Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Caneladas da Folha

MÍDIA ESPORTIVA

Fernando Campos (*)

O que torna um jornal respeitável e digno de confiança por parte do leitor? Isenção e correção no trato da notícia. No caso da imprensa esportiva esses dois requisitos, ao que parece, são desconhecidos nas redações. Há pouco tivemos o exemplo da "morte" de Sílvio Santos, e a imprensa não tirou lições do humilhante episódio.

Como classificar a "bomba" promovida pelo caderno de esportes da Folha de quinta-feira, 14/8? A "bomba" em questão seria a suposta escalação, por parte do Santos F.C., do jogador Jerry. Essa escalação seria irregular, pois o jogador teria sido inscrito no campeonato fora do prazo previsto pela CBF, e o Santos, segundo a Folha, perderia 10 pontos por ter usado o jogador irregularmente contra Fluminense, Vasco, Goiás e Paraná.

Ora, se há fatos é dever da imprensa checá-los e cumprir seu compromisso com a notícia. Mas é aí que a Folha se perde. Já na noite de quarta-feira, 13 de agosto, ao fim do jogo Santos x Internacional, chega a notícia de que o Santos poderia perder os pontos obtidos na vitória sobre o Paraná Clube por conta da escalação do atacante Val Baiano. Essa informação saiu no Diário de S.Paulo, sem estardalhaço, apenas uma nota. Para a Folha, ao contrário, o jogador irregular era Jerry, e o jornal fez disso razão de "ampla" cobertura, em típico tratamento sensacionalista na chamada da notícia.

Mas a questão é a seguinte: quem seria, afinal, o tal jogador irregular? Jerry? Val Baiano? Difícil saber pelo jornal. Apenas quem não acompanha futebol ignora que Jerry está no time da Vila Belmiro desde as categorias juvenis, e vem jogando regularmente pelo time do Santos neste ano de 2003.

Há muito, porém, a imprensa esportiva não prima pela credibilidade. Todos os vícios que a chamada imprensa grande procura esconder ficam expostos na mídia esportiva. Principalmente quando os campeonatos de futebol estão parados, no fim e no meio do ano, dando margem a especulações que fariam concorrência invejável às revistas semanais de fofocas. No campeonato brasileiro do ano passado, o sítio Terra, em sua seção de esportes, chegou a vender Robinho, estrela do Santos F.C., ao futebol alemão. O jogador Kaká, do São Paulo F.C., foi tantas vezes vendido que já fez um tour virtual por países europeus. O meia Diego, também do Santos, já foi vendido, já teve caso com modelo famosa, já foi chamado de "mascarado" em plena TV no programa de um incensado "comentarista" de São Paulo…

São exemplos das barbaridades cometidas pela imprensa esportiva paulistana, cujas "fontes" nunca são checadas, e seus cronistas são, na maioria, nada além de palpiteiros de boteco. No caso da Folha com a "bomba" da semana, fica caracterizada a total falta de sintonia com o assunto que o jornal mesmo inventou. Logo na noite de quinta-feira, 14/8, a CBF ? aliás, a entidade que deveria ter sido ouvida desde o início em relação ao caso ? garantiu que os jogadores Jerry e Val Baiano estão com a documentação em dia e que o Santos não perderá pontos no campeonato.

O que fica desse episódio lamentável? Perguntas cruciais.

Quem plantou a notícia?

Qual o objetivo?

E a verdade?

(*) Professor em Salvador, BA