ENTREVISTAS DO PRESIDENTE
"Lula se expõe na mídia para reagir a desgaste", copyright Folha de S. Paulo, 19/8/03
"A maior ofensiva de imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que tomou posse, com entrevistas a jornalistas, é fruto de cálculo político. Lula aguardou um fato positivo de peso, a aprovação em primeiro turno na Câmara da proposta de reforma da Previdência, para tocar questões que aceleraram o desgaste do governo nos últimos dois meses.
Das questões incômodas, quatro se destacaram, na avaliação do Planalto: 1) imagem de leniência em relação ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra); 2) o temor do mercado em relação a uma eventual perda de força de Antonio Palocci Filho (Fazenda); 3) a queda do investimento estrangeiro direto, atribuída pelo governo a dúvidas em relação ao modelo de agências reguladoras; e 4) o custo político inesperadamente alto, com desgaste no funcionalismo público e no Judiciário, para aprovar a reforma da Previdência.
Segundo avaliação do Planalto, a união dessas dificuldades levou o governo a viver seu momento de maior dificuldade entre meados de junho e o início deste mês, quando foi aprovado em primeiro turno na Câmara o texto principal da reforma da Previdência.
Transmitiu-se, nesse período, uma imagem de ameaça de perda de controle político e de ineficiência gerencial, crê o governo.
Ofensiva
Com a aprovação da reforma, Lula e sua equipe de comunicação decidiram que era a hora de uma ofensiva de mídia.
Foi nesse contexto que Lula, depois de fazer, na quinta-feira, pronunciamento de 11 minutos em cadeia nacional de rádio e TV, optou por conceder entrevistas exclusivas (à ?Veja? e ao ?Fantástico?, da Rede Globo), bem como por receber um grupo de jornalistas amanhã, em Brasília.
Com auxiliares, elaborou-se um roteiro de temas incômodos que o presidente deveria abordar. Pesquisas do próprio governo revelaram desaprovação ao aumento de invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e ao tipo de reforma agrária defendida pelo movimento.
Nas entrevistas, Lula disse não concordar com o tipo de reforma agrária pregada pelo MST e afirmou, no ?Fantástico?, que ela não será feita ?na marra?.
Servidores
Pesquisas ainda acusaram desgaste na batalha para aprovar a reforma da Previdência. Lula foi chamado de ?traidor? por servidores públicos, também aliados históricos do petismo. Nas entrevistas, Lula defendeu a reforma como garantia de aposentadoria futura para os trabalhadores.
A advertência na revista ?Veja? de que perderá quem apostar contra Palocci e a imagem no ?Fantástico? do ministro caminhando de manhã com Lula no Alvorada foram reafirmação do poder do titular da Fazenda.
Segundo apurou a Folha, o presidente e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, avaliaram que uma eventual queda de Antonio Palocci Filho geraria uma crise cambial imediata.
Por último, Lula falou que anunciará em breve o chamado ?marco regulatório?. Serão divulgadas diretrizes suavizando as críticas do governo às agências reguladoras e reafirmando o compromisso com regras claras para investimentos.
Será uma correção a ataques de Lula às agências -há poucos meses, ele disse que o Brasil havia sido ?terceirizado?."
"Momentos de indecisão", (excerto ?Queda acentuada?), copyright O Estado de S. Paulo, 19/8/03
"Pesquisa de opinião encomendada pelo Planalto mostra que a figura do presidente continua preservada, com um decréscimo de 2 a 3 pontos porcentuais. A avaliação do governo como um todo, no entanto, sofreu uma queda de 20 pontos nos últimos 30 dias.
Sinal de alerta auto-explicativo para a recente ofensiva de exposição do presidente, com pronunciamento à Nação, entrevistas à Veja e ao Fantástico e, amanhã, uma conversa com dez jornalistas de diários.
Uma tentativa de capitalizar, para o governo, a boa imagem do presidente."