MIS REABERTO
"Preciosidades da TV agora ao alcance de todos", copyright O Estado de S. Paulo, 18/08/03
"Na sua primeira gestão como diretor do Museu da Imagem e do Som, no biênio 1993-95, Amir Labaki tentou criar um projeto de TV para o MIS, convencido de que o museu não podia ficar alheio à importância que a televisão possui no País. Por vários motivos, o projeto não foi adiante.
Amir, agora de volta à direção do MIS, já anunciou que sua nova gestão pretende investir bastante na área de TV. Mas ele adverte: ?Não pretendo transformar o MIS num museu de TV. Ele continua sendo o Museu da Imagem e do Som, trabalhando com a memória de todas as mídias associadas a esses elementos. Não tenho condições de criar aqui um museu de rádio e TV como o de Nova York, mas vamos investir bastante nessa área.?
Os primeiros esforços serão evidentes a partir de hoje, quando o MIS estará sendo devolvido ao público de São Paulo. Às 20 horas, a reabertura se dará por meio de dois eventos: a mostra Nas Lentes de ?O Cruzeiro?: Os Dois Brasis de Henri Ballot, que reavalia o trabalho do fotógrafo na revista, e a videoinstalação Versus, de Tadeu Jungle, cujo tema é futebol. A partir de amanhã, às 19 horas, prepare-se: a mostra Televisão Paulista: 1965-2000 vai resgatar momentos importantes da história da TV brasileira.
São verdadeiras preciosidades, garimpadas por Daniela Wasserstein, que coordena o setor de audiovisual do MIS, e Adriana Medina, que coordena documentação e pesquisa. Trabalharam em parceria com o crítico e professor Gabriel Priolli na seleção de cenas dos programas Jovem Guarda, Abertura, Vox Populi, capítulos de novelas como Beto Rockefeller e Os Imigrantes, episódios das séries Malu Mulher e TV Mulher e também dos infantis Vila Sésamo e Rá-Tim-Bum, até uma montagem para TV de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, dirigida por Antunes Filho. Para o público jovem, acostumado a ouvir a lamentação sobre a falta de memória da TV no País, serão autênticas descobertas. Os melhores momentos da Jovem Guarda, na antiga Record, começam com Martinha cantando Eu Te Amo Mesmo Assim, seguida do Rei Roberto Carlos com Lobo Mau (e depois Eu Sou Terrível), Erasmo Carlos com Ave-Maria, Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo e Devolva-me, esta última em parceria com Wanderléa, que também canta o cult Pare o Casamento.
Fãs talvez se surpreendam com o Rei, que canta Lobo Mau vestido no melhor estilo hippie da época. É um Roberto bem diferente do atual, que virou carola e renegou seu tempo de mandar tudo para o inferno. As preciosidades prosseguem com o Abertura, que foi ao ar entre 1979 e 80, na Tupi. Era apresentado e dirigido por Glauber Rocha, o profeta do Cinema Novo, que desenvolveu na televisão um ousado projeto de metalinguagem. Vox Populi, na Cultura, foi ao ar até 1986, tendo contribuído bastante na luta por liberdades democráticas. E há um Panorama, datado de fevereiro de 1977, no qual Júlio Lerner entrevista uma Clarice Lispector tão genial quanto mal-humorada. O museu tem depoimentos orais de diversas personalidades que contam a história da TV. Todo esse material está aberto à pesquisa dos interessados. E Amir propõe-se a lutar para que o MIS tenha pelo menos um registro de todos os momentos significados da TV no País.
A programação de reabertura tem também música e cinema, em duas homenagens.
Adoniran Barbosa, o criador de Trem das Onze, o compositor que tinha a cara de São Paulo, será lembrado no show Cantando Adoniran, com os Demônios da Garoa, Max de Castro e Vanessa da Mata, na quinta-feira, às 20h30. Os 50 anos de O Saci, que Rodolfo Nanni adaptou de Monteiro Lobato, também serão lembrados, no sábado, às 15 horas. No domingo, às 20 horas, o seminário Memória, Imagem e Som vai debater os desafios contemporâneos para quem trata do assunto. É uma bela programação. E será apresentada num MIS que volta de cara nova, com total reformulação dos seus espaços internos.
Reabertura do MIS. Hoje, às 20h30, cerimônia de abertura com a mostra ?Nas Lentes de O Cruzeiro: Os Brasis de Henri Ballot? e a videoinstalação ?Versus?, de Tadeu Jungle. Visitação: de terça a domingo, das 14 às 22 horas. MIS. Avenida Europa, 158, tel. 3062-9197. Até 26/8"
TV MURO
"TV Muro, a menor do mundo, agora é parceira da TV Senac", copyright O Estado de S. Paulo, 18/08/03
"A TV Muro, idealizada pelo mineiro Francisco Dario dos Santos, o Chiquinho, um aficionado por televisão, dá mais um passo em sua humilde caminhada. Anunciada como a menor do mundo – pode ser assistida em apenas 10 domicílios e pela vizinhança que se aglomera em frente à casa de Chiquinho, na cidade de Sabará, Minas Gerais -, a TV Muro ganha um importante parceiro, a STV Rede SescSenac de Televisão. Agora, além do único programa produzido por Chiquinho e sua equipe, o Jornal Legal, a TV vai transmitir programas educacionais e documentários, cedidos pela STV.
O termo de cooperação foi assinado em julho e prevê uma troca de conteúdo.
?A intenção é proporcionar um intercâmbio de programação. O Chiquinho é muito criativo e precisamos valorizar, na prática, iniciativas como essas?, diz o diretor de programação da STV, Robson Moreira. ?Desta forma, permitimos que todo o Brasil conheça as peculiariedades de outras regiões?, destaca. A STV é transmitida via cabo pela Net e via satélite pela DirecTV, Sky e TecSat.
Segundo o diretor, a STV já enviou para a TV Muro algumas séries produzidas pela emissora, como O Mundo da Arte, Balaio Brasil e Fragmentos. O próximo lote de documentários a ser enviado para Sabará terá Raízes Brasileiras, O Mundo da Fotografia e Filhos, um programa sobre crianças e adolescentes. São programas curtos, de em média 20 minutos, para atender ao espectador da TV Muro, que normalmente assiste à TV em pé, na frente da casa de Chiquinho.
A parceria parece já estar rendendo frutos. ?O Chiquinho me ligou e disse que está sendo o maior sucesso?, ressalta Moreira. Por enquanto, o pessoal da TV Muro ainda não enviou nenhum material para a STV. ?Eles estão preparando um documentário especial sobre as lendas de Sabará e devem nos mandar até o próximo mês?, explica o diretor. O programa da TV Muro deve ir ao ar em outubro, pela STV.
Doações – A TV Muro foi montada em 1997. Na época, Chiquinho tinha uma câmera VHS, um videocassete, uma TV preto e branco e um link que encontrou sucateado no lixão próximo de sua casa.
Gravava seu programa e mostrava para os vizinhos, na Rua São Francisco, em um aparelho de TV colocado em cima do muro de sua casa. Recentemente, ele conseguiu ?ampliar? seu alcance para mais dez casas vizinhas.
Depois de ?descoberto? pela mídia, Chiquinho começou a receber doação de alguns equipamentos e hoje tem até uma equipe – um cameraman, uma repórter, uma produtora e um editor – para produzir o único programa da TV, o Jornal Legal. O cenário é montado em um cômodo de sua própria casa. ?É um dom?, acredita Chiquinho. ?A gente não pensa em crescer com ela, mas crescer nela.?"