ROBERTO MARINHO (1904-2003)
Luiz Antonio Magalhães
A morte do empresário Roberto Marinho não foi noticiada corretamente por nenhum dos mais importantes veículos de comunicação do país, à exceção talvez de O Globo. É o que se pode depreender do festival de cartas enviadas às redações por Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação.
Folha de S.Paulo, Veja e Época foram alguns dos veículos que publicaram os pedidos de retificação de Erlanger, em geral versando sobre fatos controversos na trajetória do jornalismo da TV Globo.
Não chega ser um espanto que o diretor da CGC tenha saído a campo para defender a história oficial da Globo e, por tabela, a memória do ex-patrão. São ossos do ofício. Chocante mesmo foi ele ter sido obrigado à constrangedora tarefa de enviar os pedidos de correção à redação da revista Época, publicação da Editora Globo. O mais surreal é que não se tratava de retificar pequenos erros sobre a biografia do falecido, que poderiam ter ocorrido na pressa do fechamento. A carta de Erlanger ocupa uma página inteira da última edição da revista (veja a íntegra do texto na rubrica Entre Aspas, nesta edição) e diz respeito ao conteúdo político do caderno especial dedicado a Roberto Marinho que Época produziu.
Duas passagens da reportagem sobre a TV Globo no caderno especial mereceram contestação detalhada de Erlanger. De acordo com Época, a emissora "era vista como um prolongamento do braço poderoso do grupo Time-Life, com o qual fora assinado acordo para assistência técnica e transferência de know-how, desfeito alguns anos depois da fundação da TV Globo". Outro trecho afirmava que "a Globo poderia criar e derrubar presidentes, privilegiar ou ignorar coberturas jornalísticas. Foi justamente contra esse poder que a população saiu às ruas, em 1984, para protestar. ?O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo?, foi o slogan mais repetido na campanha pelas eleições diretas, que comoveu o país naquele ano, mas não empolgou a rede. A Globo demorou para cobrir os comícios e foi duramente criticada pela omissão".
O executivo da TV Globo se viu então obrigado a explicar ao "redator" da matéria, como ele mesmo qualificou o responsável pelas informações publicadas no caderno especial sobre a morte de Marinho, que "a TV Globo jamais se sentiu com poderes para criar ou derrubar presidentes, tampouco agiu nesse sentido"; e que "a TV Globo jamais privilegiou ou ignorou coberturas jornalísticas". Escreveu ainda que "o povo não saiu às ruas em 1984 para protestar contra a TV Globo; saiu para exigir eleições livres para a Presidência da República"; e que "a Globo não demorou um minuto sequer para cobrir a campanha pelas eleições diretas".
A carta de Erlanger foi publicada sem qualquer explicação por parte da revista a respeito dos fatos por ele relatados.
Ao fim e ao cabo, o leitor de Época fica sem saber se continua confiando nas informações que o semanário ofereceu sobre o falecido proprietário da editora responsável por sua publicação ou se deve crer na peroração do executivo da TV Globo. De outra ótica, os desencontros mostram que sem dúvida anda faltando sinergia entre as empresas da Organizações Globo. Talvez Roberto Marinho já esteja fazendo falta…