina.

Supratman disse à AP [5/8] que teme que lhe seja dada uma pena exemplar para que outros jornalistas fiquem com medo de criticar o governo.

O Comitê para Proteção de Jornalistas [5/8] publicou nota lamentando a condenação de jornalistas marroquinos por "exaltação de atos que incluem terrorismo".

Mohammed al-Herd e Abdel Mejid Ben Taher, editores do semanário Al-Sharq, e Mustapha Qashnini, editor do semanário Al-Hayat al-Maghribiya, foram processados pelo governo porque publicaram em seus jornais texto de Zakariya Boughara, militante do grupo islâmico Salafiyya Jihadia, acusado de ser o responsável por atentado suicida que matou 44 pessoas em Casablanca em maio.

No artigo, que saiu no Al-Sharq antes do ataque, Boughara critica o serviço de inteligência marroquino, acusando-o de fazer o "serviço sujo" da CIA americana. A pena de al-Herd, que já está preso, é de três anos. Ben Taher e Qashnini pegaram um ano prisão, mas ainda podem recorrer. As duas publicações foram suspensas por três meses.